Agricultor e tapeceiro no Brasil conquistou prêmios importantes no turfe inglês
Sabe quando você tem aquela oportunidade da vida na frente e agarra-a com unhas e dentes? Foi o que fez Silvestre de Souza. E todos os perrengues que passou são compensados agora com o segundo prêmio de Jóquei do Ano, no Reino Unido. O prêmio veio de forma antecipada no último dia 21 de outubro, quando ele foi agraciado com o Stobart Champion Flat Jockey 2017, por ser o jóquei com o maior número de vitórias no ano – 155 até agora. É uma premiação aos melhores profissionais do ano no Turfe inglês e onde são agraciados também treinadores, proprietários, treinadores. E como não poderá ser alcançado por nenhum outro, Silvestre já ficou com o título. A primeira vez que ganhou esse prêmio foi em 2015, quando fez 132 vitórias.
Silvestre de Sousa em uma das corridas. Foto: cedidaNascido em São Francisco, interior do Maranhão, ele aprendeu a andar a cavalo aos quatro anos, no sítio que a família mora e tira seu sustento até hoje. Tendo parado os estudos na sexta série, aos 14 anos decidiu deixar o ofício de agricultor e mudar-se para São Paulo, para ajudar o irmão mais velho nos trabalhos de tapeçaria. Seu porte, franzino, e seus 1m52 de altura, lhe renderam uma chance na escolinha de jóqueis do Jockey Club de São Paulo. Destaque do grupo de aprendizes, foi convidado para trabalhar na Irlanda. Mesmo sem falar inglês e sem conhecer nada do mundo, não pensou duas vezes.
O começo foi complicado. Além da barreira da língua e do clima extremamente frio, Silvestre enfrentou o preconceito. Era um brasileiro tirando o lugar do irlandeses. Ouviu isso muitas vezes, abertamente. Da mesma forma que se destacou no Brasil, ele começou a se mostrar habilidoso na Irlanda. Foi trabalhar como escovador e galopador, mas pedia sempre para montar os cavalos, era o que ele gostava de fazer. Mesmo com as poucas chances que teve, conseguiu êxito e tirou o registro profissional. A fim de obter ainda mais espaço, mudou-se para a Inglaterra, para ser escovador e galopador de um dos melhores treinadores de jóqueis do Reino Unido, David Nicholls. Nesse trabalho ele conseguia montar com mais frequência e se sentiu seguro para começar a trabalhar por conta própria algum tempo depois.
Foto: cedidaEm seu primeiro ano de competição, ganhou 27 vezes. E, a cada no, esse número aumentava, 25, 60, até chegar as 132 e 155 vitórias. As duas últimas marcas lhe renderam os títulos de campeão do ano. E foi no cavalo que ele conseguiu melhorar de vida. Tem casa própria, em Newmarket (perto de Cambridge/Inglaterra), casou com uma ex-joquei, tem um filho de dez anos e outro a caminho. Consegue visitar os pais, mas não pensa em voltar a morar no Brasil. Com inglês fluente, já fala o português com sotaque do país que ele é grato. Mesmo tendo um começo difícil, persistiu e encontrou pessoas que lhe abriram as portas. Trabalhando duro, montando e treinando todos os dias, conseguiu montar e treinar os melhores cavalos e mostrar seu talento.
“Nunca pensei chegar onde cheguei, nem conquistar tudo isso. Deus foi generoso comigo, e estou feliz assim”, contou ele à BBC Brasil.
Por Luciana Omena
Fonte: UOL Esporte