Polêmica envolve Rodeio de Barretos e os Três Tambores

O sonho de participar do maior rodeio do Brasil está tirando o sono de muita gente

Nos últimos dias surgiu um burburinho em torno de duas grandes paixões dos cowboys e cowgirls de todo o Brasil: o Rodeio de Barretos e os Três Tambores. De um lado, as competidoras da principal modalidade equestre praticada no ‘maior rodeio do Brasil’ questionam os organizadores da Festa do Peão de Barretos no tocante à premiação destinada aos Três Tambores. Na outra ponta, as informações divulgadas por Os Independentes alertam para uma mudança no regulamento e um acréscimo na premiação.

Toda essa conversa surgiu quando as competidoras se uniram nas redes sociais para protestarem e tentar entender a lógica da organização em relação ao alto custo das inscrições e a distribuição dos prêmios durante todo o evento. Sabemos que a ‘maior da América Latina’ realiza prova de Montaria em Touros, Cavalos – nas três modalidades, Rodeio Junior e as provas cronometradas de Três Tambores e Working Penning, distribuídos em dez dias de programação.

A prova de Tambor dentro do Barretos International Rodeo, a fivela mais cobiçada pelas amazonas, será realizada entre 23 e 26 de agosto. De acordo com o folder anunciado pelos organizadores, a primeira mudança é no número de premiadas. Foi instituído resultado em divisões, ou seja, considerando o menor tempo da final – que terá agora 16 conjuntos e não dez como de costume – serão premiadas as competidoras do 1º ao 10º colocado no 1D, e acrescendo um segundo ao menor tempo, haverá premiação de 1º ao 6º lugar no 2D.

O total de premiação anunciada para a modalidade no site oficial gira em torno dos R$ 42 mil. Para a grande campeã do 1D, o valor pago pela conquista do título será de R$ 15 mil. E a campeã do 2D receberá R$ 3 mil. A prova seguirá nesse formato – Divisões – desde as classificatórias e semifinais até a final.

Para concorrer aos prêmios, o valor das inscrições é R$ 1 mil e é aí que a divergência começa. As competidoras alegam ainda, que além desse valor, precisam arcar com uma taxa de R$ 270,00 referente à baia para cada animal, há ainda a passada extra, gastos com transporte, ração, trailer, ou frete de caminhão, e ainda os seus pessoais, para se alimentar por exemplo durante os dias de competição.

Letícia Pessim, campeã ano passado do Barretos International. Foto: André Monteiro

O que está indignando as competidoras é o fato dos organizadores terem divulgado em nota  que “a premiação neste ano para todo o evento será de aproximadamente R$ 1 milhão para as seis modalidades”. Entretanto, o valor destinado ao prêmio para os Três Tambores corresponde à 4,2% do valor total, o que para elas é um grande descaso, já que a modalidade é a segunda maior atração da arena de Barretos, ficando atrás apenas da Montaria em Touros.

Números divulgados na mesma nota, publicada em 20 de junho de 2018 no site independentes.com.br, também afirmam que o “campeão do Barretos International Rodeo, modalidade touro, receberá como prêmio uma caminhonete RAM 250 avaliada em R$ 250 mil e o campeão do Cutiano (rodeio em cavalos) uma Fiat Toro avaliada em R$ 80 mil”.

Entre os argumentos, as meninas lembram ainda que os peões não pagam inscrição e há vários anos a premiação não aumenta para o Tambor, sendo que os valores para ração dos cavalos e o diesel subiram, por exemplo. Daiane Sudário, tricampeã de Barretos, campeã Nacional ANTT, entre outros títulos, e que tem 20 anos de estrada nesse meio, comenta que fica triste quando pensa em fazer a conta na ponta do lápis.

“A inscrição é bastante alta em comparação a outras festas e também ao prêmio. Então, quem consegue vencer e ganhar os R$ 15 mil, na verdade vai ganhar menos, pois tem um custo de três a quatro mil reais no mínimo para ir numa prova dessa. Muitas meninas acabam, mesmo querendo viver esse sonho de ir a Barretos, tendo que optar por ficar em casa por achar que não vale a pena todo esse custo”.

Conversamos com Daiane, mas vimos pelos comentários que é a mesma opinião de várias outras meninas. “O cavalo de Tambor é muito valorizado em todo o país e o esporte deveria ser valorizado também no maior rodeio do Brasil. Ninguém vai lá para brincar. O boi, lógico que é o maior espetáculo da Festa, mas depois vem o Tambor”, reitera a multicampeã.

Valorização é a palavra-chave nessa fundamentação. Silvana Bertato, que vive esse meio desde os anos 80, como competidora e dirigente, reforça a importância do Tambor nas Festas de Peão. “Os Três Tambores é a prova mais esperada e charmosa do rodeio. Também não se pode esquecer que essa nossa indústria gera renda e empregos diretos e indiretos, não sendo mais um simples hobbie de meninas da classe A, mas sim fonte de vida e sobrevivência no campo”, reforça Silvana.

Esse valor de R$ 15 mil em qualquer outro rodeio seria fantástico, mas para Barretos, considerando o valor de inscrição e todo dinheiro que é destinado a premiação geral, talvez não seja o ideal e é o questionamento de todas as competidoras.

Mesmo ainda sem fazer comunicado oficial sobre o assunto – entramos em contato com os organizadores da Festa de Peão de Barretos, por meio da Assessoria de Imprensa, mas até o momento não tivemos nenhum retorno –  alguns organizadores estão tentando explicar e justificar os valores cobrados por meio de conversas via Whatsapp.

Nossa reportagem teve acesso a algumas dessas conversas em que, entre outros motivos, um dos responsáveis pela prova em Barretos informou às atletas que as inscritas não pagarão nada a mais para assistir ao show internacional, por exemplo. Ainda, conforme explicou-se em mensagem trocada nas mídias sociais, há de ser considerar o custo do acampamento, para uma competidora e um acompanhante, transito livre para o carro/trailer, investimento na área de camping, entre outros.

Na base para os cálculos de definição do valor da inscrição, segundo essa conversa, os números alegados são: cada pessoa para acampar paga em torno de R$ 650,00 e são disponibilizados por competidora um acesso para ela e para um acompanhante, somando R$ 1.300,00; a competidora ainda ganha um adesivo de trânsito livre para a caminhonete no valor de R$ 350,00; houve ainda o investimento na área de camping dos competidores, que passou de US$ 2 milhões, e na área de shows, na casa dos US$ 10 milhões.

A maioria das meninas ficou ainda sem entender, por exemplo, porque o valor do show está na conta, sendo que nenhum outro rodeio impõe essa condição ao cobrar inscrição. O pedido delas, além do aumento da premiação é também o de uma inscrição mais acessível financeiramente. Elas garantem que muito mais meninas irão voltar a se inscrever. A base desse discurso são as 66 inscritas ano passado para o Internacional, número bem aquém do esperado para um rodeio desse porte.

Polêmicas à parte, o que a gente espera é uma linda competição e que o bom senso prevaleça em todas as decisões.

Por Juliana Antonangelo e Luciana Omena
Foto destaque: André Monteiro

Deixe um comentário