O longo adeus de Fred Whitfield, um dos mais vencedores do rodeio

Pela PRCA foram mais de US$ 3 milhões em ganhos, 20 qualificações para a NFR e oito títulos mundiais

Competindo no rodeio escolar e amador, em 1990 a lenda Fred Withfield entrou para a Professional Rodeo Cowbous Association. Por conta da cor de sua pele, teve um começo difícil no rodeio profissional. Poucos afro-americanos tinham condições de ter seus próprios cavalos, acesso a gado para treino e equipamentos.

O racismo que sofreu foi de fora da arena e não de seus companheiros de profissão, laçadores de bezerro e das outras modalidades. Logo em seu ano de estreia estava entre os 15 melhores. Foi campeão mundial de laço individual em 1991, 1995, 1996, 1999, 2000, 2002 e 2005, e all-around em 1999. Em 2004, ele foi eleito para o ProRodeo Hall of Fame.

Ganhou todos os rodeios importantes e diminuiu o ritmo em 2013. Se afastou da PRCA quando tornou-se um dos fundadores da ERA – Elite Rodeo Athletes, passando a não mais ir nos rodeios sancionados. Sua reputação já era grande o suficiente e ele também já queria mudar os rumos de sua carreira.

“Em 2012, pensei em chegar ao final da minha carreira de rodeio. Na NFR daquele ano, tinha uma vantagem de sete ou oito segundos. Faltavam a nona e a décima rodadas quando anunciaram no Thomas & Mack que eu estava me aposentando. Pensei que poderia ser uma boa caso eu realmente ganhasse mais uma fivela. Estava com 45 anos e achei que seria uma ótima forma de parar. Mas tudo desmoronou”, contou Withfield ao The Cowboy Journal.

Ele não parou. De 2013 a 2015, ainda participou do circuito mundial, mas em um ritmo bem menos acelerado. Até começar com a ERA e fiar realmente fora da PRCA. A ideia era fazer funcionar o formato que criaram, mas não deu certo. “Quanto mais velho, mas difícil fica classificar para a NFR. Nos últimos anos, tenho ministrado clínicas e trabalhado com os cavalos, mas nunca havia largado o rodeio de vez”.

Um dos pontos determinantes para que Withfield decidisse começar a pensar em se aposentar foi a quantidade de dinheiro que se gasta tentando chegar ao topo do ranking. “Eu poderia ir a mais de 50 rodeios, ganhar dinheiro, mas ter que gastar tudo em viagens, cavalo e inscrições, e ainda não conseguir chegar a NFR. Foi algo que começou a me desanimar”, lembrou o ídolo, declinando o convite de Casey Butaud em 2017.

Butaud levou outro amigo para viajar com ele, mas pediu a Withfield que encontrasse novos e bons cavalos e os treinasse. E ele ficou em contato com o rodeio, preparando os animais. Até que chegou Denver, no começo de 2018, e Butaud insistiu que Withfield fosse, sem precisar arcar com nenhuma despesa. “Tudo o que eu precisava fazer era ir e manter os cavalos trabalhando. Então pensei, ‘que diabos? Por que não?’”

Com 50 anos, ainda pensou em desistir, mas ligou no último segundo e conseguiu comprar seu Card para ter direito a participar da temporada. Laçou bem em Denver, Fort Worth, Odessa, Houston. Mas acabou não chegando à decisão em nenhum deles, ia melhor nas fases classificatórias do que na final. Foi para o circuito da Flórida com o intuito de somar pouco mais de US$ 10 mil e poder conseguir se inscrever em rodeios maiores.

“Era uma situação um tanto embaraçosa para um competidor oito vezes campeão mundial, você não acha? Mas segui para Nevada, Colorado, Califórnia, Utah. Anda com aquele pensamento de que estava velho demais para passar por tudo isso. E acabei me machucando, tive que passar por exames em Houston e o prognostico era de cirurgia nas vértebras do pescoço. Se eu não fizesse o procedimento, não ia piorar, mas não poderia ser competitivo. Se aceitasse fazer, era o momento de parar com o rodeio”.

Optou por se afastar das etapas e fazer fisioterapia por alguns meses. Sempre que precisava laçar, sentia dores e dormência no braço. Ficou trabalhando com treinamento de cavalos somente. Butaud o chamou de volta após a temporada de verão, mas ele não estava pronto. Em agosto, ofereceram um emprego de motorista de caminhão de combustível e ele pensava se conseguiria trabalhar com isso e continuar treinando cavalos e indo a alguns rodeios amadores.

“Decidi, junto a minha esposa Cassie, vender o nosso rancho e comprar um menor. Recebemos várias ofertas e eu passei de motorista de caminhão de combustível para vendedor externo em uma empresa de combustíveis. Provavelmente, não iria mais voltar para o rodeio mesmo. Nos últimos anos, mesmo depois de ter praticamente parado, sempre recebia convite para o rodeio de Houston. Acabou que fui convidado esse ano e paguei o Card só para ter a possibilidade de ir ao meu único rodeio em 2019”.

Pela primeira vez em 30 anos, Fred Withfield não tinha um cavalo pronto de laço para competir. Acionando os contatos, comprou bezerros e arrumou um cavalo para começar a treinar. Nas primeiras rodadas de Houston laçou com uma égua de Cody Ohl e depois passou usar El Gato, de Bart Hutton. Chegou às rodadas finais, mas não conseguiu ser rápido o suficiente para disputar o título. “Honestamente, mesmo que eu ganhasse os US$ 50 mil, não tinha planos de continuar no rodeio”.

Em toda sua carreira, o laçador ídolo mundial sempre levou as coisas de forma mais profissional do que emocional. Era a sua profissão. Quando estava no brete seus amigos se tornavam seus adversários. E sempre que errava, passava horas em casa tentando consertar. “Nunca fui um cara emotivo, mas ouvir Boyd Polhamus dizendo à plateia em Houston que tinha sido meu último rodeio trouxe alguns sentimentos. Um deles foi alívio. O rodeio é muito diferente de outros esportes”.

Withfield sentia que precisava de um capítulo final. “Estou em paz agora que finalmente me decidi. Depois daquele último bezerro, eu sabia que tinha feito a minha parte. Não tenho mais nada para provar, minha carreira foi inacreditável. Ganhei todos os principais rodeios – alguns deles três ou quatro vezes – e quase todos os grandes prêmios que são possíveis. Quando criança, nunca imaginei ter tanto sucesso quanto nos últimos 25 anos”, lembrou.

E a sensação que fica para ele é que sua carreira passou rápido demais. “Mas não há nada que eu possa fazer para mudar isso. O tempo não fica parado para ninguém. Não me arrependo do que fiz em minha vida no que diz respeito ao esporte rodeio. Eu fiz milhares e milhares de amigos. Alguns inimigos. Mas eu não mudaria nada. Tive uma das melhores carreiras que um cara poderia sonhar. Tudo que conquistei devo ao rodeio e isso significa o mundo para mim.”

Tradução e adaptação: Luciana Omena
Fotos: Matt Cohen

Deixe um comentário