Análise do título mundial de Jess Lockwood na PBR

Convidamos nosso parceiro e especialista em montaria em touros Abner Henrique para analisar o resultado do campeonato mundial da PBR

As redes sociais da PBR americana foram inundadas de comentários indignados de brasileiros apontando que o título mundial de Jess Lockwood havia sido ganho de forma ilícita. Por esse motivo, convidamos nosso parceiro e especialista no assunto, Abner Henrique, para fazer uma análise desse resultado.

Se você não acompanhou o campeonato mundial da PBR esse ano e seu desfecho, clique aqui. Até entendemos que os fãs fiquem entristecidos pela perda do título, já que todas as apostas estavam a favor do brasileiro José Vitor Leme. Contudo, por em dúvida a idoneidade de uma instituição respeitada já é outro assunto. Vamos acompanhar a análise abaixo para entender melhor!

“O 15° título mundial conquistado pelos norte-americanos na Professional Bull Riders [dia 10 de novembro de 2019] trouxe novamente a tona uma série de reclamações e teorias da conspiração por parte da torcida brasileira.

Com isto, qualquer dado, índice ou lógica da competição fica em segundo plano, prevalecendo a narrativa de que brasileiro sempre é prejudicado. Narrativa, aliás, que não havia em 2017, quando os dois principais concorrentes ao título eram norte-americanos. Muito menos em 2018, quando o título foi decidido somente entre brasileiros.

Antes de tudo é preciso esclarecer que sim, em certos momentos há um favorecimento aos norte-americanos. Algo presente em todos os esportes disputados nos Estados Unidos, por questões de mercado.

Se o campeonato mundial de montaria em touros fosse no Brasil, não haveria favorecimento aos nossos competidores? Mas esse favorecimento não é em tempo integral. Afinal, temos dez títulos mundiais da PBR, conquistados nos mesmos lugares, com as mesmas regras e os mesmos juízes do título deste ano.

José cumprimenta Lockwood logo após a última montaria

Dados

Há outro importante esclarecimento a respeito deste tal ‘favorecimento’ que precisa ser feito. Quando se trata de montaria em touros, não há favorecimento que dê jeito em competidor que não para os oito segundos sobre seu touro.

Ou seja, a torcida brasileira ao buscar uma desculpa por não conquistar um título, ignora totalmente o fato de que existem norte-americanos extremamente talentosos e competentes, sem dúvida. E que caso eles não permanecessem em cima de seus touros, não havia juiz capaz de dar o famoso ‘jeitinho’ nisso.

Posto isso, vamos aos dados matemáticos. Ao contrário dos pontos expressados acima, não deixam margem para argumentos ou outros pontos de vista. Com números ou é ou não é, simples.

Jess Lockwood chegou a PBR World Finals com uma diferença de apenas 749 pontos a menos em relação ao líder José Vitor Leme. Dos quatro principais concorrentes ao título, ele foi o que parou mais vezes em seus touros durante a Final Mundial, obtendo nota em cinco dos seis que montou.

Com isso, como a montaria em touros é uma competição somatória, pelas regras matemáticas, independente do sistema de pontos confuso da PBR, ele terminou a frente de seus concorrentes. O que deu a ele 1500 pontos de bônus por ser o campeão da etapa.

Esse total é maior que a soma da diferença inicial entre ele, até então segundo colocado do ranking, e José Vitor, o líder. Na Final Mundial, objeto de nossa análise, José Vitor Leme obteve 663 pontos. Que somados aos 749 dá um total de 1412 pontos.

Análise do título mundial de Jess Lockwood na PBR
Fotos: André Silva | PBR

Conclusão

Portanto, não importa o que houve durante as noites anteriores a decisiva. Se as notas de Jess foram maiores do que mereciam, se por conta disso ele ganhou mais bônus. Pois como dissemos acima, não há juiz no mundo que faça um competidor parar ou cair de seu touro.

No final das contas, o que importou mesmo e que influenciou de verdade a decisão do título, foi que Jess teve mais paradas que José Vitor. Na pior das hipóteses, sem as tais ‘notas altas’ que todo mundo ficou falando que eram injustas, o americano ficaria na segunda posição do evento, recebendo 720 pontos.

Voltamos à matemática. Neste cenário, restaria um déficit de 692 pontos, que seria tirado nos bônus do round. Afinal, até quem concorda que houve favorecimento, sabe que as montaria de Jess ficaram entre as dez melhores de cada rodada. Ou seja, ele receberia bônus todas as noites.

Analisando a temporada toda, quando questionam o merecimento, Jess Lockwood obteve nota em 64% dos touros que montou em 2019. O melhor aproveitamento desde 2011. Somente na principal divisão da PBR foram 68% de aproveitamento para ele, um dos maiores índices da história. E ainda 23% maior que o aproveitamento de José Vitor Leme.

O norte-americano competiu em nove eventos a menos que o brasileiro, devido a uma fratura na clavícula sofrida em fevereiro. Quando se lesionou, ele liderava o ranking com folga e demorou quatro etapas para perder a liderança. E mesmo quando voltou quase três meses depois, ainda era o quarto melhor do mundo devido a seu desempenho no início da temporada.

Queríamos o Vitinho campeão? Sim. Mas Jess Lockwood foi superior na reta final e merece todas as glórias desse bicampeonato!”

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