Voltar ao trabalho ou à antiga rotina depois de ter um bebê é um dos momentos mais delicados da vida de uma mãe. Seja em que área de atuação for uma possível separação momentânea pesa na tomada de algumas decisões. Pensando nisso, conversamos com algumas mamães do cavalo a fim de entender como foi esse processo para elas.
Os dias atuais, sem dúvida, promovem em todos nós muita correria e um sem número de atividades que, às vezes, pensamos que não daremos conta. Homens e mulheres vivem jornadas extenuantes, por muitas vezes, longe de casa por vários períodos. Adicione um bebê a essa equação e o planejamento precisa estar em dia para que tudo corra bem.
Rotina intensa de treinos e competições, por exemplo, ficam em segundo plano quando a mulher engravida. Toda a rotina muda inesperadamente. Perto do bebê nascer, sobretudo, questões como quem ficará com o filho na volta ao trabalho/rotina passa a ter um peso grande na vida da família como um todo.
Como fazer para tudo isso dar certo? Por isso convidamos algumas mamães do cavalo com o intuito de conhecer as histórias e inspirar outras famílias. Confira!
Juviliana – DJ Treinamento – Mato Grosso
Juviliana Aparecida da Silva, 36, e o marido, o treinador Dimas Donizete, começaram no Ranch Sorting em 2012 na cidade de Holambra/SP. Logo a rotina estava atribulada com eles em busca de conhecimento e aperfeiçoamento com o propósito de se destacar no esporte. Entre buscar novas técnicas e participar das provas, os títulos foram chegando. Uma parte desse dia-a-dia mudou quando ela descobriu a segunda gravidez.
“Quando descobri parei sim de montar. Mas, adaptei o trabalho e continuei dando aula e acompanhando o Dimas nas provas. Sem dúvida, uma forma de estar ao lado dos cavalos ainda até o dia do bebê nascer”, afirma ela que é mãe de Safira, 11, e José Elias, 4 meses. Ela não via a hora de voltar a montar. E 21 após o parto estava em Araçatuba aguardando ser chamada para competir.
“Todo mundo lá em casa ia para a prova e eu fiz duas inscrições sem ninguém saber. Entrei em pista e fui campeã no Ranch Sorting em duas categorias. Foi um dia incrível, felicidade que não cabia no peito. Muitos falaram que eu estava doida, mas a confiança em Deus foi maior”, relembra Juviliana. Dois meses depois estava de volta aos treinos oficialmente.
Ela conta com ajuda do marido e da filha mais velha nos cuidados com o bebê e ainda no ajuste da rotina. “Treino na parte da tarde e eles ajudam a olhar o Zé. Mas ele não dá trabalho nenhum. Muitas vezes enquanto estou montando ele está no carrinho na beira da pista dormindo. Fui muito abençoada.
Juviliana faz questão de dizer que não nasceu no meio do cavalo, mas se apaixonou e largou tudo depois que conheceu o marido. “Foi a melhor decisão da minha vida. Hoje tento conciliar casa, família, cavalos. Não é fácil, mas amo demais essa vida”. Além do marido e dela, a filha mais velha também compete e eles desejam ainda que o caçula siga esse mesmo amor.
A gravidez não foi a primeira vez que ela ficou afastada das pistas. Pouco antes teve uma lesão séria na coluna, contudo, até agora, a vida segue seu curso. “Tenho muito orgulho em poder ver minha filha competindo, meu marido me ajudando com o bebê e com os treinos, como sempre fez. Posso dizer que sou realizada e grata por esta vida que Deus me deu”, encerra Juviliana. Depois de nove anos em São Paulo, eles acabaram de mudar o CT para o Mato Grosso.
Dalva – CT Rancho Bigorna – São Sebastião da Grama/SP
Há 35 anos trabalhando com cavalos, Dalva Marques, 46, não competia na época que engravidou do seu filho Octávio, hoje com 26 anos. Nascida no meio, ela domava, treinava e preparava os cavalos para outros competirem. Casou aos 19 anos e aos 20 engravidou. Mas, continuou montando até o oitavo mês.
“Com toda a certeza, montava com muita consciência. Minha rotina seguiu praticamente a mesma, pois tive uma gravidez muito tranquila. Passei sempre bem e disposta. Apenas inclui nela o pré-natal e todos os exames rotineiros peculiares do momento”, comenta a treinadora.
Quando Octávio nasceu, quatro dias depois ela foi para a pista montar. “Minha vontade era a de também apresentar meu filho ao mundo dos cavalos e que ele conhecesse o nosso garanhão na época, um Mangalarga chamado Power MJ”. Tomando todos os cuidados, Dalva retomou a rotina. De acordo com ela, logo após o parto normal sua recuperação foi incrível, permitindo seguir os treinamentos com sucesso.
Faltava, então, organizar e definir todo o dia-a-dia após a chegada do filho. “Acabei inserindo o bebê em tudo. Ele estava sempre por perto, acompanhando os trabalhos. Ensinava a ele o principal, amar e respeitar os cavalos, independente de sua raça e finalidade. Octávio cresceu com a ideia que qualquer animal tem sua importância como indivíduo, seja ele quem for”.
Em suas palavras, Dalva é “herdeira de uma paixão”, já que seu pai foi um grande peão. Cristã, criadora, treinadora e apresentadora do CT Rancho Bigorna, ela também é jurada de equinos e muares de Marcha. Além de treinadora e apresentadora, ela também ministra aulas particulares e workshops e mantém ainda uma pequena criação de cavalos Mangalarga e de muares.
Em sua visão, portanto, “não existe sucesso, se não amar e respeitar em primeiro lugar. Entre tantas opções de vida, não tem como deixar de viver intensamente algo que está intrínseco em você. Cavalo sempre foi e continuará sendo um verdadeiro espetáculo em minha vida.”
Aude – CT Le Domain – Bragança Paulista/SP
Aude Beurdouche Machado é natural de Le Mans na França e atualmente reside em Bragança Paulista/SP, proprietária do CT Le Domaine, centro especializado em Enduro Equestre. Já estava no Brasil com o filho Lucas nasceu. Trabalhando com cavalos – Árabe e ‘derivados’ e Crioulo – profissionalmente há 15 anos, ela conta que deixou de montar quando engravidou, mas continuou na gestão das atividades do CT.
Além disso, durante a gravidez, Aude participava ativamente também da organização das provas de Enduro Equestre no Estado de São Paulo, até bem próximo ao nascimento do Lucas. Ela conta que teve uma gravidez muito tranquila, permitindo manter algumas atividades e ficar perto dos cavalos enquanto aguardava a chegada do bebê.
Na gestão das atividades do CT, contou com o apoio e ajuda do marido, José Antônio Machado, que também é profissional do cavalo e seu sócio. Além disso, contrataram mais um funcionário a fim de auxiliar, principalmente nos treinos dos cavalos.
“Apesar de todo o apoio e ajuda, o momento coincidiu com um período de dificuldade no negócio. Estávamos há apenas 2 anos por conta própria e o mercado passava por um período de escassez. Alguns clientes deixaram o esporte e nossos serviços e estávamos em busca de novos negócios para continuar a crescer. Porém, o comércio de cavalos e um prêmio muito importante que meu marido ganhou nos permitiu avançar”, relembra.
Aude conta que desde a descoberta da gravidez e o nascimento ficou 1 ano sem montar e treinar. “No início pude perceber que o corpo havia perdido a destreza. Levei dois tombos e ainda tive que segurar um cavalo disparado. Mas foi isso que me motivou a me superar e me aperfeiçoar ainda mais”. Novos aprendizados, com toda a certeza, não apenas como atleta, mas também na nova rotina que vinha pela frente.
“Com o nascimento do Lucas eu tinha a ideia que conseguiria equilibrar melhor minha rotina, entre o lado pessoal e profissional, mas logo percebi que foi uma falsa ilusão. Quando voltei aos treinos e competições percebi que sozinha não seria possível alcançar tal equilíbrio. Tive muita sorte de ter minha mãe ao meu lado nesse momento. Ela veio comigo para o Brasil e teve um papel muito importante no cuidado do Lucas. Estavam sempre nas provas e nos treinos e ela cuidava dele com o mesmo carinho que eu!”
Ser mãe a transformou, especialmente no sentimento da competidora. Aude atesta que mudou a forma como encara os momentos desde então. “Nos momentos de maior pressão nas provas a gana por ganhar foi reduzida, dando mais espaço à análise dos riscos envolvidos. O pensamento de que havia uma pessoa que dependeria de mim por diversas ganhava força”, reforça ela.
Por consequência, algo que pode acontecer com todas as mamães do cavalo aconteceu com Aude. “O engraçado disso foi que o cuidado com os cavalos também aumentou. Me tornei uma treinadora mais consciente dos efeitos do treinamento no físico e psicológico dos cavalos, o que me conduziu a também me preocupar mais com seu bem estar. Logo, minha vocação para treinar cavalos ganhou maior espaço, em detrimento da vocação para competição.”
Ana Flávia – CT Vinicius Moraes – Jaguariúna/SP
Ana Flavia Duarte Belumat pratica equitação desde muito jovem. Seus primeiros registros em cima de um cavalo são com ela aos 3 anos de idade. No começo, participou de cavalgadas e concursos de marcha ao lado de animais da raça Mangalarga Marchador. Posteriormente, vieram os cavalos Quarto de Milha e as competições de Três Tambores.
Ou seja, uma vida toda com a intensa rotina de treinos e provas. Quando descobriu que estava gravida, Flavinha optou então por suspender qualquer atividade envolvendo montaria em cavalos. “A minha ideia inicial era voltar aos treinos logo após o nascimento do Otávio, porém veio a fase de amamentação. E, como eu gosto de ser mais presente, achei por bem acompanhá-lo mais de perto e adiar meu retorno ao esporte”.
Passados alguns meses, ela voltou aos treinos, embora com pouca frequência. Chegou até a participar de algumas provas. O filho já tinha 1 ano, mais independente, e ela se preparou para retornar à antiga rotina quando foi surpreendida de modo muito feliz com a segunda gravidez. “Os planos foram revistos e voltei a mesma rotina adotada anteriormente”.
Hoje a Laura já tem 1 ano e 10 meses e o Otávio 3 anos e 8 meses. “E eu me dedico exclusivamente a eles. Minha rotina com eles inclui idas frequentes ao haras, apresentando os cavalos, os tambores, montando junto com eles e incentivando pra que eles também gostem e participem deste esporte que é uma paixão para mim”.
Flavinha aguarda agora, a normalização das aulas das crianças, suspensas no modo presencial por conta da pandemia da Covid-19. Quem está acostumado a vê-las nas pistas, com certeza tem saudade, mas ela avisa: pretende voltar. “Pretendo voltar a me dedicar aos treinos preparativos visando o retorno às competições.”
Joana – Cabanha A Tala – Dom Pedrito/RS
Competidora da modalidade Rédeas há 17 anos, Joana Giudice Azevedo, 31 anos, conta que engravidou ‘no susto’. “Não sabia que já estava grávida da Anita e só descobri depois que corri uma prova de Rédeas e uma de Paleteada (risos)”.
Assim, quando a gravidez se confirmou Joana decidiu parar de montar. “Acabei enviando os meus cavalos para que os treinadores corressem neles todo o resto do ano hípico. Minha ideia era voltar a treinar, assim que eu tivesse minha filha e assim foi”, lembra.
Nesse processo, inclusive, Joana começou a domar um cavalo. Do mesmo modo que preparou tudo para voltar às pistas. “Quando a Anita completou 5 meses, voltei a montar e comecei a doma de um cavalo. Logo depois, quando ela já estava com 9 meses, corri a primeira prova, bem em meio a pandemia. Juntas fomos campeãs Nacionais Amador de Rédeas em 2020. Digo juntas, porque ela esteve 100% do tempo comigo”.
Joana lembra que a preparação foi intensa para que tudo desse certo nesse novo modelo de rotina ao lado da filhota. “Organizava as mamadas antes de treinar e o tempo de treino pensando, antes de tudo, no conforto da Anita. Foi uma experiência incrível, que Graças a Deus, acabou da melhor maneira possível!”
A partir de então, Anita é presença constante com a mamãe ao lado dos cavalos, seja nos momento de lazer ou provas. “Ela está em tudo comigo. Tenho uma babá, que nos ajuda e faz com que ela esteja presente em todas as minhas rotinas de treino. Lavamos, inclusive, o cavalo juntas, após os treinos! Ela ama! Me sinto completa hoje. E o fato de eu saber que terei uma companheira ao meu lado, faz tudo isso ser ainda mais maravilhoso.”
Por Luciana Omena
Colaboração: Ana Olivera
Crédito da foto de chamada: Divulgação/Depositphotos
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