Robson Palermo: um herói das arenas!

Atleta saiu de Rio Branco, no Acre, para ganhar o mundo do rodeio
Na fazenda do Acre, ainda moleque

Nascido em São José dos Quatro Marcos/MT, Robson Gomes Palermo, 35 anos, sempre representou as cores de Rio Branco/AC, cidade que foi morar aos seis anos de idade e de onde saiu para a região sudeste do Brasil levando na mala o sonho de ser um competidor de prestigio no rodeio, esporte Montaria em Touros, uma de suas paixões. E ele venceu! Fez seu nome nas arenas brasileiras, conquistou títulos e solidificou uma carreira de sucesso. Até que decidiu mudar-se para os Estados Unidos, há mais de dez anos. Novamente, levou na mala o sonho de ser reconhecido mundialmente. E, novamente, conseguiu! É um dos heróis das arenas americanas, onde compete pela Professional Bull Riders.

Casado com Priscila Aguiar Palermo e pai de Gabby, Mateus e Lucas, Robson mora em Bullard, Texas. Atleta de Montaria em Touros entre os mais bem-sucedidos brasileiros no circuito americano de rodeio, Robson tomou uma importante decisão em 2018: depois de mais uma grave lesão, decidiu fazer uma pausa da PBR e mudar um pouco de ares. Mas não vai se aposentar. A ideia é ir a alguns rodeios da PRCA e participar de rodeios menores no Texas. Com três títulos da etapa Las Vegas na PBR World Finals, Robson quer ser lembrado como um dos melhores bull riders da história. Conheça um pouco mais sobre sua carreira!

Em seu aniversário de 8 anos ao lado dos com
os pais, D. Maria e S. Roque, e da irmã Ana Paula,
em Bujari/AC

Como tudo começou?

Robson: Nasci perto de Mirassol do Oeste, no Mato Grosso, e fui bem novo para o Acre. E foi lá que eu conheci o rodeio. Assistia na televisão e comecei a gostar. Montava em bezerro no pasto, trabalhava na fazenda, ajudando os peões. E foi assim que comecei a me apaixonar pela montara em touros. Minha mãe comprou uma fita-cassete de montaria pra mim e eu ficava assistindo quando estava em casa, imitava os movimentos, foi assim que aprendi. Na época, não tinha ninguém que ministrasse cursos, então aprendi tudo sozinho. Montei pela primeira vez novo, com seis anos, em uma mula, depois montava em bezerros, até chegar nos bois maiores. Com 14 anos, montei o primeiro boi grande. Tinha um rodeio perto de casa para ir, mas meu pais não queriam deixar, fui escondido. Chegando lá, como eu era menor de idade, não queriam me deixar montar, mas consegui que o prefeito da cidade, que conhecia meu pai, se responsabilizasse. Na primeira noite parei no boi e liguei para o meu pai. Ele ficou brabo por eu ter mentido, mas eu continuei lá, montei os outros dias e ganhei o rodeio. Tinha 14 ou 15 anos e não parei mais. Foi assim que me tornei um atleta do rodeio em touros.

Moto que ganhou aos 15 anos em seu
primeiro rodeio profissional,
em Rio Branco

Qual sua primeira lembrança desse começo?

Robson: A gente trabalhava na fazenda, tinham outros meninos da mesma idade que eu, e a gente brincava, montava nos bezerros de leite todo santo dia. Ficávamos nos desafiando, quem parava mais, quem montava melhor, e foi ai que comecei a desenvolver mais o meu estilo de montaria, montando em bezerros. Todo dia prendíamos os bezerros no curral para montar, tinham uns cinco meninos comigo. O dono da fazenda deixava, mas ai começamos a nos machucar e ele proibiu. Mas eu não acatei, montava escondido. Até que o dono descobriu e falou com meu pai, mas acabou deixando que só eu montasse. Como eu precisava de ajuda, não dava para fazer sozinho, os meninos voltaram a montar também e voltaram a se machucar, então fomos barrados de vez. Acabei indo para o Mato Grosso, pois ajudava na inseminação artificial do rebanho, e lá voltei a montar. O gerente da fazenda deixava, escondido do dono. Quando ele descobriu, percebeu que não ia adiantar me proibir e resolveu liberar novamente. Passamos a nos cuidar mais para não haver acidentes. Nesse tempo já me destacava, montava melhor que os meninos, era mais competitivo que os outros. Eu e um outro amigo, começamos a ir nos rodeios da região. São boas lembranças desse tempo.

Barretos 2005. Foto: Adilson Silva

Como buscou conhecer melhor o esporte?

Robson: Ah, foi através das fita-cassetes mesmo, que eu ficava olhando os peões mais experientes montando. Um deles era o Adriano Moraes, eu gostava muito do estilo de montar dele, mais fechado, mais forte, então assistia muito as montarias dele. Também acompanhava o Ty Murray e o Tuff Hedmann, americanos. E fui desenvolvendo meu próprio estilo. Queria montar parecido com o estilo do Adriano, que eu achava muito bonito o jeito dele montar. O ponta pé da minha carreira foi assim, assistindo as fitas.

Quando decidiu ir para São Paulo e tentar a vida em uma região totalmente diferente do que você estava acostumado?

Robson: Quando estava com 18 anos, o dono fazenda e minha mãe conversaram comigo e disseram que se eu realmente quisesse seguir essa carreira, teria que ir para São Paulo, para ser profissional, ganhar dinheiro, montar em rodeios maiores. Ele conhecia a Helô Penteado, hoje juíza ABQM e AQHA, falou com ela, que indicou o Kaka, de Barretos. Sem conhecer a gente, ele ligou, falou com a minha mãe, e disse que ela podia ficar tranquila que ele ia me receber, cuidar de mim e conseguir vaga nos rodeios para eu montar. Meus pais me deram muita força e eu resolvi realmente mudar. Peguei um ônibus e fui. Cheguei na rodoviária e uma pessoa me levou até o escritório do Kaka. Ele me colocou para morar com um peão chamado Boca de Lata. O primeiro rodeio que montei foi em Catanduva/SP, na época da Federação Nacional do Rodeio Completo. Comecei a me destacar a partir dai, ganhando carros e motos como prêmio. E foi assim que a nova fase aconteceu.

Campeão em Barretos pela CNAR

Quais títulos no brasil?

Robson: 14 motos, um carro, uma caminhonete e vários prêmios em dinheiro. Fui campeão em Jaguariúna, Rio Verde, entrei em muitas finais em rodeios grandes, como Americana, Presidente Prudente, Goiânia. E o último rodeio que montei no Brasil antes de mudar para os Estados Unidos foi Barretos, a final da CNAR na época, em que fui campeão.

Sua primeira montaria nos Estados Unidos,
na Flórida

Como tomou a decisão de ir para os Estados Unidos?

Robson: Tinha 23 anos de idade e já estava namorando com a Priscila, ela competia no Tambor. No mesmo dia que ganhei a CNAR ela foi campeã nacional pela ANTT. Priscila fazia mestrado nos Estados Unidos e a gente tinha essa vontade de mudar. Conversamos e em 2005 fomos assistir a final da PBR. Fui convidado para montar em um rodeio na Flórida, mas o rodeio foi cancelado por conta de um furacão. Como estavam todo os peões lá, organizaram um treininho e eu ganhei. Quando estávamos voltando para o Texas, ainda íamos assistir a final, resolvi comprar meu cartão e começar a montar na PBR em 2006. Comecei a ir nos rodeios menores para ganhar dinheiro e poder montar nos rodeios maiores. E fui me dando bem, montando, e consegui chegar a categoria principal.

Assinando autógrafos para a PBR com o Reese Cates, em outubro de 2017

Quais as dificuldades do começo, como foi para se adaptar à boiada?

Robson: A adaptação aqui nos Estados Unidos foi muito difícil. Eu não falava em inglês, estranhei a comida e no começo eu ia para os rodeios sozinho. Porque eu montava nas divisões de acesso e os demais brasileiros que estavam aqui, Adriano Moraes, Guilherme Marchi, Fabricio Alves, Rogerio Ferreira, Ednei Caminhos, entre outros, já estavam na principal e iam para outras cidades diferentes. Então eu viajava com os americanos muitas vezes, sem falar nada de inglês. Mas a Priscila já falava inglês e me ajudou a dominar mais a língua. Mas foi difícil esse começo. Quando ainda estava no Brasil e via as montarias aqui, tinha uma imagem totalmente diferente do que me deparei ao vivo. Quando cheguei, pensei que seria o sonho da minha vida montar nos bois, e quando comecei a montar percebi que eram diferentes do que eu pensava. Boi pequenos, rápidos, fortes, um estilo totalmente diferente. Demorou um pouco para eu me adaptar a montar nesses bois, mas Graças a Deus me adaptei, ganhei alguns eventos pequenos e fui seguindo.

Campeão da etapa de Nova York 2012

Pensou alguma vez em desistir e voltar?

Robson: Sim! Logo que chegamos passamos dificuldades financeiras. Trouxemos uma quantia boa, mas foi embora logo, porque era muita viagem para os rodeios, passagem de avião, aluguel de casa, carro. Aí pensamos sim em desistir, mas decidimos esperar e batalhamos bastante, até que comecei a ganhar os rodeios. Assim, a situação melhorou, deixou a gente mais tranquilo, e não tive mais vontade de voltar.

 Qual momento você parou e pensou: agora estou bem estabelecido, sou respeitado, valeu a pena?

Robson: Foi em 2008, quando ganhei a etapa Las Vegas na final da PBR. Estava montando bem, indo para algumas finais de etapas, mas quando ganhei aquele dinheirão pela final muita coisa mudou. Compramos um rancho em Tyler, cidade que fica a duas horas de Dallas, Texas, e ai compramos nossos animais, cavalo e gado para o rancho. Cavalos de tambor e para laçar, coisas que gostávamos no Brasil. Foi ai que parei para pensar que realmente aqui era o lugar para a gente viver. Muitas coisas funcionam bem aqui, a perspectiva de um futuro bom é bem interessante, era naquele tempo e ainda é hoje. Foi nessa época que me senti, pela primeira vez, bem estabelecido nos Estados Unidos.

Ensinando o Mateus a montar em boi

Quais os melhores momentos desse tempo nos Estados Unidos?

Robson: Acho que foi quando ganhei os títulos de campeão da etapa Las Vegas durante as finais mundiais. Em 2008, o primeiro, depois 2011 e 2012. Também posso eleger o nascimento da nossa primeira filha, a Gabby. Uma mudança de vida para a família, importante e feliz.

Você tem sofrido nos últimos anos com lesões. Como é que fica a cabeça para recuperar e voltar a montar bem?

Robson: Montaria em Touros é um esporte muito perigoso, mas quando você sabe montar, consegue evitar algumas situações ruins. Mas tive bastante lesões, fui um dos que mais machucou, ombro, nariz, costas, joelho, e em outros lugares. Sempre que me machucava, fazia as cirurgias nos Estados Unidos e ia para o Brasil me recuperar, fisioterapia com o Nivaldo Baldo em Campinas. Me recuperava rápido e voltava, mas ao longo do tempo esse retorno de recuperação foi ficando mais demorado. Especialmente nos últimos três anos, as lesões foram sérias e mais difíceis de me recuperar. A última é bem recente, na primeira etapa da temporada 2018 em Nova York. No primeiro boi eu cai dele e ele pisou no meu rosto, cortando, levei 40 pontos, foi um acidente feio, assustou a mim e quem assistiu. E estou me recuperando novamente, trabalhando a cabeça. Ainda mais nessa idade que estou, que para o esporte, já sou considerado veterano. Decidi que esse ano vou ficar um pouco mais com a família, em casa.

Em seu primeiro curso, ano passado

Explique sua paixão pelo rodeio:

Robson: É muito grande. Acho que nasci para isso! Montar nos touros, aquela vontade que temos se superá-los, o desafio. Desde quando eu brincava na fazenda, me sinto bem praticando esse esporte. Quando pego um touro bem pulador, a vontade é de vencê-lo. A paixão é grande, e é o que me motiva a seguir em frente.

Como está sua vida ai hoje?

Robson: É bem corrido (risos). Mudamos de Tyler para outra cidade perto, Bullard, em um rancho menor. Temos três filhos e fazemos todas as atividades com as crianças, levar na escola, futebol, dança, ballet, do dia a dia deles como crianças na escola, e também montar, Gabby gosta muito de Tambor, gostam de andar a cavalo, meu filho Mateus monta de vez em quando nos bezerros aqui, também temos carneiro, o menor é o mais sapeca. É uma vida muito boa, vivemos bem. Minha esposa está sempre junto comigo, me ajudando e dando força. Não paramos, todos os dias são agitados, mas é gostoso.

Lucas montando em Carneiro

Tem planos para o futuro?

Robson: Sim. Me aposentar do esporte e usar a minha jornada, caminhada nesses anos como profissional do rodeio, para ajudar os que tem a mesma paixão que eu sobre a forma certa de montar, passar o que aprendi para os mais jovens. Comecei a praticar isso, já fiz dois cursos aqui nos Estados Unidos, e gostei muito. Quero passar essa experiência tanto aqui como no Brasil. E temos os cavalos, gosto muito de laçar. E tem as crianças, que gostam de cavalo, então planos é de estarmos junto deles, nos manter sempre nesse meio. Não sei ainda se meus meninos vão querer montar em boi, mas o que eles quiserem fazer, vamos estar junto com eles.

Por Luciana Omena
Fotos: Arquivo Pessoal

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