Para 99,9% das pessoas que trabalha com cavalos, paixão e profissão andam juntas. Mas a pergunta é: vale a pena?
Quando somos crianças, os adultos sempre nos perguntam: o que você quer ser quando crescer? A maioria responde, quase sempre, que a vontade é tornar-se professor, médico, bombeiro, bailarina. Para quem tem contato com cavalos desde pequeno, talvez seja natural escolher uma profissão ligada ao meio equestre, como médico veterinário, por exemplo. Por ser mais estruturada, é uma escolha natural. Mas e o desafio de ser treinador?
Um questionamento fica logo que começamos a pensar no assunto: é uma profissão incerta e instável, que depende muito dos resultados efetivos em provas desses cavalos treinados pelos profissionais? Outro questionamento: para ter as cocheiras cheias, é imperativo que esteja sempre ganhando provas e devolvendo, em forma de premiação, o dinheiro investido pelos proprietários? Quando começamos em qualquer esporte de alta performance, é natural que o desejo pelos resultados cresça. Mas é certo pressionar os treinadores e exigir muito dos cavalos? Nesse ponto, o profissional entende que vale a pena continuar?
De uma coisa temos certeza, conviver com os cavalos, os amigos e a família que esse meio proporciona é algo extremamente prazeroso. Agora, para que você consiga viver exclusivamente de sua profissão como treinador, o que é necessário? PAra começar, buscar aperfeiçoamento. Investir em cursos, assistir muito a suas próprias provas para entender o que precisa corrigir. Também é importante conhecer profundamente de cavalo e suas linhagens, e ainda mais, os cavalos que estão na sua mão. Estruturar o seu centro de treinamento com manejo adequado, formar equipe de tratamento dos animais, com veterinário e ferradores, fornecer alimentação balanceada, entre outras coisas. Se cercar de tudo que é bom, na medida do possível e de forma gradativa, é importante.
Pensando nesse assunto, fomos conversar com um treinador, entre tantos, parceiro do Portal Cavalus, Rodrigo de Matos Sobreira. Ele conta que o desafio de se viver do cavalo, para ele, é o mesmo desafio de viver qualquer outra profissão. “É preciso ter muito amor e vontade de praticar essa profissão. Pode ser cansativo, trabalhoso, dispender muito tempo. Em certos casos, o retorno financeiro é melhor se a pessoa for funcionário ou prestador de serviço. Ter o seu próprio centro de treinamento e colocar as contas na ponta do lápis assusta e, talvez, o retorno imediato não seja o esperado. Porém, acredito que quando fazemos uma coisa para vida, como uma missão, uma vocação, o dinheiro, retorno ou reconhecimento são consequência”, explica ele.
São vários os perfis de treinadores e também de proprietários, ele lembra. “Basta o treinador se conectar àquele que tem mais a ver com a sua filosofia de trabalho. Tem quem queira sempre ganhar, estar entre os primeiros, caso não seja assim, desanima. Tem quem queira ver seu cavalo trabalhando bem e só isso já é importante. E tem ainda o proprietário que se preocupa apenas se o treinador cuida bem do seu cavalo. O que interessa, em tudo isso, é buscar conhecimento, ser coerente com o que você acredita e trabalhar duro.”
Rodrigo deixou a sua família para perseguir o sonho de ser um profissional do cavalo. Como muitos outros treinadores, traçou as suas metas. Que no caso foram morar um tempo nos Estados Unidos e depois fazer a faculdade de Gestão em Equinocultura. Para se destacar, é necessário se qualificar. No final do ano passado, ele resolveu mudar-se de vez para o seu próprio centro de treinamento. Deixou o conforto e a estabilidade de ser funcionário para ser o dono e o responsável pela administração total do seu negócio.
“Já estava ensaiando essa transição e no final de 2016 eu mudei. Abri as portas em março desse ano e ainda estou em obras, mas já treinando e fazendo o CT funcionar. Tenho uma história de 20 anos no cavalo e já vivi várias fases de economia. Passamos por dificuldades, crises financeiras no País, crises no cavalo, mas posso dizer que mesmo com tudo isso, o brasileiro é um amante do cavalo, apaixonado. Hoje se tem muito mais conhecimento e, independente da situação econômica, ninguém quer andar para trás. . Cada vez mais as pessoas querem os melhores animais, mais bem cuidados, mais bem treinados, e tudo isso faz o mercado girar”, analisa.
Com esse cenário, podemos dizer que existe espaço para todos e também diversas atividades que podem ser agregadas, caso a pessoa tenha vocação e vontade de ampliar o seu leque de opções. Como treinador, convive-se intensamente com cavalos, proprietários, competidores, criadores, então porque não passar também a ministrar cursos, dar assessorias, administrar, atuar em compra e venda.
Para quem gosta de cavalos e tem coragem de deixar tudo para trás para ir em busca de aprendizado em todos os setores, Rodrigo dá uma dica: Vá em frente e siga em busca dos seus sonhos! É um trabalho como qualquer outro, alguns têm mais êxito, mais vitórias, mais oportunidades, conseguem ter na mão aquele individuo e que a estrela brilha mais, mas é um meio onde todos podem atuar de forma brilhante. “Sou muito grato pela oportunidade do meu trabalho, das habilidades que adquiri e do aperfeiçoamento que busquei, mas ainda tenho muito a aprender. Também sou grato pelos amigos que o cavalo me oportunizou, as pessoas com quem convido. Do amor aos animais, que é a coisa mais forte que tem”.
Talvez não tenhamos respondido todos os questionamentos. Levantamos algumas questões válidas de se pensar. Podemos ter outros tópicos ainda para abraçar nesse assunto, que amplo. Mas uma coisa é certa, vale a pena!
Por Luciana Omena