Se o seu objetivo é ser um cavaleiro melhor, leia essa matéria! Para qualquer atividade esportiva, buscar o máximo de rendimento é o ideal. Mesmo que você não tenha pretensão de tornar-se um atleta olímpico, tenha em mente tornar-se o seu melhor a cada dia. Pensando nisso buscamos conhecer um pouco mais sobre posturologia e biomecânica aplicadas à equitação.
Conversamos sobre o assunto com a Raquel Bártholo, da Rider Biomechanics, para entender melhor como ela chegou a esse método e conhecer mais sobre seu benefício aos atletas equestres. Antes de mais nada, a biomecânica da equitação atua a fim de melhorar a qualidade do movimento do corpo humano relacionado ao movimento do cavalo.
Em primeiro lugar, a posturologia e biomecânica da equitação entram em cena quando o cavaleiro ou amazona percebe uma falta de conexão ou hiper reatividade na sua atividade com o cavalo e na modalidade que pratica.
Aliás, vale reforçar desde já que as aulas são exclusivas para quem monta cavalo e aplicadas à cavaleiros e amazonas de qualquer modalidade equestre. Não está ligada a aprender como fazer a modalidade em si, por isso não entra em conflito com o trabalho dos treinadores.
De acordo com a Raquel, as aulas programadas por ela permitem que o aluno obtenha um melhor rendimento na sua própria modalidade, pois ao entender como acessar seus recursos das estruturas musculoesqueléticas, tem mais facilidade em conseguir que o cavalo faça o que lhes é pedido pelo seu treinador.
Ao trabalhar a posturologia e biomecânica aplicadas à equitação, Raquel proporciona conhecimento e entendimento de alavancas e ângulos articulares, regulação da força e do tônus muscular exigidos, onde e como deve ser feita a contração ou relaxamento muscular, controle do eixo gravitacional, descargas de pesos nos estribos auxiliando seu cavalo no entendimento dos comandos através de seus próprios comandos corporais, melhorando a consciência corporal sobre a sela.
Conversamos com ela, confira!

Como você chegou ao trabalho de posturologia e biomecânica da equitação?
“Sou professora de educação física e fisiologista, bem como atleta de Adestramento. Fiz aulas por muitos anos com uma professora estrangeira que era bastante rígida. Com isso, durante as aulas comecei a fazer uma conexão da prática das atividades equestres com minha área da educação física.
Minha professora era perfeccionista e gostava de movimentos precisos, então íamos detalhando cada movimento e nesse processo eu fazia essas conexões com cada grupo muscular, com cada articulação, com cada músculo que precisava ser recrutado para realizar determinado movimento e como que o cavalo respondia quando eu recrutava um músculo específico, ou quando colocava o apoio mais de um lado do que do outro.
Enfim, exploramos durante anos toda essa conexão entre o corpo humano, minhas respostas e do cavalo e com o passar do tempo busquei fazer alguns cursos específicos de biomecânica da equitação, que não existiam no Brasil, pois os cursos em âmbito nacional tratavam separadamente da biomecânica do cavalo ou da biomecânica do corpo humano, então resolvi trazer essa técnica ao Brasil.
Dentro desse busca por mais conhecimento sobre a biomecânica da equitação tive a oportunidade de aprender técnicas advindas de Portugal, Espanha, Canadá, Holanda, sistematizando de uma maneira teórica tudo aquilo que treinávamos sobre a sela.
Por alguns anos utilizava essas informações, a princípio, para mim, para o meu marido e para minha filha, que atualmente também é dona da Rider Biomechanics e também montam e dava aulas para alguns alunos que montavam e queriam aprimorar sua técnica corporal para o hipismo, e os resultados sempre foram surpreendentes.”

Como nasceu a Rider Biomechanics?
“Conversando sobre o assunto com minha filha Isabela Bártholo, que monta há 17 anos, sentia a diferença que os exercícios específicos para equitação estavam fazendo em sua montaria e tínhamos vontade de conseguir passar essas técnicas para outros atletas.
Então, há cerca dois anos, mais ou menos, fomos para a Quinta dos Mendes e conversando com a Marianna Mendes, surgiu o assunto da falta de preparo físico para atletas e praticantes do esporte equestre no Brasil, sentimos a necessidade de explorar esse tema de outra forma, com o objetivo de melhorar a qualidade do movimento do corpo humano relacionado ao movimento do cavalo, de forma sistematizada e profissional, oferecendo um serviço técnico específico.
Esse tema é pouco estudado e abordado no Brasil, mesmo tendo uma dimensão tão importante. A conexão do corpo humano com o movimento do cavalo é uma simbiose super importante, e é fundamental para o aprimoramento da técnica de equitar. Aqui no Brasil se trata o cavalo como um atleta (fisioterapia, exercícios, análise morfofuncional) e quase não se fala em preparação física específica para amazonas e os cavaleiros. É necessário dar atenção ao conjunto.
Assim surgiu a Rider Biomechanics, uma empresa de sociedade minha e da minha filha em parceria com a Quinta dos Mendes, através do objetivo de dar atenção ao corpo do atleta praticante do esporte equestre, fazendo a preparação física e reabilitação dos atletas de esportes equestres. Esse tipo de intervenção já existe nas modalidades como do futebol, vôlei, fórmula 1, arco e flecha, tiro, natação, por exemplo, e estamos iniciando com essas intervenções de treinamento físico para esportes equestres em geral.
A sede tem espaço próprio em Campinas/SP, onde ministro as aulas de solo, e na Quinta dos Mendes ficam os cavalos, que foram cuidadosamente preparados e treinados durante o ano para atender as necessidades especificas das aulas práticas sobre a sela.
São animais especiais, cavalos hiporeativos, que aceitam os materiais e exercícios sobre eles, aceitam tranquilamente erros dos comandos bem como entendem e auxiliam os alunos a realizar os comandos corretos. Enfim, animais preparados de acordo com a finalidade dos exercícios de posturologia e biomecânica da equitação.”

E como o aluno toma essa consciência corporal?
“A ideia é que o atleta através dos exercícios ministrados conheça melhor o próprio corpo, tenha um entendimento do movimento das próprias articulações e da própria musculatura. Durante os exercícios o aluno é incentivado a acionar a musculatura que precisa recrutar em cada movimento da equitação, aprende nomes e funções, onde se localizam, quais ângulos e direção de força ou relaxamento destas estruturas corporais, articulações e seu funcionamento.
Também aprende como realizar as alavancas, como funciona a transmissão de forças e seus conceitos. Enfim, no solo eu faço exercícios específicos onde o aluno, praticante do esporte, equestre, terá contato com o próprio corpo, vai conhecê-lo melhor.
Dessa forma, quando aplicar os mesmos exercícios em cima do cavalo, terá um entendimento maior sobre qual é o grupo muscular, articulação e/ou alavanca que deve recrutar para que tenha total conexão com o cavalo e para que o cavalo responda de determinada maneira.
Subdivido esses exercícios por níveis, de acordo com a experiência de cada cavaleiro ou de cada amazona. A depender do nível de equitação, seja básico ou avançado, o que serve para um não serve para o outro. Os exercícios de posturologia e biomecânica da equitação, sem dúvida, repercutem de maneira diferente em cada nível técnico do cavaleiro ou amazona.
Um iniciante, por exemplo, não terá a mesma experiência motora que um aluno mais avançado. Por outro lado, cavaleiros mais experientes têm mais vícios de postura, sendo assim a resposta corporal relacionada à eficácia do movimento depende muito do nível de entendimento e da disposição em enfrentar o novo.
O importante independente do nível, se iniciante ou atleta profissional, é se importar com a qualidade do movimento para realmente querer recrutar no próprio corpo com a finalidade de conseguir uma maior conexão com o seu cavalo. Esse é um processo desafiador e trabalhoso, mas é um caminho que vai além da melhora da performance em busca de resultados, promove o bem estar de cavalos e cavaleiros”.

Detalha mais um pouco sobre a sua técnica de posturologia e biomecânica da equitação.
“Este curso, antes de mais nada, tem como objetivo melhorar a qualidade do movimento de cavaleiros e amazonas em todos os momentos da equitação. Passa do entendimento de que seu corpo sobre o lombo de um cavalo se torna uma grande troca de informações através da integração e transmissão de forças entre a sua cadeia muscular e a do seu cavalo.
São ministrados exercícios físicos específicos através de recursos posturais e biomecânicos, próprios para quem é praticante de uma modalidade equestre. Trabalhamos com aulas práticas e teóricas. Começamos ensinando estes recursos corporais no chão – Move Flow – com aparelhagem especial. E finalizamos sob a sela – Move On Saddle – também com auxílio de bolas, rubber bands, faixas, entre outros equipamentos.
Explicando melhor, nas aulas no solo, usamos bolas de tamanhos variados, therabands, pesos, áxis, colchões, pranchas, discos de equilíbrio, jump e outros equipamentos apropriados para prática de exercícios físicos voltados para equitação. Direcionamos o trabalho para alinhamento da postura, consciência corporal, adequação de força e equilíbrio.
Enquanto no Move On Saddle aplicamos todos os princípios trabalhados no Move Flow, porém sobre a sela. Aqui são usados cavalos apropriados e treinados para estas atividades, como já disse acima.
É possível fazemos aulas de solo em grupo, com atividades variadas de preparação física para os atletas equestres, como alongamento, balance, mobilidade, liberação miofascial, postura, dentre outras. Mas também temos a oportunidade de preparar aulas direcionadas, como um personal rider.
Nesse caso a preparação física específica é ministrada de forma individual, de acordo com as necessidades de cada cavaleiro ou amazona. E ainda há a chance de uma aula de imersão, onde o aluno passa o dia todo voltado a esse aprendizado de posturologia e biomecânica”.

Os benefícios são bem amplos, não é mesmo?
“Sim. A periodicidade varia de acordo com a necessidade e objetivos de cada praticante desde um atleta que quer fazer um treinamento ou se teve uma lesão e quer se recuperar. Há pessoas que preferem cursos de imersão, enquanto outras optam pelas individuais. Personalizamos algumas atividades e oferecemos também opções semanais com aulas diferentes a cada semana. Todos com objetivos que servem para qualquer modalidade.
Na Rider Biomechanics preparação física para a melhora da performance, reabilitação e prevenção de lesões. Independente da modalidade, queremos preparar o corpo desse cavaleiro e dessa amazona para que eles tenham a melhor performance dentro das suas modalidades sendo que para cada uma temos um preparo diferente de acordo com as especificações.
Por exemplo, para atletas de Enduro trabalhamos resistência da muscular, para o Salto, equilíbrio dinâmico, alavancas joelho, quadril, tronco”.

Por fim, o que mais você acha importante falar sobre essa atividade?
“Acho importante ressaltar que são aulas específicas para quem monta. Recebo muitas mensagens de profissionais das áreas de fisioterapia e educação física interessados nas aulas da Rider Biomechanics que querem dar aulas para seus clientes. Mas para bem absorver nossas orientações é necessário ter um mínimo de experiência relacionada ao vocabulário motor de equitar.
Para deixar mais claro, vou usar o vôlei como exemplo. Se uma pessoa nunca jogou, não vai conseguir relacionar as dificuldades de movimentos relacionadas a impulsão para um bloqueio na rede por exemplo, pois não teve essa vivencia motora em quadra. Por isso, a Rider atende exclusivamente quem é praticante de algum esporte equestre.
Nossas aulas não conflitam em nada com o trabalho de equitação convencional, com os treinos específicos para cada modalidade, nosso objetivo é voltado a corporeidade do cavaleiro fazendo a conexão entre o corpo do cavaleiro e as respostas compensatórias advindas do cavalo. É importante frisamos isso, que eu não dou aula de equitação, mas sim de posturologia e biomecânica, de preparação física para o atleta do esporte equestre.”
Por Luciana Omena
Crédito das fotos: Arquivo Pessoal
Na foto de chamada: Move Flow – rédeas e alavancas de membros superiores
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