“Tudo se resume em conhecimento. A educação é tudo. Sem educação o país, o segmento equestre não cresce.”
Formado em Medicina Veterinária pela Universidade de Marília – Unimar, Aluísio Marins é treinador profissional de cavalos, especializado em iniciação de potros e preparação de cavalos para modalidades esportivas e lazer, especialmente para amadores, sendo no Brasil o ‘Homem do Horsemanship’.
Fundou há 20 anos a Universidade do Cavalo, referência em ensino equestre na América Latina. A filosofia de Marins é que tudo se resume em conhecimento e que a educação é fundamental para o crescimento das pessoas independente da área de atuação. Esse conceito e a implementação dele revolucionaram o mercado equestre.
Aluísio MarinsFoto: Divulgação
Começou neste meio quando adolescente no Hipismo Rural, competindo pela ABHIR, fez Equitação de Trabalho e várias outras modalidades. “Aos 15 anos tive oportunidade de ir para os Estados Unidos trabalhar com cavalos e estudar. Fiquei lá dois anos. Nesse tempo trabalhei com cavalos de Pólo e aprendi um pouco de doma. Foi quando comecei a pensar nesse meio de uma forma mais profissional e também não tão competitiva”, conta Marins.
Quando voltou dos Estados Unidos, foi direto para a faculdade de Medicina Veterinária, e no meio universitário começou a ajudar organizar cursos, palestras e seminários. Foi quando teve um envolvimento maior com a raça Quarto de Milha, pois a região de Marília tem uma boa concentração de Haras com essa raça.
Em 1996 se formou e a partir daí as experiências vividas no exterior e na Faculdade começaram a permear as ideias e surgiu a vontade de trazer algo diferente para mercado equestre.
Em 1997 surgiu a Universidade do Cavalo, como um Centro de Treinamento. “A ideia era formar profissionais do cavalo, mas ninguém entendia o conceito proposto. Corri muito, batalhei até chegar onde a UC está hoje. Cresceu tanto em experiência, como em estrutura e forma pessoas para mexer com cavalos através do trabalho com educação.
Confira entrevista!
Portal Cavalus: Como surgiu a ideia em 1997 em formar a Universidade do Cavalo?
Aluísio Marins: Quando sai da faculdade, continuei a fazer os cursos e palestras que fazia pela faculdade, mas só que aliando ao meu domínio de montar em cavalos e o conhecimento com a forma de ensinar. Na década de 80, havia um projeto em Sorocaba de pegar toda a demanda de cavalo e profissionalizar. Era um planejamento do governo municipal e estadual. Eu era pequeno e o meu pai era um dos envolvidos nesse Projeto. Quando me formei eu me lembrei disso e o fiz tornar-se realidade, mas no setor privado.
PC: E como era a estrutura da Universidade do Cavalo há 20 anos?
AM: A Fazenda Chaparral onde hoje é a UC, era uma fazenda de leite, que pertencia à família. Eu comprei as outras partes e adaptamos as instalações. No início tinha cinco cavalos, das raças Quarto de Milha e Puro Sangue Inglês, e fomos reformando e adequando de acordo com a demanda, até formar no que é hoje.
PC: No início qual era o foco da Universidade do Cavalo?
AM: O foco era a profissionalização. A região de Sorocaba tem mais de 700 haras e a gente tinha a visão que nesses locais tinham funcionários que precisavam ser treinados ou formados e então lançamos cinco cursos de: tratador, enfermeiro, administrador ferrageamento e de equitação de trabalho.
PC: Como os proprietários de haras viram esse conceito?
AM: Em 1997, o desafio maior era que o Brasil estava em crise ainda, com a economia desestabilizada, então quem tinha cavalo queria dar para alguém. Com tudo isso, o mercado não entendia o que a gente fazia. Não queria pagar para os funcionários, ou até mesmo eles, para ter conhecimento, porque ia ser um gasto a mais para os haras. Era loucura a ideia, então ninguém vinha fazer curso. No primeiro ano não tínhamos nem 15 alunos nos cursos.
Imagem aéra da UCFoto: Arquivo
PC: O que vocês fizeram para que o mercado entendesse o que era UC?
AM: Devagar nós fomos descobrindo quais eram os nichos do mercado de cavalo e vimos que tinha demanda. Detectamos que dentre todos esses haras, sempre tinha alguém interessado em fazer alguma atualização. Eu era muito novo e o corpo docente da Universidade não era muito conhecido, então comecei a trazer profissionais de fora, dos Estados unidos, da Europa e essas clínicas começaram a chamar atenção das pessoas. Mas mesmo assim o mercado de cavalos ainda não tinha entendido o que era a UC, se era uma Hípica, se era um Centro de Treinamento de Equitação, porque era um conceito que não existia.
PC: Depois de quanto tempo vocês conseguiram mostrar para o mercado o que era a Universidade do Cavalo?
AM: Depois de três anos focamos apenas nos cursos, na profissionalização, então foquei naquilo que eu mais sabia fazer domar potros, as técnicas de horsemanship. E em 2003, quando estava pensando em desistir, fui convidado a participar da Nacional do Cavalo Lusitano, uma raça que, na época estava em alta, e eu ganhei a prova. Isso trouxe mais cavalos e o que eu ganhava aplicava em cursos, sempre me atualizando no comportamento animal e as coisas foram dando certo.
PC: O objetivo continuou o mesmo no decorrer dos anos ou houve alguma mudança?
AM: Com a estabilização da economia, passou mais um ciclo de reprodução do cavalo e o país não entrou em crise. Mudamos então o foco principal que antes era só curso e entramos com o conceito de solucionar os problemas nos haras, funcionários, centros de treinamento, enfim dos profissionais do meio. Comecei resolver os problemas que surgiam nesses lugares ensinando quem estava naquela função, treinando, capacitando.
PC: Quando veio a ideia de criar o Curso de Gestão em Equinocultura?
AM: Em 2004 formatamos o Curso de Gestão em Equinocultura e em 2005 lançamos. Na primeira turma tínhamos 22 alunos e fechamos as finanças no vermelho. Hoje temos em curso 150 alunos. Firmamos parceria com a Universidade de Sorocaba- Uniso e vimos com o curso que a figura do cavaleiro amador mudou. Ele hoje busca conhecimento.
PC: Qual a base hoje na Universidade do Cavalo?
AM: A base é e sempre será a busca pelo conhecimento, a educação. Nós temos o papel de ensinar, somos educadores acima de tudo. Buscamos trazer cursos práticos, dinâmicos inspirados nos padrões americanos e europeus. E vem dando certo, pois a UC já atingiu a marca de mais de 3mil alunos, só em cursos à distância.
PC: Hoje quais são os cursos oferecidos pela Universidade do Cavalo?
AM: Temos que aproveitar as ferramentas que hoje temos em mão, através na internet. Por essas novas tecnologias temos as Web Palestras UC, em parceria com o Horse Brasil, onde online são ministrados cursos de variados assuntos com duração de um ou dois dias e que os interessados podem fazer da onde estiverem. Além desses cursos e o de Gestão em Equinocultura, temos os presenciais que acontecem na UC durante todo o mês, nas diversas áreas: manejo, saúde, horsemanship, reprodução, administração de centos equestres, formação de ferradores, dentre tantos outros.
PC: Como você descreve esses 20 anos de Universidade do Cavalo?
AM: Posso dizer que hoje a gente não chegou à metade do queria, mas já alcançou muito mais do que imaginava.
Por Verônica Formigoni