Aluisio Marins conta nesse artigo a respeito das batalhas do dia a dia de um treinador com cavalos mais difíceis
A vida de um treinador de cavalos não é simples. Apesar de fazermos o que sempre sonhamos e mais gostamos. De tal sorte que, muitas vezes, nos pegamos na rotina do dia a dia, buscando resultados. Quer seja com cavalos mais fáceis, quer com outros mais difíceis. Alguns mais agradáveis, outros nem tanto.
Com efeito, é algo que pode acontecer em qualquer profissão. A de treinador, sobretudo, tem suas coisas boas e ruins. Só para ilustrar, certa vez eu e minha assistente trabalhávamos um cavalo desses difíceis.
Foi domado no haras, ficou solto por mais ou menos um ano. Em seguida, foi preparado rapidamente para um leilão e veio para a UC. Era um cavalo inseguro, assustado, imagino que por ter sido preparado às pressas para o leilão.
Ao mesmo tempo, era um cavalo com muita qualidade, força e beleza. Contudo, não tinha segurança, pois isso nunca havia sido ensinado a ele. Ser seguro de si, confiar em si mesmo, ter aquela autoconfiança que muitos cavalos tem.
A pressa em ser montado depois de um tempo solto, a pressa em fazer o cavalo ficar pronto para ser vendido, a falta de critério para pensar no cavalo em si fez deste cavalo uma espécie de sofredor, sem resultados.
Atenção
Não é fácil trabalhar um cavalo como esse. Que se assusta, fica tenso, depois relaxa, fica calmo, do nada sobe a energia novamente. Enfim, é um pouco desorganizado mentalmente. De fato, muitas pessoas não acreditam nisso, e assumem tudo como ‘frescura’ ou ‘balda’. Mas não é. É insegurança e experiências ruins deixando em segundo planos os resultados esperados.
Antes de mais nada, ficamos no dia a dia com ele. Tentamos criar situações de calma e segurança através de exercícios de chão, trabalho de exterior, muito relaxamento. E ainda muito dos ‘desafios alcançáveis’ que temos em nosso campo na UC.
O colocamos no gado, trabalhamos na pista, galopamos na raia. Saímos bastante para a estrada. Dessa forma, aos poucos vimos um cavalo que oscilava entre ficar nervoso e se acalmar, se assustar e relaxar.
Logo depois tivemos uma semana boa, resultados e progresso. Com muita evolução em termos de repostas ao que estávamos trabalhando. Ele melhorou muito, embora ainda faltasse bastante, mas o progresso tinha sido bom.
No entanto, o mais importante disso tudo é que acreditamos no cavalo. Quando a gente acredita, as coisas acontecem como queremos com os cavalos. Porque quando acreditamos, mais de 50% das sensações que temos são transformadas em ações positivas quando estamos montados.
Talvez a vida de treinador possa ser como falamos no começo do texto. Mas não tem sensação melhor do que acreditar em um cavalo e ver ele te responder com confiança e muito esforço em tentar ser cada vez melhor…
Por Aluísio Marins
Médico Veterinário e reitor da UC, instruindo cavaleiros a mais de 20 anos
Foto: Ashely Keadle
Veja outras notícias no portal Cavalus