Depois de uma vida inteira aprendendo o que faz um bom parceiro, encontrei Junior Nogueira
Muitas pessoas acham que você só tem que trabalhar duro se quiser ser o melhor. Mas laçar é apenas metade da equipe. A outra metade é o seu relacionamento com o seu parceiro. É com ele que você passa a maior parte do seu ano. O tempo que passam juntos na pista é só uma fração, a maior parte é fora dela. A temporada é longa se você não se dá bem com o seu parceiro.
Passei a vida inteira aprendendo a laçar e demorei para descobrir o que faz uma boa parceria. Uma das minhas primeiras lições aconteceu quando eu tinha onze anos de idade. Estávamos em Marianna, Flórida, pela US Team Roping Championships. Eu laçava pé nessa época e não tem um parceiro fixo.
Fiz uma parceria com um cabeceiro da minha idade e estávamos muito bem. Depois de três rodadas, fomos os mais rápidos na média indo para o short-go. Como a final aconteceu da maior para a menor média, fomos os últimos e entrar na pista e sabíamos exatamente o que tínhamos que fazer para ganhar.
Kaleb Driggers e Junior Nogueira estão entre as melhores duplas do mundoEu era muito novo, foi a minha primeira vez em uma situação como essa, e estava muito animado. Tudo que precisávamos fazer era sermos suaves e laçar. Mas meu parceiro quebrou a barreira e eu acabei ficando com raiva, puxei a corda de volta com raiva. Depois da prova, meu pai me encontrou no trailer e me disse: ‘Não é assim que fazemos as coisas, filho. Estamos aqui nos divertindo. Todo mundo vai cometer um erro um dia. Você só precisa estar pronto para fazer tudo certo na próxima vez que estiver oportunidade’.
Eu tinha lágrimas nos olhos. Meu pai ainda falou: ‘Podia ter sido você a estragar tudo. Como você se sentiria se ele agisse dessa maneira em relação a você?’ Eu entendi. E fui me desculpar com meu amigo. Nunca fiz nada assim novamente. Na minha opinião, é isso que você precisa fazer se quiser vencer.
Meu pai sempre foi louco pelo Team Roping e perto de casa tinha lugar de sobra para gente treinar. Era o que fazíamos nos finais de semana: Laçar, comer e sair com a família. Eu laço desde os quatro anos. Meu primeiro parceiro profissional foi Brad Culpepper. Eu o conheci em Albany, Georgia, depois que minha família se mudou de Hoboken para lá. Ele era vinte anos mais velho que eu e me ‘adotou’.
Em 2009 comprei meu Card da PRCA e fomos para a estrada. Com Brad, pude aprender cada detalhe do circuito, quais rodeios ir, qual era o melhor itinerário, a melhor estratégia. Ele me ensinou muito. Em 2010, me uni a Cody Doescher, não fomos tão bem como gostaria, e no fim da temporada passei a laçar com Travis Woodard. Em 2011, Brad me chamou novamente, e me deu outra chance. Chegamos a NFR.
Nos três anos seguintes, fiz parceria com outros bons laçadores, Jade Corkill, Travis Graves e Patrick Smith, e consegui chegar a NFR com eles. Quando conheci o Junior Nogueira, ele não sabia falar inglês, então não conseguia conversar com ele. Isso foi em 2014. Junior tinha acabado de chegar do Brasil e estava laçando com Jake Barnes.
No meio do ano seguinte, eu e Junior nos unimos como segundos parceiros em alguns jackpots. Já conseguíamos conversar mais por mensagem de texto, que ele traduzia pelo telefone. Tivemos algum sucesso como segundos parceiros. Mais tarde naquele ano, eu perguntei a ele sobre a possibilidade de formarmos uma dupla oficial em 2016. Sabia que seria uma decisão difícil para ele, porque Jake o levou sob sua asa do mesmo eito que Brad fez comigo. Para minha sorte, Junior disse que sim e fizemos uma parceria em 2016.
Achar um parceiro que você confie é essencialJunior é um pezeiro fenomenal. Ele tem mais talento do que qualquer um com quem eu já lacei. Ele é alto e comprido. Isso da a ele uma vantagem enorme. Ele é um ótimo cavaleiro e se dedica aos seus cavalos, os prepara e os treina.
Eu realmente respeito a forma dele montar e laçar, e ele respeita minhas habilidades. Isso naturalmente ajuda a parceria. Nós também temos a mesma mentalidade. Mesmo que ele seja de um país diferente, falamos sobre coisas. Nossos valores e morais se alinham. Ele é um cara de família. Eu sou um cara de família. Eu tenho uma noiva. Ele tem uma namorada. Antes do Junior, sempre me envolvi com caras que eram mais velhos que eu. Eles eram casados com filhos e tinham prioridades diferentes. Eu e Junior estamos no mesmo lugar da vida.
No começo, Junior morava com Jake ainda e sempre que podíamos estávamos juntos treinando. O inglês dele melhorou muito. Decidimos correr os rodeios da ERA e depois mudamos de ideia, voltando para a PRCA. Em desvantagem de sete meses em relação as demais duplas, tivemos que correr atrás do prejuízo. Em poucas semanas já éramos top dez, quase não estávamos errando as laçadas e ganhamos muito dinheiro nos quatro últimos meses da temporada regular.
A outra coisa que dificultou nosso primeiro ano juntos foram as doenças de nossos avôs ao mesmo tempo. Minha avó, Mamma D, e o avô de Junior estavam cm câncer. Ao longo de 2016, Mamma D melhorou, mas o avô dele ficou mais doente. Junior e eu falávamos muito sobre nossas crenças e fé. É aí que nos mantermos firmes nos tempos difíceis. Conversávamos sobre nossos avôs como pessoas de fé, o que nos ajudou.
Eu me lembro do dia em que o Júnior recebeu a notícia sobre o falecimento do seu avô. Estavamos na minha casa em Stephenville nos preparando para a NFR e fui até ele no caminhão, ver se tudo estava bem. Foi quando ele me disse que seu avô havia morrido. Nós nos abraçamos. Nós dois sabíamos que esse dia estava chegando. O que piorou foi que Junior estava perto de receber seu green card e não podia deixar o país para ir ao funeral. Se ele saísse, poderia não ser capaz de voltar para a NFR.
Enquanto isso, minha avó ficou livre do câncer. Todos os anos na NFR, uma das noites é chamada de Pink Night, movimento em pró da conscientização sobre o câncer. Naquele ano vencemos a rodada na Pink Night e isso foi muito legal. Fizemos uma grande NFR, acabamos com o título de vice-campeões mundiais e Junior foi campeão mundial all-around.
Eles são amigos fora das arenas e têm os mesmos objetivosNo ano seguinte, novamente ganhamos a temporada regular e fomos vice mundiais novamente. Este ano, 2018, é o nosso terceiro ano juntos e estamos trabalhando para ganhar fivelas de ouro em dezembro.
Se parceiros regulares ficam juntos cerca de seis meses por ano, Junior e eu passamos uns bons onze meses juntos. Por um tempo ele morou no trailer no meu rancho e agora alugou uma casa a quatrocentos metros de distância. Eu o vejo todos os dias, almoçamos e jantamos juntos. Vamos ao cinema. Se estamos comendo mexicano, ele sempre come uma quesadilla de frango, não importa o que aconteça.
Inglês dele continua ficando melhor. Tendo ajuda-lo sempre que ele tem alguma dificuldade. Eu tenho tentado aprender português, mas mal consigo pronunciar as palavras. Uma coisa que nos ajuda como parceiros é que ambos somos leves um com o outro. Aprendi minha lição quando tinha onze anos de idade. Coisas positivas acontecem a pessoas positivas. Nós nos unimos porque temos os mesmos objetivos, queremos vencer, mas realmente gostamos de estar perto um do outro. Eu acho que ser amigo nos ajuda a vencer. Honestamente, somos mais como irmãos.
Não me lembro de uma vez em que ficamos bravos um com o outro. Algumas vezes por ano, asseguro-me de dizer a Junior como estou grato por tê-lo em minha vida. Não só como parceiro, mas como amigo e irmão. Ele me diz o mesmo.
Por Kaleb Driggers
Fonte e Fotos: The Cowboy Journal
Tradução e adaptação: Luciana Omena