Rancho Mariana encara desafios na retomada de provas em meio à pandemia

A prova Rancho Mariana AO VIVO mostrou, sobretudo, um esforço conjunto para o retorno dos eventos equestres

Mariana Elui, do Rancho Mariana, que fica em Altinópolis, região de Ribeirão Preto/SP, realizou nos dias 26 e 27 de junho uma prova de Três Tambores seguindo um protocolo rígido em conjunto com a prefeitura municipal e escritório de defesa animal do município. Acima de tudo, Mariana expôs os desafios de se realizar um evento em meio à pandemia de Covid-19 que ainda assola o mundo.

Antes de mais nada, o evento – nomeado de Rancho Mariana AO VIVO -, que contou apenas com os competidores, staff, realizado sem público com transmissão online, foi um termômetro para os organizadores de provas de todo o Brasil. É importante frisar que a liberação depende das condições em que se encontram cada cidade e região no mapa do Estado em relação ao contágio do novo coronavírus.

De acordo com o SGP Sistema, foram computados 797 inscrições, 347 animais, 117 competidores e uma premiação distribuída de R$ 44.516,00. Nas linhas a seguir Mariana Elui contou em Live para o portal Cavalus como foi driblar os desafios e seguir todas as normas. Confira!

O Rancho Mariana AO VIVO mostrou, sobretudo, um esforço conjunto para o retorno dos eventos equestres e expõe os desafios
Entre as medidas para que o evento ocorresse no Rancho Mariana, o uso de máscaras era obrigatório

Decisão

“Depois de maio, quando cancelamos o Mega Show, nossa prova anual aqui no Rancho Mariana, onde também realizaríamos a última etapa do nosso campeonato, pensamos muito como seria se caso pudéssemos fazer em outro momento. Principalmente, levando em consideração todas as pessoas que não se sentiriam seguras por conta da crise da Covid-19 em não estar presentes.

No começo de junho, voltamos a considerar realizar um evento, ao mesmo tempo em que saiu portaria da Coordenadoria de Defesa Agropecuária-09, publicada no Diário Oficial da União em 6 de junho. Decidimos uma data e começamos a correr atrás de todos os preparativos, praticamente aos 45 do segundo tempo (risos). Aglomeração animal não está proibida e com o novo decreto e liberação do Escritório de Defesa Animal (EDA), dependíamos da liberação da prefeitura”.

Primeiros passos

“Como o rancho é uma propriedade privada, nós já éramos isentos de alvará. Contudo, nesse momento atual, o EDA nos pediu – para liberar o código para que as pessoas tirassem o GTA -, um documento de liberação da prefeitura. Fizemos diversas reuniões com o prefeito expondo toda a nossa ideia.

Só para ilustrar, dede o começo expomos que faríamos o evento bastante restrito, com o mínimo de pessoas no local, tendo a transmissão ao vivo pela internet – dessa forma só os competidores foram e o restante assistiu de casa – e ainda buscamos uma forma de adicionar o cunho social também.

Por isso entramos em contato com o Hospital de Amor (Barretos) e adicionamos um QR Code à tela da nossa transmissão. Indo de encontro com o que temos visto nas lives e que concordamos 100%. O prefeito, então, submeteu o projeto para outras pessoas dentro da prefeitura e eles aprovaram. Fiz um oficio detalhando todas as medidas que definimos para realizar um controle total das regras”.

O Rancho Mariana AO VIVO mostrou, sobretudo, um esforço conjunto para o retorno dos eventos equestres e expõe os desafios
Logo na entada do Rancho Mariana foi seguido protocolo rígido que inclui aferição de temperatura de todos

Andamento das tratativas

“Como agora aqui na região de Ribeirão Preto é época de colheita de café, vindo muita gente de fora, a Secretaria de Saúde e a Vigilância Sanitária já haviam feito um protocolo para que as essas pessoas pudessem circular e fazer esse trabalho. Somos produtores de café também e com posse desse documento, entre outros, adequamos essas exigências ao nosso esporte e ao modelo de evento que tínhamos em mente.

Até que tudo estar 100% definido, adicionamos alguns pontos pedidos pela prefeitura, nos adaptamos e deu certo. Contudo, essa liberação definitiva saiu bem em cima da hora. Ficamos esperando e nos demos um prazo até quarta-feira (10 dias) antes da data. Se não saísse nesse dia não íamos fazer. Na data que estimamos recebemos a boa notícia às 16h e partimos para a execução de tudo que tínhamos planejado”.

Na prática

“Um dos acordos que fizemos com a prefeitura era de que a prova acabasse no sábado às 20h. Com base no número de passadas que sabemos que conseguimos tocar por hora, fizemos a conta de 500 inscrições para o sábado, que foi o dia das categorias oficiais. E abrimos mais 300 para o test-horse na sexta, totalizando o máximo de 800 inscrições.

Então, lançamos a prova e demos um prazo para inscrição, pois precisávamos limitar o número de inscritos. Abrimos na segunda (na semana da prova) e as vagas acabaram rápido. Outro ponto, além das inscrições obrigatoriamente antecipadas, os pagamentos também foram fotos feitos por depósito ou transferência antes da prova.

Portanto, a secretaria ficou resguardada de filas e aglomerações, servindo de apoio. Tivemos, entretanto, um número irrisório de pessoas que se dirigiram até lá, para um acerto mínimo. Em conseqüência desse modelo, conseguimos organizar toda a conferência dos recebimentos e separar toda a premiação com antecedência. O que adiantou também o pagamento da premiação aos campeões.

A prova acabou pouco antes das 20h e às 20h20 já tínhamos encerrado a secretaria. E, principalmente, não geramos aglomeração para o recebimento das premiações, pois toda essa organização ajudou para que não se formasse filas. Algumas pessoas preferiram receber via depósito posteriormente. Também não fizemos premiação na pista, só chamamos o campeão para o galope da vitória. Fizemos um troféu simbólico, para constar, e deixamos na secretaria. Especialmente pelas crianças. Deu tudo certo”.

Espalhadas por diversos locais no Rancho Mariana, placas sinalizavam os cuidados que todos devem tomar durante o evento

Algumas regras

“Na entrada, cada veículo era atendido um por vez. Não só os caminhões, mas também trailer e carros. Essa parte foi a que ficamos mais apreensivos, pois era o primeiro contato com as pessoas. Era ali que podíamos garantir a maior segurança possível para todos. O pessoal que trabalhou comigo foi perfeito nesse sentido. Por conta da gravidez eu não cheguei perto de algumas áreas, mas repassamos tudo diversas vezes para que nada saísse errado.

Assim sendo, uma pessoa por vez saía do veículo, era aferida a temperatura, estando tudo certo ele assinava um termo em que atestava que não tinha tido contato ou sintomas nos 14 dias anteriores, que sabiam dos riscos caso eles mesmos não cumprissem as exigências do regulamento. Dai seguiam para o desembarque dos cavalos se fosse caminhão ou trailer e os carros seguiam para o estacionamento. Todos tinham uma pulseira de identificação para ajudar no controle.

Liberamos a entrada somente na sexta de manhã, mas até a hora do almoço, seguindo rigidamente o procedimento de admissão, todo mundo estava dentro e a tarde começamos o test-horse. Importante lembrar que puderam entrar menores de idade, onde os termos foram assinados pelos pais. E ainda o número de auxiliares por treinador teve limite, assim como um motorista por veículo”.

Controle

“Talvez a área do padock foi a que precisamos ficar mais em cima. Na sexta, no test-horse, orientamos todo mundo e observamos como seria o comportamento. Muita gente foi só para correr no sábado, o número de pessoas aumentou, mas colocamos seguranças em todas as entradas e todos com lista para poder liberar apenas os daquela bateria. Com as inscrições antecipadas também conseguimos estimar os horários de cada categoria e soltamos essa previsão.

Desse modo, todo mundo tinha ideia do horário que ia correr e respeitou a circulação nesse sentido. Só subindo mesmo para o padock e pista no momento da sua bateria. Os treinadores foram ótimos em colaborar com as regras, os competidores também. Todos usaram máscara, por exemplo, só sendo permitido ficar sem no momento da passada. Caso alguém passasse e visse sem mascara, cobrávamos sempre.

Tivemos um pouco de trabalho com o pessoal que tentou se acercar da pista para assistir. Mas com muita calma explicamos que não era um evento para isso, era uma prova apenas para quem fosse correr, entrar na pista e depois ir embora. Para assistir deveria aproveitar realmente a transmissão online que o Beto fez com maestria.

Fechamos o acesso às arquibancadas e todas as áreas comuns. Não tivemos problemas quanto a isso, todo mundo respeitou. O restaurante estava aberto com serviço de pegue e leve. Com o regulamento, todo mundo estava ciente que era proibido confraternizar, um ponto que foi acatado 100%. Se alguém descumpriu escondeu bem, pois não vimos nada nesse sentido. Cada um no seu caminhão ou trailer, sem ir para o do vizinho. Sabemos que temos muito a melhorar se houver uma próxima nesse formato, mas no geral foi ótimo”.

O Rancho Mariana AO VIVO mostrou, sobretudo, um esforço conjunto para o retorno dos eventos equestres e expõe os desafios
O saldo ao final foi totalmente positivo

Higienização

“Fizemos uma higienização geral no rancho antes do começo da prova. Especialmente depois de montadas as baias. Então todos os lugares foram higienizados antes de todo mundo chegar. Durante o evento, uma pessoa ficou responsável por pulverizar a pista com uma solução de água sanitária, de meia em meia hora, mais ou menos.

Principalmente no padock, as ferragens e qualquer lugar onde as pessoas pudessem encostar. Além disso, os banheiros também eram pulverizados a todo instante. Todas as entradas possuíam álcool em gel, como pista, restaurante, secretaria, e nos banheiros sabão antibacteriano. Essa parte não deu trabalho nenhum”.

Custo

“Estimamos um custo de 20 a 30% maior do que em prova comum, a contar tudo que precisamos adicionar para seguir o protocolo. Ao todo, circularam 248 pessoas, nos dois dias, contando com staff, competidores e seus apoios. De 20 pessoas que costumamos ter na equipe, chegamos a 35 trabalhando nesse evento. Ou seja, quase dobramos para que tudo saísse como necessário.

Ainda não sabemos como as coisas vão se desenrolar, não sei quando faremos outra prova. Em agosto temos data, mas tem muita água para rolar debaixo da ponte”.

Placa interna na pista do Rancho Mariana informa que a área de arquibancada está interditada

Desafio e Dicas

“O maior desafio foi, sem dúvida, a liberação. Depois, toda a organização. Imaginar como fazer tudo, planejar, ter a equipe toda trabalhando junto em tudo. Tivemos que antever e programar como faríamos, cientes de que não íamos poder ceder de jeito nenhum em nenhum ponto. Minha equipe e todo mundo ao redor que participou como staff falou a mesma língua. Em hipótese nenhuma podíamos fazer diferente do que foi combinado com a prefeitura, então tomamos todos os cuidados possíveis.

Se eu puder dar dicas para outro organizador, em primeiro lugar, pense duas vezes, porque é trabalhoso. Também não indico fazer algo com mais de dois dias de prova, pois quanto mais tempo tiver as pessoas no local, pode dificultar de se manter as regras, já que a tendência do ser humano é relaxar.

Temos que seguir à risca do começo ao fim para não ter colocar os esforços de todos a perder. Tivemos apoio da prefeitura, do Ministério Público, Escritório de Defesa Animal, todos cientes do plano e cumprimos tudo. A Vigilância Sanitária esteve no rancho, acompanhou de perto o que fizemos. Outro ponto a se pensar é evitar ao máximo a ida à cidade das pessoas que vão ao evento, para minimizar os riscos à população não envolvida”.

Balanço

“A transmissão que o Beto Negrão fez nos deu números muito bons. Picos de mil pessoas assistindo de forma simultânea e 24 mil acessos no total. Isso no sábado, o dia que transmitimos. Realmente fiz essa prova pensando no bem comum. Como consegui a liberação, o foco total foi para que desse certo, a fim de tentar abrir portas para outros lugares e competições. Não teve nenhum apelo financeiro.

Há dez anos organizamos provas e essa foi totalmente diferente, deu muito mais trabalho, preocupação e atenção de fazer o que acordamos, cumprir tudo à risca. Quem for fazer prova tem que estar, de fato, 100% comprometido a seguir o protocolo e regulamentos aprovados.”

Por Luciana Omena
Colaboração: Verônica Formigoni
Crédito da foto: Divulgação/Beto Negrão

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