Como os dois laçadores brasileiros encararam a temporada 2017 e a expectativa para a grande final mundial
A National Finals Rodeo já acabou, mas a gente não se cansa de repercutir os acontecimentos. São dez dias mágicos! E ainda mais quando temos dois brasileiros tão especiais marcando a vida das pessoas que curtem o esporte. Não é apenas sobre ganhar dinheiro, mas sim mostrar que qualquer sonho é possível, basta acreditar nele e seguir os caminhos para alcançá-lo, mesmo que seja algo que pareça inatingível a princípio.
E foi assim que embarcaram os dois, em épocas diferentes, mas no mesmo ano – 2014 – para os Estados Unidos. Lucinei Nunes Nogueira Junior e Marcos Alan Kachorroski Costa foram fazer o que todos os outros competidores desejam: buscar uma vaga na tão almejada final mundial da Professional Rodeo Cowboys Association. Talento, ok, os dois têm de sobra. Humildade e perseverança, ok também, mostravam isso aqui no Brasil e ficou ainda mais evidente lá. Só bastou somar tudo com uma dose de coragem para deixar a vida para trás e construir um novo capítulo na árdua temporada americana.
Junior Nogueira e Kaleb Driggers NFR 2017Na avaliação de Juninho Nogueira, 2017 foi uma temporada excelente para ele. Apesar de não terem entrado em tantas finais do meio para o fim do ano, ele e o parceiro Kaleb Driggers ganharam muitos rodeios em 2017. E também muitas provas importantes, como a Wild Fare Arena, em Saledo/TX, e o rodeio de San Antonio, também no Texas. Para se ter uma sintonia boa no Laço em Dupla é preciso conhecer bem o parceiro, se dar bem fora das pistas também, entrosar. E assim acontece com Juninho e Kaleb Driggers, seu parceiro desde o final de 2016.
“Nos damos muito bem, ele é muito bom parceiro. Temos a mesma idade também, pensamos parecido. Quando estamos em casa, treinamos muito, laçamos uma média de 30 bois por dia. Usamos um cavalo de treino, eu tenho o meu e ele o dele, e os utilizamos para lapidar o nosso entrosamento. Procuramos manter os cavalos oficiais, os que vão para os rodeios, trabalhando e em forma, nos treinos laçamos menos bois com eles. Vamos continuar laçando juntos para 2018, chegamos muito perto do título e queremos fazer outra boa temporada e chegar novamente na Finals”, conta Testinha.
Ele sempre teve o sonho de ir para os Estados Unidos e quando decidiu ficar lá para valer, se doou ao máximo para que desse certo. “Sempre quis isso tudo, chegar nesse patamar. Aprendi muito com o Jake (Barnes, sete vezes campeão mundial), ele foi meu grande professor aqui, me ensinou como estar entre os melhores. Para ser destaque aqui temos que ter algum diferencial, porque são muitos os bons atletas que encontramos em todos os lugares, profissionais, nascidos e criados na cultura americana, acostumados desde novo com a rotina da PRCA. Fazer o que faço é muito difícil. Converso muito com o Marquinhos (Marcos Alan Costa) e sempre falamos da saudade de casa. Tudo que fazemos aqui é contra a nossa natureza, ou seja, a maneira como fomos criados e estávamos acostumados no Brasil, então temos que trabalhar dobrado. Trabalhar nossa cabeça também para ficar focado, porque se nos distraímos com algo só atrapalha o nosso desempenho”.
Os brasileiros na abertura da NFRJuninho faz questão de reforçar que tudo que vem acontecendo com ele nos últimos quatro anos tem a mão de Deus. “Deus tem sido maravilhoso comigo. Tudo que acontece aqui é a mão de Deus a cada dia e a promessa de Deus cumprindo na minha vida. Só tenho agradecer a Ele e falar para todo mundo que foi Ele que abriu as porta para mim e me levou nos lugares certos. Se não fosse Ele, seria praticamente impossível fazer o que fazemos aqui. Ainda bem que para Deus nada é impossível”.
E a estratégia para a NFR esse ano foi a de tentar laçar mais tranquilo. “A pressão é grande, passamos o ano inteiro na estrada focados em chegar a Las Vegas. Conquistar esse título é meu sonho, mas eu sempre pensei em um round por vez, laçar com calma, pensar só na prova em si, fazer o que a gente faz o ano todo, esquecer a fivela um pouco para ter mais tranquilidade round a round. Se fosse da vontade de Deus, nós teríamos sido campeões esse ano. Se não foi dessa vez, também estou contente com tudo que estamos fazendo e por estar na Finals mais um ano”.
Para se ter uma ideia, os meninos tem que laçar em uma média de 75 rodeios por temporada para ter a chance de classificar. Claro, contanto que em cada um deles cheguem à premiação e somem dólares ao ranking. Nas vitórias da dupla em 2017, estão os rodeios de Cody (Wyo.), Clovis (Calif.), Nampa (Idaho), Estes Park (Colo.), Abilene (Texas), Wolf Point (Mont.), Redding (Calif.), Sioux Falls (S.D.), Cleburne (Texas), Window Rock (Ariz.) e Santa Maria (Calif.). Com quatro anos de PRCA, Juninho tem quatro NFR’s no currículo. São dois vice-campeonatos mundiais (2016 e 2017) e um título de All-Around (2016). Ano passado ele se tornou primeiro brasileiro a levar uma fivela de ouro da PRCA. Esse prêmio é dado aos competidores que pontuam na temporada em mais de uma modalidade. Em 2014 ele também foi coroado o Rookie Of The Year (novato do ano) de Laço Pé da PRCA.
Marcos Costa NFR 2017Já Marcos Alan avalia sua temporada como muito dura. Com a companhia apenas da noiva Keyla Polizelo, eles cortaram cerca de 17 estados sozinhos, contato um com a ajuda do outro somente. Revezaram na direção, pois as viagens são diárias, de um rodeio para o outro. Ele também teve um animal lesionado, o que dificulta um pouco. Uma das coisas mais complicadas da temporada americana, ele lembra, é o pouco tempo disponível para o treino. A maioria das horas passam na estrada para dar conta do número de etapas que um atleta de alto rendimento tem que cumprir para estar entre os melhores do ranking.
“O mais importante mesmo é não deixar nem os erros e nem os êxitos afetarem a concentração que temos. Errou, vamos aprender e bola para frente. Voltamos vencedores, ótimo, mas também no dia seguinte a batalha continua. A temporada é bem apertada e temos que estar 100% sempre para o desempenho não cair muito. Cabeça bem focada e sempre levantada para seguir em frente”, relembra Marquinhos.
Ele também, assim como Testinha, credita a Deus todas as suas conquistas. O ano de 2013 e o começo de 2014 estavam sendo ótimos para ele no Brasil, ganhando quase todas as provas, e ai pum, mudou para os Estados Unidos. “Foram dois presentes que eu ganhei ao mesmo tempo. Conheci a Keyla e na mesma semana recebi o convite do Stran Smith para vir laçar nos Estados Unidos. A proposta não incluía ajuda financeira, apenas se eu teria coragem de largar tudo para trás. É a primeira vez que estou falando isso, muita gente não sabe. Eu deixei meus cavalos, cavalos de nível alto em técnica e cronômetro, deixei minha família e uma ótima fase nas provas, e vim começar do zero. Inclusive, o mesmo que a Keyla fez anos depois. E vem dando certo, mas foi uma longa caminhada, que ainda tem muito chão pela frente, se Deus quiser. Quando a gente trabalha tudo e coloca Deus na frente, as coisas acontecem. Sou um cara abençoado e bem realizado. Se morresse hoje, morreria feliz”.
Estratégia para Vegas, ele disse que não tinha nenhuma. Só deixar na mão de Deus, chegar lá e laçar o melhor que conseguir, trabalhar em cima do bezerro sorteado e ver no que dá. Era assim que o mais novo campeão mundial pensava antes da Final começar. Mas para isso, ele treinou e se preparou muito. Após o encerramento da temporada regular, em setembro Marcos Alan intensificou os treinos. Nesse meio tempo, ganhou o bicampeonato mundial AQHA e o All American Finals. “A gente sempre espera o melhor. Me preparei o máximo possível para essa final. Aprendendo sempre com meus erros e a ideia era tentar dar o meu melhor. Só de estar lá é algo único na vida de um competidor, que não dura para sempre. Já me sentia abençoado de ter me classificado. Mas não é fácil, requer muita concentração, treino, cabeça boa. Eu estava confiante, porque sei que Deus tem o melhor para nós, sempre”.
Com regularidade, laçando um boi por dia, como ele tinha previsto, chegou ao décimo round com chances reais de título. De quarto lugar no mundial já era segundo e uma combinação de resultados lhe daria a fivela. E foi isso que aconteceu! Após quatro anos na América, com três qualificações para a NFR, ele chegou ao topo do mundo no Tie-Down Roping. Terminou a temporada com US$ 317.421,33 e, além do mundial, também levou o título da etapa , com 81s30 em dez bezerros laçados, e um prêmio extra como o competidor que mais somou ganhos nessa final. Entre os rodeios que ele ganhou em 2017, Denver (Colo.), Pecos (Texas), Pleasant Grove (Utah), Weatherford (Texas), Rapid City (S.D.), Burley (Idaho), Waco (Texas), Redding (Calif.), Texarkana (Ark.).
A temporada 2018 já começou, ela vai de outubro a setembro. Junior Nogueira ainda não pontuou no Laço Pé, mas Marcos Alan sim, e lidera no ranking no Laço Individual, com US$ 16.784,68.
Por Luciana Omena