Atletas ucranianas do Salto Equestre reportam sua rotina de treinos

Primeira equipe do país no salto internacional, atletas relembram a fuga do país de origem e a adaptação na Eslováquia

Se a preparação para participar de provas é intensa e desgastante, imagine fazer isso em meio a uma guerra em seu país, com você fugindo tentando garantir a sua vida.

De fato, não existe maneira fácil de se preparar para uma competição internacional, mas cinco ucranianas saltadoras equestres Polina Shovkova (14), as irmãs Katya (14) e Jenya (11) Panasenko, Sonia Shulga (14) e Marta Lopaienko (15) mostraram que mais do que força de vontade, é preciso ter coragem para se preparar.

As atletas são a primeira equipe a representar a Ucrânia no salto internacional, enquanto participam da competição de uma estrela em Kaposvár, na Hungria.

A participação da equipe em Kaposvár ocorreu poucos meses depois de elas fugirem de sua cidade natal, Poltova, para escapar da guerra.

Atualmente, elas estão vivendo e treinando em Bernolákovo, um subúrbio de Bratislava, na Eslováquia, onde foram recebidas por membros da comunidade local de Vaulting e apoiadas financeiramente pelo Fundo de Solidariedade da Federação Equestre Internacional (FEI).

As atletas afirmam que estão em fase de adaptação no país, se acostumando com os cavalos. “Não nos sentimos muito à vontade com os cavalos daqui da Eslováquia no início, porque eles são maiores e têm um ritmo diferente dos nossos cavalos”, comentou Marta Lopaienko.

E as dificuldades não pararam por ai, afinal, elas não tiveram nenhuma competição na Ucrânia, pois são a primeira equipe de salto.

“Estávamos um pouco preocupadas em participar da nossa primeira competição internacional e foi importante para nós. Mas como Katya, nossa treinadora da Ucrânia, sempre diz: Você tem que fazer essa performance só para você”, reforçou a atleta.

Anthony Bro-Petit, de 29 anos, está acompanhando as atletas ucranianas. Ex- competidor internacional da França, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da infraestrutura esportiva do Vaulting, na Ucrânia antes da guerra.

“Preparar jovens atletas para uma competição ou um campeonato é sempre difícil porque, mesmo motivados, o foco mental é muito difícil de manter. A guerra acrescentou uma camada extra de dificuldade mental para essas meninas. Não é fácil se concentrar totalmente em seu treinamento quando você sabe que sua família não está segura”, afirmou Bro-Petit.

Ele ainda ressaltou que, pela pouca idade das atletas, é difícil mensurar o quanto ele pode incentivá-las. “As meninas ainda são muito jovens e é difícil saber o quanto posso empurrá-las durante o treino. Mas esta é uma boa experiência de aprendizagem para mim. Ainda estou aprendendo como treinador e tenho que desenvolver minhas habilidades”, afirmou.

Bro-Petit ainda ressaltou que as atletas, com certeza, teriam sido capazes de treinar mais adequadamente se não houvesse a guerra.  “Mas a equipe foi muito bem em sua primeira competição internacional e agora sabemos em quais aspectos precisamos focar mais durante nosso treinamento”.

Com a experiência de competição em Kaposvár no currículo, a equipe agora está de olho na competição internacional de salto que será realizada em Samorin, na Eslováquia no próximo mês.  

Mudança das atletas ucranianas para Eslováquia

Marta contou que a equipe soube que teria que deixar Poltava cerca de uma semana antes da data. “Pensávamos primeiro que iríamos para França, mas dois dias antes de partirmos disseram-nos que iríamos para a Eslováquia”, relembra.

O percurso que seria feito em um dia em condições normais, durou três dias por causa dos constantes engarrafamentos, até que a equipe chegou a fronteira com a Eslováquia.

“Na primeira noite não paramos e continuamos. Mas na segunda noite, paramos perto das montanhas dos Cárpatos e ficamos em um apartamento com apenas dois quartos. Haviam quinze atletas, e eu e as meninas dormimos em um sofá, e os outros dormiam no chão. Então, no terceiro dia, cruzamos a fronteira muito rapidamente. Pensamos que seria lento com todo o tráfego, mas atravessamos muito rápido”, relembra Marta. 

A viagem foi tão desgastante que, ao cruzar a fronteira, todos começaram a chorar.

A treinadora da equipe Kateryna (Katya) Andreiva e seu filho de 18 meses David, bem como três mães das atletas acompanharam as Vaulters à Eslováquia, enquanto outros membros de suas famílias permaneceram na Ucrânia. E essa situação tem causado muita angústia à mãe de Katya e Jenya, Ekateryna. “Quando você vem da guerra, pensa que teria sido melhor ficar em casa porque sua mente não pode se sentir segura”, disse Ekateryna.

“É mais difícil estar em um país seguro porque você se sente culpada por deixar sua família. Minha mãe está na região de Kharkiv e eu sei que ela está em um abrigo antiaéreo enquanto eu estou aqui na Eslováquia. Mas somos mães e tudo o que fazemos, fazemos pelos nossos filhos. Você não pensa em você. Você só pensa em seus filhos”, afirma. 

Rotina de treinos

As Vaulters estabeleceram uma rotina na escola local que atualmente abriga o grupo de Poltava, bem como 40 refugiados de outras partes da Ucrânia. As meninas começam todas as manhãs participando de aulas on-line com sua escola em Poltova, o que as deixa livres o resto do dia para treinar na escola de equitação local e no ginásio da escola que tem um cavalo mecânico e barris.  

“É bom ver que as meninas estão treinando muito duro”, disse a Secretária Geral da Federação Equestre Eslovaca, Zuzana Bačiak Masaryková.

As Vaulters e suas mães ainda esperam poder voltar para casa em Poltava após a competição em Samorin, que acontecerá de 9 a 12 de junho.  Até lá, as meninas estão determinadas a continuar seu treinamento. “Não temos certeza se o Vaulting é nosso esporte a longo prazo, mas em 2023, nosso objetivo é participar do Campeonato Mundial de Vaulting e vamos treinar muito para isso”, finalizou Marta.

 Por: FEI

Fotos: Richard Julliart 

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