“O cavalo representa tudo na vida da minha família!”

Paulo Cunha é um dois profissionais mais respeitados do meio do cavalo, seja por sua filosofia de trabalho ou pela forma como conduz até hoje o seu centro de treinamento

Conhecer profundamente de cavalo sempre foi o lema de Paulo Cunha. Nasceu convivendo com eles, pois seus pais sempre trabalharam com cavalos no sítio da família, em Fartura/SP. Não teve dúvidas na carreira que ia seguir. O cavalo era o elemento comum que permeou toda sua história. Buscou conhecer mais, melhorar sua técnica, criou seus filhos nesse meio, sem nunca perder os valores e o porque ele começou tudo isso. Cavalo. Seja de que modalidade for, pedigree ou raça. O que importante era entendê-los para trabalhar com eles da melhor forma.

Kenny, Jefferson, Paulo e Renato

Aos 61 anos, casado com Rosa Maria, 56 anos, ele é pai de Renato, 38 anos, Jefferson, 33 anos, e Kenny, 23 anos. Natural de Fartura, onde montou seu primeiro centro de treinamento, no sitio São Geraldo, em 1976, de propriedade do seu pai, conheceu e namorou Rosa em Pirapozinho/SP, e os meninos nasceram em Presidente Prudente/SP (Renato) e Carlópolis/PR (Jefferson e Kenny). Todos eles vivem do cavalo e são exemplo, dentro e fora das pistas. Os títulos, eles nem tem ideia em números. São muitos em todas as provas importantes da ABQM, Nacional, Congresso, Copa, Potro do Futuro, e também em campeonatos regionais. Mostra que talento vem de berço e se lapida com muito esforço e trabalho diário.

Vamos conhecer um pouco mais sobre a vida e carreira dele? Confira entrevista.

Paulo com Almost Dockie MS, em uma prova de Conformação, em Piraju/SP. Animal que foi importante
para o CT Paulo Cunha em Itaberá, da primeira geração de Okie Easterwood

Como foi esse começo?

Paulo: O começo foi um pouco difícil, pois meus pais não tinham condições financeiras para ajudar muito, sempre foram trabalhadores, comecei do nada. O que eu fazia era acertar cavalo de Rédeas, domar. Meu pai era da cavalaria do Exército e foi dai que veio a doma. Não tinha, nessa época, opção de escolher modalidade, eu queria mexer com cavalos, não importava em que atividade fosse, modalidade ou finalidade. Foi uma época que lidei com todo tipo de cavalos, adquiri um conhecimento amplo, sem preocupar também com genética.

Curso de doma e rédeas em Dracena/SP em 1994

E buscou aperfeiçoamento ao longo do tempo?

Paulo: Sim. Passado um tempo, morando e trabalhando no sítio do meu pai, tive oportunidade de melhorar, aperfeiçoar mais meu treinamento. Muitas pessoas me ajudaram nessa época, o Dominguinhos de Fartura, tropeiro de cavalos de rodeios, o sr. Tadeu Pereira. Eles me deram ajuda financeira e me colocaram para fazer cursos com profissionais renomados daquele tempo. E só assim comecei a melhorar minha técnica. Meu estilo sempre foi querer conhecer sobre cavalos, independente de raça ou genética, se eram cavalos de Tambor ou para modalidades de boi. Eu tinha em mente que o caminho era entendê-los da melhor maneira possível, sempre buscando tirar o melhor de cada animal.

Paulo com os filhos e seu pai, Antenor,
seu Nenê, falecido ano passado,
que na foto estava com 92 anos e
ainda montava de vem em quando

Quando montou o CT que tem até hoje?

Paulo: Em 1976 foi quando comecei profissionalmente, portanto 41 anos fiz em 2017. E, por volta de 1992, quando vim dar um curso em Itaberá/SP, recebi a proposta de montar meu centro de treinamento aqui. Achei muito viável, pois ficamos a 350 km da capital São Paulo, e também 350 km de Curitiba, bem centralizado. Foi o começo de uma nova fase, sem dúvida, melhor estruturado, foi quando tudo se profissionalizou, quando criei a minha marca, o CT Paulo Cunha. É aqui todo meu alicerce, pista coberta e toda a estrutura do CT.

Qual sua filosofia de trabalho?

Paulo: No começo, a minha filosofia foi criticada por outros treinadores e alguns proprietários, pelo fato de que eu sempre busquei conhecer os cavalos, independente de modalidades, como já mencionei antes. Entender de uma boa doma, mas não uma doma qualquer, buscar direcionar, para laço, tambor rédeas, apartação. No começo da minha carreira, não tinha condição de ir para as provas, então foquei muito em domar bem os cavalos, tanto que a grande marca do CT, no princípio, era de ser considerado o melhor domador. Muitos treinadores ao competir com cavalos domados por mim, tinham êxito nas pistas, em diversas modalidades, e assim fui fazendo um nome no meio do cavalo. Depois de um tempo, meus filhos começaram a treinar, começamos a ter mais oportunidades.

Com Circle The Jazz. A apartação sempre foi a grande paixão de Paulo

Tive um pouco de resistência da parte deles, pois queriam eleger uma modalidade apenas para seguir. Mas eu insisti, pois queria neles um diferencial, que eles entendessem e soubessem trabalhar com todas as modalidades. Não queria que passassem aperto, se alguém chegasse para falar de Tambor, ou de Laço, eles teriam conhecimento sobre tudo e poderiam ajudar ou conversar com quem fosse. Tanto é que hoje, graças a Deus, eles têm resultados expressivos em quase todas as modalidades da ABQM, Laço de Bezerro, Team Roping, Três Tambores, Rédeas e Apartação. E isso ajudou muito a evolução do CT, pois o nosso leque é amplo, podemos atender clientes de modalidades variadas, passar dicas, ajudar com o treinamento de cavalos para diversos esportes. Um profissional só pode passar conhecimento sobre todas as modalidades, o que acabou sendo a nossa marca, essa versatilidade, a viabilidade dos nossos cursos é a boa relação do custo x benefício.

Quais os maiores desafios de se trabalhar com cavalo?

Paulo: Um dos maiores desafios é não ficar taxando cavalo ou genética, falando que esse é ruim, ou aquele determinado é bom. E sim entender o cavalo da melhor maneira possível, podendo trabalhar cada um dentro de suas limitações e conseguir tirar o máximo de cada cavalo e de seu potencial, porque cavalo nunca foi e nunca será uma ciência exata. Então, é um desafio diário tentar chegar nesse grau de excelência, conhecer profundamente de cavalo, independente de genética, raça, modalidade.

Outro desafio é estruturar o centro de treinamento de maneira que todos trabalhem coordenados e falando a mesma língua. Tudo começa no manejo, passando pelo escritório, que tem que ficar atento aos gastos, é a base financeira,  tratador, auxiliar, até chegar no treinamento propriamente dito. Se a engrenagem toda não funcionar, não fica viável finalizar o treinamento e deixar o cavalo pronto para o cliente. O resultado na pista está sempre ligado a tudo isso quem vem por trás.

Curso de doma e iniciação de potros no Paraná

Como o acidente do Renato mudou a vida da família?

Paulo: Foi uma coisa muito radical na época. Tínhamos planos, estava tudo caminhando e foi interrompido pelo acidente. Nenhum de nós estava preparados para algo dessa magnitude. Na época, eu ministrava cursos pelo SENAR e o Renato ficava no CT. Depois de quatro meses do acidente, ele me disse: ‘pai, volta para os seus cursos e deixa que aqui em casa eu vou tomar conta’. E como ele ia tomar conta estando em uma cadeira de rodas? Foi uma decisão difícil, mas confiei. E assim o Renato assumiu uma responsabilidade. O Jefferson tinha 15 anos e passou a trabalhar diariamente com o Renato, que o ensinou todo seu conhecimento, fazendo com que o Jefferson tomasse a frente do treinamento. O Jefferson era as pernas do Renato. O Kenny tinha cinco anos na época do acidente, então quando ele teve idade suficiente, também começou a ter o mesmo direcionamento. E isso uniu a família ainda mais. Renato e os irmãos ficaram muito mais unidos. Eu trabalhava 24h pensando só em fazer crescer o CT e em que eles aprendessem mais, tivessem mais oportunidades, para que se tornassem grandes atletas e grandes profissionais.

Os três começaram competir novos. O Renato teve a carreira interrompida aos 20 anos, e cada um, dentro dos seus limites na época, limites financeiros e de estrutura, continuaram o legado. O Jefferson começou a competir de verdade por volta de 16, 17 anos. E o Kenny, desde o cinco anos, e com o CT já mais estruturado, melhores cavalos, traias, condições.

Evento da ABQM em Bauru em 2008

Qual a participação hoje de cada um dentro do esquema do CT?

Paulo: Hoje temos muitos cavalos em treinamento, graças a Deus, voltados para os Três Tambores e Laço de Bezerro, que são treinados pelo Kenny e pelo Jefferson. Eu e o Renato ficamos na retaguarda. Temos oportunidade de separar os cavalos da melhor maneira, vendo quem se adapta melhor a qual cavalo, sempre buscando tirar o melhor de cada um. Eu fico muito na retaguarda, dando suporte, e eles concentrados em só treinar os animais. Sempre que surge alguma dúvida, eles recorrem a mim, pelo meu conhecimento e tempo de profissão, e ao Renato também, que é essencial nos bastidores comigo, mas sempre está na pista, ajudando os irmãos. Renato também fica no apoio as pessoas que chegam ao CT para cursos. Ele conhece muito de cavalo, então participa de todas as atividades do centro de treinamento, em todos os níveis. E o Kenny e o Jefferson, 24h focados em treinar, domar e dar aulas.

O que o cavalo representa na família CT Paulo Cunha?

Paulo: O cavalo representa tudo na nossa vida. A gente acorda e dorme sempre pensando em melhorar, em aprender, entender melhor cada indivíduo. Cada cavalo é um diferente do outro. Então, ficamos sempre pensando onde podemos melhorar, em qual ponto determinado cavalo precisa chegar e como fazer para isso acontecer. É o que nos move, o que nos faz ter vontade de sermos melhores. O cavalo também nos trouxe amizades e é o nosso sustento. Tudo para a nossa família veio do cavalo.

Por Luciana Omena
Fotos: arquivo pessoal

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