De acordo com pesquisadores norte-americanos, o competidor Ty Pozzobon, que morreu em janeiro deste ano, foi o primeiro caso de Encefalopatia Traumática Crônica (ETC) entre atletas de rodeio
A doença, que ficou popularmente conhecida como ‘demência pugilistica’ por ter sido diagnosticada primeiramente em lutadores de boxes, tem 90% de seus casos registrados em atletas que praticam esportes com grande ocorrência de traumas na cabeça.
Após a morte do competidor canadense Ty Pozzobon, no dia 9 de janeiro de 2017, sua família doou seu cérebro para a Universidade de Washington, na cidade de Seattle, Estados Unidos. Pozzobon foi encontrado morto na garagem de sua casa, vítima de suicídio, e desde o início a família acreditou que as causas que o levaram a cometer este ato pudessem ter ligação com Encefalopatia Traumática Crônica, devido aos traumas na cabeça ocorridos durante sua carreira na montaria em touros.
A Encefalopatia Traumática Crônica é uma doença neurodegenerativa progressiva, causada por pancadas na cabeça e pode apresentar diversos sintomas como perda de memória, dificuldade de raciocínio, tremores, falta de coordenação de movimentos, dificuldades na fala e alterações de comportamento, incluindo irritabilidade e depressão, este último sintoma acredita-se estar ligado a morte do atleta.
Os primeiros casos da doença começaram a ser registrados em 1928 pelo médico norte-americano Harrisson Martland, que passou a estudar os sintomas apresentados por lutadores de boxe. Atualmente, acredita-se que cerca de 15% dos lutadores de artes marciais sejam afetados por algum dos sintomas da ETC. Durante mais de 70 anos, a doença foi diagnosticada apenas em lutadores, até que em 2002 foi confirmada em um jogador de futebol americano, ligando o sinal de alerta em outros esportes, que passaram a estudá-la e preveni-la.
Entre os casos mais famosos do diagnóstico da doença, está o do norte-americano Muhammad Ali, considerado o maior lutador de boxe de todos os tempos. Em decorrência das pancadas sofridas na cabeça no decorrer da carreira, desenvolveu os sintomas da ETC ligados a doença de Parkinson. No Brasil, os casos mais famosos são do também lutador Eder Jofre e do jogador de futebol Bellini, capitão da seleção brasileira que ganhou a Copa do Mundo de 1958.
Ao ser comprovada pela primeira vez em um atleta de montaria em touros, espera-se que a Encefalopatia Traumática Crônica ganhe atenção no mundo do rodeio, principalmente abrindo discussão para a utilização dos equipamentos de segurança e os cuidados com os atletas após terem sofrido pancadas na cabeça. Os estudos com o cérebro do competidor canadense irão continuar, podendo trazer mais resultados e compreensão da doença em breve.
Ty Pozzobon estava com 25 anos e no auge de sua carreira. Três meses antes de sua morte ele havia conquistado seu primeiro título nacional pela Professional Bull Riders (PBR Canadá) e terminado a temporada com a quarta colocação na Final Mundial da PBR, em Las Vegas, o melhor resultado de sua história na Associação. A família deu poucas declarações sobre a vida pessoal do atleta, mas relatos dos competidores próximos a ele, diziam que ele se mostrava muito feliz e confiante.
Após a divulgação dos resultados na última semana, a família de Pozzobon declarou que espera que a dor dessa morte traga a conscientização da necessidade de tratar as pancadas na cabeça, e sua prevenção, com a devida importância, principalmente entre os atletas, tanto a curto, como a longo prazo. Assim, é preciso intensificar a discussão sobre a importância dos equipamentos de segurança e também acompanhar a vida pessoal dos competidores, mesmo quando aparentemente estejam bem.
Em nota, a PBR Canadá declarou que sempre teve uma grande preocupação com a saúde e o bem-estar dos atletas que competem em seu campeonato e que está desenvolvendo um programa que deverá entrar em atividade já no próximo ano. De acordo com a entidade, o programa tem como objetivo conscientizar e educar os atletas sobre a importância da segurança na montaria em touros, além de consulta a neurologistas e acompanhamento de especialistas para cuidarem da saúde mental dos competidores.
No Brasil, onde na prática os peões não são tratados como atletas, não há nada voltado a conscientização deles em nenhum tema por parte de campeonatos e organizadores. Existe uma lista enorme de assuntos ao qual deveria ser feito um esforço para a conscientização, tendo em vista que competidores agindo e pensando como atletas, colaboram e muito para a evolução do rodeio no país. Já que nada foi feito até agora, talvez começar pela saúde e segurança seja um ótimo caminho.
Por Abner Henrique
Fotos: arquivo pessoal