Jess Lockwood se junta aos seus heróis

Jovem norte-americano de 22 anos conquistou o bicampeonato mundial da PBR no último dia 10 de novembro em Las Vegas

O recém-consagrado bicampeão mundial Jess Lockwood sentou-se dentro do vestiário vazio da T-Mobile Arena logo após a conquista. Fazia poucas horas que tinha entrado para o livro dos recordes da PBR. Com a adrenalina baixando, estava sem palavras.

Um contraste, afinal, de dois anos atrás, quando o ainda mais jovem cowboy, aos 20 anos, entrou eufórico no vestiário. Havia acabado de conquistar seu primeiro título mundial. Sentou exatamente no mesmo banco, enxugando as lágrimas dos olhos com um sorriso inabalável. Dava o primeiro passo para a conquista de vários sonhos.

O segundo título de Lockwood é mais histórico do que simbólico para o garoto de uma cidade tão pequena e rural como Volborg, em Montana. Com toda uma carreira pela frente, o rapaz colocou seu nome ao lado dos maiores de todos os tempos. São dois títulos mundiais em quatro anos que atua como profissional da PBR.

Lockwood é apenas o sexto atleta da história da associação a ganhar mais de um título mundial. Sobretudo, ele ocupa agora o sexto lugar no total de ganhos – US$ 3.918.473,66.

Ainda vivendo um momento de emoção, não sabia como expressar o que sentia. “Existem tantos que conquistaram o título mundial, porém os que são mais lembrados são os que superam essa marca. E agora estou ao lado do meu herói de infância, Justin McBride. É algo até então impensável para mim”.

No livro dos recordes da PBR, Jess Lockwood se junta aos seus heróis

Galeria de múltiplos vencedores

Lockwood tinha 4 anos quando Adriano Moraes, aos 31 anos, se tornou o primeiro campeão mundial da PBR a vencer dois campeonatos. Dois anos depois, Lockwood com 6 anos, e Chris Shivers, de 24, ganhou sua segunda fivela de ouro. Shivers foi o primeiro a ganhar o bônus de um milhão.

Anos depois, Lockwood já com 10 anos, foi a vez de Justin McBride, com 28 anos na época, gravar seu nome nos livros de recordes da PBR. Carimbou seu segundo campeonato mundial em 2007. “Para mim, McBride é o melhor de todos os tempos”.

Em 2012, o brasileiro Silvano Alves se tornou o primeiro bullrider da história da PBR a vencer dois campeonatos mundiais consecutivos. Lockwood tinha então 15 anos – um calouro da Volborg High School. Logo após, conquistaria o título estadual de luta livre e o título escolar em Montaria em Touros pela Montana State High School.

Em seguida veio J.B. Mauney, enquanto Lockwood estava no ensino médio. Conquistando touros com os nomes de Bushwacker, Asteróide, Long John e SweetPro’s Bruiser, levou o mundial em 2013 e 2015. Mauney tinha 28 anos quando ganhou sua segunda fivela.

“Não tenho muito o que falar desses cinco caras. Mas sei que tenho anos pela frente e espero aumentar esse recorde. Estou a caminho”.

Um novo legado

Jess Lockwood se juntou ao mesmo tempo a Silvano e Mauney como os únicos vencedores da etapa final Las Vegas e de mais de um título mundial. De fato, a performance do jovem bullrider esse ano o coloca ainda na seleta lista de campeões mundiais que ganharam o título e a etapa no mesmo ano. Isso se repetiu apenas com Mike Lee (2004), Renato Nunes (2010), Mauney (2013), Silvano (2014) e agora com Jess (2019).

“Esse foi um dos meus maiores objetivos além de um título mundial. Não sabia se quando tivesse com dez anos de carreira teria esse feito no meu currículo. Portanto, fazer isso em apenas quatro anos é sensacional”.

Para chegar ao título, o campeão sabia que teria que ser muito mais consistente esse ano do que foi na final de 2017. Dois anos atrás, ele parou em três dos seis bois e levantou a taça. Teria que fazer mais para superar José Vitor Leme. Precisaria montar todos os touros e ganhar a etapa.

Foi o que ele fez, ou quase. Cinco paradas em seis touros, mas que deram a ele o título da etapa e os pontos necessários para ultrapassar o brasileiro no ranking geral. Acima de tudo, entrou na disputa com um José Vitor totalmente energizado após vencer o título da segunda divisão.

As chances eram pequenas, Leme parecia imparável e estava quase 800 pontos à frente, mas Jess não desistiu. E isso é algo que torna o título dele histórico.

No livro dos recordes da PBR, Jess Lockwood se junta aos seus heróis

Embate

“Eu estava muito nervoso antes de tudo começar, mas assim que o portão se abriu pela primeira vez, me senti relaxado”. Foram 2265 pontos conquistados em cinco dias, colocando mais de 850 à frente de Leme no fechar das cortinas.

O tricampeão mundial pela PRCA e campeão da final da PBR em 1999, Ty Murray analisou Jess: “Ele apresentou uma das melhores histórias dos últimos tempos. Estava confiante. Os dois são fantásticos, Jess e José Vitor. Mas sempre há um só que ganha”.

Durante as finais, Ty Murray e uma turma começaram a comparar o confronto de Lockwood e Leme com o da rivalidade de três anos entre JB Mauney e Silvano Alves. Inesperadamente, os dois foram forçados a ficar fora dessa final. Mas estavam lá assistindo.

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Silvano e Mauney haviam sido – antes de 2019 – os dois últimos a disputar títulos mundiais memoráveis ​​e significativos. Depois de dois títulos consecutivos (2011 e 2012), a sequência de Silvano foi parada por Mauney, que levou em 2013.

Em seguida, Silvano voltou a ser praticamente impecável e conquistou seu terceiro título em 2014. Para, no ano seguinte, ser a vez novamente de Mauney.

Trajetória em 2019

Logo após ter começado a temporada ganhando e liderando o ranking, Lockwood quebrou a clavícula em fevereiro. Passou três meses parado e quando voltou havia perdido a liderança para José Vitor.

Nesse hiato, o campeão do mundo manteve a determinação, confiança e compromisso. Nunca foi uma opção desistir de buscar o título. E ele ‘correu’ atrás. Montou nas etapas de acesso enquanto a PBR fazia o recesso de verão. Conquistou diversos pontos. Quando divisão principal voltou, ele estava afiado e de volta ao topo do ranking.

Em números, foram 44 montarias válidas em 65 – 67,69% de aproveitamento. Com cinco vitórias em etapas e quatro vitórias em 15/15 Bucking Battle. Ele também estabeleceu um recorde de ganhos para uma única temporada: US$ 1.873.731,80 em todos os níveis de competição. Foram também 14 montarias na casa dos 90 pontos, a quarta maior média de todos os tempos.

Sua porcentagem de aproveitamento é a mais alta de um campeão mundial desde que Silvano conquistou 69% em 2011 por 69 montarias válidas em 100.

Contudo, o ponto crucial de toda essa caminhada, na visão dele, foi quando parou em Heartbreak Kid para 93,75 pontos na etapa de Greenboro. E depois, na última etapa em Nampa, outra vez no mesmo touro marcando 92 pontos.

Além de obter confiança quebrando a invencibilidade de um dos melhores touros do campeonato, pontuou melhor diminuindo sua diferença para José Vitor no ranking mundial. “Acho que se isso não tivesse acontecido talvez a taça não estaria nas minhas mãos”.

2020 está prestes a começar. E, como diz Adriano Moraes, recordes são para serem quebrados. “Vai ser difícil, mas estou pronto.”

Por Justin Felisko/PBR
Tradução e adaptação: Luciana Omena
Fotos: PBR