Confira mais uma coluna de Claudia Ono para o portal Cavalus
Kay Blandford classificou-se 12 vezes para a National Finals Rodeo. Seu treinamento baseia-se, principalmente, em fazer com que os cavalos realmente aprendam e passem a gostar do tambor.
O seu modo de agir e conduzir o treinamento foi a melhor descoberta que tive nos últimos anos e que me fez mudar todo o meu pensamento sobre os Três Tambores.
Como corredores da modalidade, nosso papel é promover a independência, apoiar, ensinar, corrigir e permitir ao cavalo fazer escolhas adequadas (ou se ‘achar’ no percurso).
Porém, muitas vezes, somos culpados por não deixar que nosso cavalo utilize plenamente o talento com o qual nasceu. Fazemos isso sem perceber, quando tentamos padronizá-lo ou dirigi-lo como um veículo.
Imagine dois cenários:
Um cavalo cujo piloto usa continuamente a rédea e a perna para segurá-lo na posição desejada, mesmo durante o trabalho lento.
Quando soltar para correr, este cavalo precisará de controle. E vai precisar de frequentes tentativas de correção no percurso.
Certamente o resultado da prova será muito inferior ao que ele poderia render. Teremos um competidor frustrado e um cavalo confuso.
Outro é um cavalo que está confiante sobre o seu trabalho no tambor. Ele foi treinado para manter o corpo na posição correta.
Ele está contente, sem stress e sabe o trabalho dele. Vai aceitar uma correção, caso necessário, mas dificilmente sairá fora do seu padrão, porque aprendeu realmente a fazer isso.
E vai exigir muito pouco de seu cavaleiro. O resultado certamente será uma prova melhor, ele dando muito mais de si e sem perder tempo com correções.
Faça uma experiência:
Trote para o primeiro tambor como faria normalmente durante um treino. Concentre-se em onde você está indo, mas mantenha suas pernas totalmente longe de seu cavalo e coloque suas mãos no pescoço do seu cavalo.
Resista à tentação de dar a seu cavalo alguma sinalização leve de perna ou fazer qualquer movimento com as rédeas. À medida que você se aproxima do primeiro tambor, seu cavalo cai para cima dele ou faz o giro ao redor dele?
Se o seu cavalo sai fora do percurso, então é claro que ele poderia estar fazendo muito mais e melhor se fosse por conta própria.
Todos queremos que nossos cavalos respeitem e sejam receptivos às nossas sugestões. No entanto, com a velocidade da prova de Três Tambores é muito mais vantajoso que sejam treinados para saber como, quando e onde posicionar seu corpo.
Na prova pode ser muito difícil ter que fazer vários ajustes e correções, e no momento exato. Cavalos que sabem o que estão fazendo e são responsáveis por isso, facilitam muito a tocada e trabalham suavemente, aparentemente sem esforço.
Kay diz como treina um cavalo para trabalhar ‘sozinho’
“Sigo a trote em direção ao primeiro tambor. Me concentro para que o ponto de parada esteja a um metro e pouco da entrada do tambor. Um pouco antes de chegar lá sento fundo na sela para dar a oportunidade de meu cavalo parar no ponto que havia focado. Só puxo as rédeas se o cavalo não responder.
Neste ponto, onde o focinho do meu cavalo está quase no tambor, recuo três passos. Então, me adianto na sela e ando para frente. Quando chegar novamente no ponto da parada, coloco minha mão de fora no pito da sela com meu cotovelo encostado no meu quadril.
Não uso minhas pernas, uso a voz com ‘beijo’ ou ‘cliques’ para que meu cavalo vá adiante. Contorno o tambor mantendo o focinho dele ligeiramente para dentro e com a mão da rédea parada.
Para corrigir um cavalo que cai para dentro ou sai fora do giro uso a minha perna. Não puxo a rédea. Pode contornar o tambor novamente até que a volta seja perfeita. Mantenho minha mão na mesma posição inicial, o tempo todo.
No segundo tambor repito os mesmos passos do primeiro. Apenas inverto a direção do focinho dele ligeiramente para a esquerda de forma que eu possa ver um pouco do seu olho.
Se ele precisar de ajuda, volto a contornar e usar apenas a perna de fora, suavemente. Nunca guiando com as rédeas ou tentando impedir que ele cometa um erro. Giramos até que entenda e faça o círculo perfeito.
Para seguir em direção ao terceiro tambor, olho para ele e com as mãos próximas ao seu pescoço empurro convidando-o a seguir. Dou a ele a chance de fazer sozinho, de aprender o trabalho”.
E continua….
“Não vou segurá-lo na posição correta. Se ele não fizer corretamente, uso a perna para corrigir e fazer com que encontre o caminho certo.
Quero treinar este cavalo a seguir meus olhos e sempre ir na direção certa. Independente, sem precisar que eu mostre sempre o que deve fazer.
Durante os giros, mantenho meu corpo inclinado para a frente ao mesmo tempo que me mantenho ligeiramente sentada na sela. Segurar no pito da sela me mantém firme na posição correta durante os giros.
É assim que viro meus tambores de forma perfeita, giro redondo e justo. Levo três meses para ensinar o básico e o aprendizado vem da repetição perfeita.
Quando chegarmos às provas, vou apenas empurrar nas retas, sentar e manter meus cotovelos dobrados. E meu cavalo vai seguir seu percurso por si e corretamente.
Muitas vezes, um cavalo que comete erros durante uma prova está fazendo o mesmo no treino lento.
E, muitas vezes o cavaleiro não percebe isso. É importante que o cavaleiro tenha muita percepção de si mesmo e de seu cavalo. Que esteja atento e consciente para reconhecer e corrigir isso.
A repetição perfeita e a correção (não castigo) são fundamentais quando queremos incentivar a independência. Para ter um cavalo que não necessite de muita ajuda do cavaleiro”.
Conclusão
Muitos cavaleiros têm a tendência de trabalhar e corrigir excessivamente seus cavalos. O uso contínuo das rédeas e de pressão de perna tendem a criar uma grande confusão na mente do cavalo e diminui a sua vontade de fazer suas próprias escolhas.
Se você precisar usar as duas mãos para manter seu cavalo na posição correta em trabalho lento, então vocês vão acabar ‘brigando’ quando você puser velocidade. Usando uma mão na rédea e a outra no pito, portanto, você simula o movimento que fará em velocidade.
Os métodos de Kay incentivam a independência para realizar mais fazendo menos. Ao permitir que seu cavalo cometa erros para só então corrigi-lo, ao invés de estar sempre guiando seus movimentos evitando que ele erre, você estará criando um cavalo confiante e constante.
Assim, sua prova será mais rápida, fácil e você terá mais resultados. Sem contar o fato de que você e seu cavalo realmente estarão em sintonia.
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Por Claudia Ono
Três Giros
Fonte: Encouraging Independence on the Barrel Pattern’ with Kay Blandford
Fotos: Cedidas