Atleta brasileira foi convidada para disputar processo inicial da Semifinal de um dos eventos mais cobiçados do meio equestre
A sexta-feira 11 de outubro de 2019 vai ficar marcada na carreira de Gabriela Savio. Foi o dia em que a atleta recebeu convite, durante a Copa dos Campeões da ABQM, para disputar o processo inicial da Semifinal do The American.
Se você não sabe, eu te conto, o The American é um rodeio que paga mais de dois milhões de dólares a um seleto grupo de atletas que consegue se classificar para a disputa.
A laçadora, pioneira em Breakaway Roping no Brasil – e que no dia do convite era a líder do ranking na ABQM – Gabriela Savio é a atual campeã Nacional na modalidade. Acima de tudo, foi justamente o título Nacional que a levou aos Estados Unidos.
“O requisito que usaram para ter uma brasileira de Breakaway Roping na edição 2020 do The American foi convidar a campeã da categoria Aberta do Campeonato Nacional ABQM 2019. Recebi a notícia dessa vaga e foi um choque. Sempre tive o sonho de conhecer e competir no Estados Unidos. E a chance de ir classificada para um dos maiores eventos de lá foi emocionante”, conta.
A modalidade é antiga nos Estados Unidos, mas só agora está ganhando visibilidade nos grandes eventos. Só para ilustrar, a edição 2019 do The American contou, pela primeira vez, com o Breakaway. E foi o maior sucesso de público e entre as laçadoras. A maioria delas veteranas, que sonhava com essa abertura maior para o esporte.
Preparativos
Para fazer ‘bonito’ na terra do ‘Tio Sam’, Gabriela Savio intensificou os treinos nos meses que antecederam sua ida para o Texas. “Como corro Três Tambores também, me dediquei muito aos treinos de laço. Treinando não só em animais diferentes, como também laçadas mais rápidas. As meninas lá laçam demais, então coloquei o Breakaway como prioridade no final do ano”.
Dessa forma, Gabi passou uma parte considerável do seu tempo treinando todos os dias, nos animais e no cavalete. Com o intuito de ter a melhor experiência possível dessa oportunidade, ela e a mãe pesquisaram o melhor caminho para enfrentar o que vinha pela frente.
“Pesquisamos muito qual seria a melhor maneira de ir bem estruturada para essa prova. De fato, foram muitas as recomendações até que minha mãe encontrou o Werneck Ranch. Eu não tinha ideia de como seria, mas hoje posso dizer que não existiria opção melhor”, reforça.
Tudo encaminhado, chegou a hora de embarcar. Ao lado da mãe, Gabriela chegou cheia de esperanças e expectativas alguns dias antes. Os preparativos incluíram ainda um tempo de adaptação ao cavalo e de treinos em solo americano. Se você segue ela no Instagram acompanhou praticamente tudo em tempo real.
Primeiros dias
“Chegamos aos Estados Unidos no dia 18 de fevereiro. O Fred Werneck e a Carol nos recepcionaram muito bem. Confesso que me senti parte da família nos dias que fiquei lá”, lembra a atleta que chegou laçando praticamente. Em outras palavras, em uma semana começaria a disputa e ela pretendia finalizar bem tudo que programou.
“No dia seguinte a minha chegada comecei a treinar com a ajuda do Fred. Lá é tudo muito diferente, então precisa mesmo me adaptar antes de ir para pista valendo vaga pro The American. A começar pelo frio, já que pegamos dias de sensação térmica -4°”.
Admirada por muita gente do meio, que se inspira em sua trajetória, Gabi diz que brinca quando as pessoas perguntam a respeito da experiência: “Digo, de brincadeira, que eu descobri lá que eu não sabia laçar (risos)”.
A decisão de chegar um tempo antes para treinar, desse modo, se mostrou acertada. “O Fred mudou muita coisa no meu laço, desde posicionamento , saída de brete , arremesso. Me ensinou a já sair com o primeiro giro preparada para arremessar. Tive muita dificuldade para me encaixar, mas ele é um excelente treinador”, agradece a competidora.
Provas
Quem conhece um pouco do dia a dia nos Estados Unidos sabe que existe sempre uma prova atrás da outra. Por isso, logo no primeiro final de semana de Gabriela no Texas, foi laçar em rodeio em Fort Worth, que acontece todas sextas e sábados, “Acertei minha corda, porém o lenço de prendeu na sela e tomei SAT (sem tempo validado). Mas fiz um bom tempo, ficaria entre as dez”.
Em seguida, no outro dia, ela passou por mais aprendizado. “Minha corda demorou muito para estourar, então vi que as meninas cortam as cordas deixando apenas com o tamanho necessário para laçar. Cortei as minhas no mesmo dia!”
Depois da semi em Fort Worth, ela ainda foi a mais três provas, ganhando até uma grana. Marcou 3s1 e ficou com o terceiro lugar no terceiro round na primeira. Em segunda, ganhou o 4D no dia seguinte. Enquanto na terceira oportunidade foi campeã 2D.
“A última prova que fui foi a que mais me surpreendi. Fiz um bezerro de 2s7 e outro de 2s8. Me senti já no nível das meninas de lá e fiquei muito feliz”.
The American
Para chegar a concorrer a o prêmio milionário do The American, os atletas de rodeio têm dois caminhos: serem convidados através do ranking da PRCA ou passarem pela Semifinal. Foi justamente a semi que aconteceu no Cowtown Coliseum, em Fort Worth, Texas, de 24 de fevereiro a 2 de março que Gabi participou.
Com o propósito de qualificar os atletas para a disputa da Semifinal propriamente dita, o regulamento do evento coloca os conjuntos para se apresentaram no Slack (que é uma espécie de preliminar). E depois no Buy Back (para quem não classificou no primeiro dia de Slack).
Uma verdadeira batalha, sem dúvida, se você considerar que no Breakaway Roping 480 laçadoras entraram para o Slack. “Fiquei surpresa com o número de meninas. Se essa quantidade foram só de classificadas para esse evento, imagina quantas mulheres laçam no país?”
Em sua trajetória nessa competição, Gabriela Savio deu barreira (quando o cavalo rompe a barreira antes do boi) durante o Slack. Portanto, precisou arriscar mais no Buy Back. “Tinha que arriscar um tempo de dois segundos baixo e acabei errando”. Mas faz parte do esporte, não é mesmo?
Avaliação
Para a atleta, foi uma experiência incrível, sem dúvida. “É inexplicável o sentimento de laçar ‘contra’ quase 500 meninas. Foi uma prova muito emocionante e de se encher os olhos. Em medo nenhum de errar, essa foi a melhor experiência que já tive na minha vida”, diz Gabi, que contou com uma torcida grande de brasileiros.
Passar por algo assim, certamente, transforma um competidor. Muda a rotina, ‘abre a cabeça’ para novas possibilidades e jeito de ver as coisas. Vivenciar experiências fora do mundo que conhece faz crescer. Para ela, mudou muito a forma como vê a modalidade agora.
“Procuro agora treinar meus animais e a mim mesmo da maneira que aprendi lá. Com laçadas mais fortes e rápidas. Vim com muita vontade de incentivar mais ainda essa modalidade aqui no Brasil. Vou marcar cursos e tentar conseguir o maior número de adeptas para o Breakaway”.
Em conclusão, Gabi voltou animada e com o objetivo de se dedicar ao máximo para conseguir se classificar novamente e voltar a disputar o The American. “Se eu tiver chance de ir novamente, quero chegar bem mais preparada ainda. Por fim, não posso encerrar essa entrevista sem agradecer minha mãe pela oportunidade. Me fez crescer muito como competidora. E, claro, ao Werneck Ranch por toda assessoria e aprendizado. Espero voltar em breve.”
Por Luciana Omena
Crédito das fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal
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