Foram muitos conselhos para desistir, que ele os transformou em motivação para continuar
Com 25 anos de idade, Júlio Cesar Rodrigues, de Novo Horizonte do Sul/MS, ocupa a 16ª posição no ranking do Circuito Rancho Primavera. Não teve nenhum familiar que montasse em touros para o influenciar, mas seu pai sempre o levava para assistir rodeios e foi florescendo dentro dele uma paixão, até que ele decidiu ser competidor.
“Meu tio era vizinho e tinha vacas leiteiras. Ele saia e a gente montava nos bezerros. Só fui conhecer corda americana, botas apropriadas, esporas, aos quinze anos de idade”. Às vezes, o competidor nasce com o dom, em outras oportunidades, ele se sobressai pelo esforço. “Meu começo foi mais difícil do que para a maioria, eu não tinha o dom, eu era mole, para ser mais exato. Fui persistindo. Algumas pessoas acreditavam e outras zombavam, mas acredito que as críticas foram o combustível para que eu continuasse em busca de realizar meu sonho”.
Ele ainda comenta: “dói ouvir que você não tem estilo, que você não leva jeito. Muitas vezes eu voltava chorando do treino, porque os donos dos animais não deixavam eu montar, me consideravam muito mole”. Nesse período da vida, Júlio estava em Naviraí/MS e o esforço foi fundamental para ele chegar onde queria.
“Eu não gosto de treinar em um, ou dois touros, eu gosto de treinar em cinco, até dez se for possível. Quanto eu caia de um touro, seja no treino ou no rodeio, eu voltava para casa, ia fazer exercício, ia montar de novo, eu não desistia, fui persistindo”. As táticas para espantar a ‘moleza’ que os outros falavam, e realizar o sonho de ser competidor, foram muitas.
Desde filmar, e assistir suas montarias, de ficar observando os competidores mais velhos montar ao vivo, e outros que já faziam sucesso, pela internet. Seu objetivo de vida era o de realizar o sonho, transformar sua paixão de criança em realidade. Então ele transformou as críticas em motivação e seguiu em frente. Poderia, e tinha motivos, para ser mais um que desistiu pelo caminho, mas não o fez, continuou.
Foram cinco anos caindo, errando e acertando até chegar ao primeiro rodeio, aos vinte anos de idade, considerada uma idade já avançada para começar nas arenas. “Foi um rodeio, em Rio Brilhante/MS. Não era o rodeio oficial da cidade, foi na Cia Rancho Sertaneja, e fui campeão. Aquela sensação de ser campeão mexeu tanto comigo, que prometi ali na arena que nem que demorasse dez anos, eu queria sentir aquela sensação de novo. Foi muito forte, na hora nem levei em conta o dinheiro, mas a sensação de título foi algo marcante”.
Depois de tanta insistência, as coisas foram acontecendo e ele foi conseguindo vagas para montar nos rodeios. Passou a entrar nas finais, ganhar outros títulos na região, que segundo ele, não é tão forte na realização e quantidade de eventos. Até que em 2016 ele conseguiu montar em quinze rodeios, foi finalista em treze. No ano seguinte, 2017, ele começou no mesmo ritmo.
“Eu montei em vários rodeios com o Anderson de Oliveira, e o ‘Sucuri’ me viu montando e conseguiu uma vaga para mim na ACR- Associação dos Campeões de Rodeio. Assim como o Francis Carlos, locutor comercial me levou em vários rodeios, e as oportunidades de estar em rodeios maiores foram surgindo”.
Sua chegada no Circuito Rancho Primavera aconteceu de maneira não planejada. Em Santa Cruz do Rio Pardo/SP, a ACR realizou etapa em parceria com o CRP, e Júlio montou pela ACR e pontuou, mas não tinha planos de seguir, até que uma ligação mudou tudo. “Eu sempre quis montar no CRP, havia tentado outras vezes e não tinha conseguido. Um mês depois de Santa Cruz do Rio Pardo teve o rodeio de Guapirama/PR, e resolvi ligar para o Rogério Paitl. Ele me disse que eu estava ranqueado, que se eu quisesse eu poderia montar. Senti em meu coração que deveria ir, queria fazer uma temporada do CRP”. No começo, Júlio não montou bem, mas depois foi acertando o passo. Se dedicou ainda mais aos treinos, pois não quer ser mais um na lista do ranking, quer dar meu melhor e fazer diferença em cima dos touros.
“Minha vida nunca foi fácil, como a minha história mostra, fui julgado, fui desacreditado pelos meus próprios amigos, ou que eu achava que eram, então estou acostumado a superar, a persistir, seguir em frente, me dedicar, dar o meu melhor e construir uma história dentro do Circuito Rancho Primavera”.
Por Eugênio José
Fotos: Ricardo Mariotto