Cinco potros aparentam animais comuns, com pelagem mel e manchas faciais brancas, mas guardam uma inovação sem precedentes: são os primeiros cavalos geneticamente editados do mundo. Criados pela empresa argentina Kheiron Biotech, eles são clones de uma égua campeã, Polo Pureza, com uma única sequência de DNA modificada por meio de CRISPR para amplificar sua musculatura e conferir velocidade explosiva.
Enquanto a clonagem simplesmente replica o DNA, a edição com CRISPR funciona como uma tesoura genética de alta precisão, inserindo alterações específicas na expressão do gene da miostatina, que regula o crescimento muscular. Ao reduzir sua atividade, os cavalos ganham fibras musculares capazes de movimentos mais potentes — um salto evolutivo em apenas uma geração.
A tecnologia foi aplicada com rigor e atendendo às normas da Direção Nacional de Bioeconomia e da CONABIA, além das diretrizes da Associação Argentina de Criadores de Cavalos de Polo e da Sociedade Rural Argentina. Como não introduz sequências extraídas de outras espécies, os animais não são classificados como OGMs ou alvo de acusações de doping genético.
Associação Argentina de Polo
No entanto, o polo tradicional reage com cautela. A Associação Argentina de Polo proibiu a participação dos editados em competições, argumentando que a prática compromete o charme e a magia da reprodução tradicional. “Eu gosto de escolher uma égua, escolher um garanhão, cruzá-los e esperar que o resultado seja muito bom”, afirmou o presidente da entidade. Já a Associação de Criadores decidiu acompanhar os animais por quatro ou cinco anos antes de avaliar seu registro como ponies de polo argentinos.
O diretor científico da Kheiron, Gabriel Vichera, mantém otimismo. Segundo ele, o caminho é educar a comunidade esportiva. E, enquanto a regulamentação atual não impede o uso, a aceitação ainda é o principal entrave à comercialização da técnica.
Especialistas reconhecem que a gene-edição pode acelerar processos que levariam gerações nos métodos convencionais. Um geneticista observou que tratar o gene de miostatina é potencialmente justo — afinal, não se trata de algo inerentemente desleal, mas de um avanço tecnológico disponível para quem tem recursos.
Os potros, nascidos entre outubro e novembro de 2024, começaram a ser preparados para montar a sela aos dois anos de idade e, depois, iniciar treinamento específico para o polo. Ainda não se sabe se terão desempenho superior — isso só se confirmará com o tempo.
Por ora, os planos de comercializar o serviço de edição genética estão suspensos até que as entidades do polo reconheçam e aceitem sua presença nos gramados. O futuro, como dizem os envolvidos, está em aberto — e pode redefinir o esporte e a biotecnologia animal.
Com informações da Agência Reuters
Foto: Divulgação/REUTERS/Agustin Marcarian
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