A categoria que é considerado a base de tudo para um bom cavalo de Laço esbarra em entraves sobre o julgamento e anseia por maior incentivo
A mais importante categoria do Laço é o Técnico, porém, é também a que menos tem competições, se restringindo principalmente aos três eventos oficiais da Associação dos Criadores do Cavalo Quarto de Milha – ABQM: Congresso, Nacional, Copa dos Campeões e Potro do Futuro.
Segundo dados do Departamento de Esportes da entidade, hoje são promovidas 16 provas oficializadas de Laço Técnico no Brasil, além das oficiais.
Em uma pesquisa realizada nos últimos cinco anos nos eventos oficiais da ABQM, os números das inscrições tiveram uma queda apenas em 2013, com 2.968 participantes; já em 2016, ano em que coletamos os dados, foi o maior número de participação somando os três eventos com 3.582 inscritos, segundo Henrique Campana, diretor de Esportes da ABQM.
Para o competidor e criador Lincoln Figueiredo, que está há 24 anos no meio do cavalo e está sempre circulando entre os melhores do Laço no Brasil e EUA, o Laço Técnico evolui, mas ainda tem muito a ser feito.
“Esses números são pequenos em relação ao tamanho do Laço no Brasil. É preciso mais incentivo à modalidade, porém vemos nos dois últimos anos na ABQM que o laço valorizou muito, isto porque houve muito investimento da raça no Laço Técnico. Os criadores foram buscar matrizes nos EUA, os garanhões estão em treinamento, os treinadores indo laçar na América, também estão trazendo laçadores americanos para vir laçar aqui no Brasil, então o salto no Laço Técnico nos últimos 3 anos foi um absurdo e acredito estar no mesmo nível dos EUA,” comenta Lincoln Figueiredo.
A importância das provas de Laço Técnico é a valorização do animal e a performance em pista, na qual se o cavalo é bom na técnica, terá preparo para outras categorias do Laço.
Infelizmente hoje em dia o que demanda para a maioria dos laçadores é a busca por premiação e não por pontuação e valorização dos animais junto às associações de raça.
“O Laço Técnico é a prova do dono do cavalo, do criador que quer agregar valor a seu animal, pois as provas de cronometro hoje viraram cassino, você vai errando e pagando, ganha quem tem mais dinheiro”, expõe Celso Cuba, juiz ABQM.
A prova necessita ter bons juízes para que haja um julgamento justo e, por conta das poucas provas realizadas na modalidade, eles acabam que, pouco exercitam a função na prática, já que vale o velho ditado de quanto mais se pratica, melhor fica.
Para manter os juízes atualizados quando selecionados a executarem um bom trabalho, a ABQM vem desenvolvendo um trabalho diferenciado, como conta Fabrício Pinotti, coordenador de juízes ABQM.
Laço em dupla Técnico. Foto: Miguel Oliveira“Com relação a escolha dos juízes para as provas oficializadas a contratação é feita pelo organizador do evento, desde que o juiz encontre-se apto para desenvolver a função. Para as provas técnicas oficiais a Coordenadoria, junto às comissões de modalidades vem desenvolvendo um trabalho de qualificação do quadro de juízes, através da realização de clínicas e workshops. É feita uma tabulação de dados e analisado os resultados estatísticos através do Desvio Padrão da Média, além do desempenho dos juízes nos eventos já citados para a escalação das provas oficiais.”
Julgamento
O julgamento da modalidade de Laço é realizado no Pé e Cabeça, julgando individualmente a técnica de cada competidor e a aptidão do animal.
A prova de Laço Técnico pode ser julgada por um, três ou cinco juízes, sendo que quando é apenas um juiz prevalece a decisão, quando três somam as notas e é dada a média e quando são cinco juízes descarta-se a pior e a melhor nota.
O papel do juiz bandeira também é muito importante, pois a visão dele dentro de pista montado é diferente dos que estão observando os movimentos, ele que sinaliza o fim da laçada.
Celso Cuba, juiz ABQM, há 30 anos julga provas de Laço e é um dos mais experientes do Brasil, ele explica qual a importância da prova de Laço Técnico e o que é julgado:
“O que você julga é o cavalo que qualquer um gostaria de montar para ir ao rodeio e ganhar dinheiro, aquele animal tranquilo no brete, que chega rápido no boi, que te permite uma laçada rápida, puxa bem o boi e dá um rolbeck rápido. Na prova de Laço em Dupla, o juiz para o cronometro quando os dois cavalos estão de frente para o boi, então o que eu quero é os dois cavalos de frente para o boi com o pescoço na corda. O cavalo tem que ser perfeito na técnica então é o conjunto: brete, corrida rápida posicionamento e rollback. O cavalo de Cabeça é brete, corrida até o boi e dá o rollback; o Pé é brete, corrida do lado do boi do cabeceiro, e quando o boi vira ele tem que dar condição para o pezeiro parar, uma parada macia e sem movimento,” explica Cuba.
O juiz também detalha que o julgamento apesar de ser individual, é visto pelo desempenho da Dupla, onde tanto pezeiro como o cabeceiro têm a mesma importância.
“Os dois têm a mesma importância, porque às vezes você está julgando pé e o cabeceiro faz um monte de lambança, o que não deixa uma prova bonita, então na dupla onde você está julgando individual, então acaba vendo o conjunto, se estiver julgando o pé, o cabeceiro tem que acertar, e se estiver julgando a cabeça o pezeiro tem que acertar.”
Outra observação de Celso Cuba é a posição do cavalo ao laçar um boi perto soltando a corda, e isso ele compara ao que os americanos fazem.
“Existe muitos jeitos de você laçar um boi perto soltando a corda, se o cavalo cai à paleta, ou se não cai à paleta. Por exemplo, se o cavalo cai paleta é ruim pra você laçar para o pé, mas se o cavalo tiver com a paleta em pé o boi não fica tão ruim pra você laçar. Isso é a técnica que você olha num cavalo. O cavalo que cai a paleta tanto na prova de cabeça, como a de do pé , ele costuma levar uma penalidade de até três pontos, ele perde na qualidade dependendo da gravidade até mais de menos três. Porque o cavalo que baixa paleta, ele perde a força para puxar o boi, pois a força do animal está no posterior e o cavalo de Laço Pé, que cai paleta e corta a corrida, ele não faz o percurso do boi.”
Lincoln Figueiredo desde 2002 compete apenas provas de Laço Técnico, em especial as oficiais da ABQM , e enfatiza que o Laço Técnico é tudo no Laço.
“Eu acho que um cavalo muito bom no Laço Técnico, ele é muito bom no cronômetro, já um cavalo muito bom no cronômetro ele dificilmente vai ser bom no Técnico. Os cavalos que são bons no técnico e não estão ganhando mais, já estão velhos não ganham como no começo da vida atlética dele, se eles vão para o cronometro se dão super bem por conta da técnica, pois rapidez eles tem. Existe um grau de dificuldade, pois a laçada, os movimentos tem que ser perfeitos, mas isso é ajustado nos treinamentos, é o aperfeiçoamento da técnica a cada laçada,” detalha o Figueiredo.
Cuba reforça o depoimento de Lincoln sobre o cavalo técnico. “Os cavalos de rodeio dos americanos são todos técnico, os treinamentos é com base na técnica. Aqui no Brasil os competidores querem resultado rápido, e tudo que você faz rápido no cavalo, vai dar problema mais a frente. Um exemplo, é muito mais fácil você abrir um cavalo quando você quiser, do que você fechar ele. O cavalo que é viciado laçar e abrir , o dia que quiser trazer ele de volta no boi, você perde a enrolada. Então por isso que eu digo que a prova técnica vem pra valorizar o cavalo bom. Por isso o criador tem que enxergar o Laço Técnico como fundamental, e por os produtos dele nas mãos de bons profissionais. Assim mostrar o produto dele, pontuar os cavalos e consequentemente num leilão ter uma maior valorização.”
Juiz x competidor
Por conta das poucas provas de Laço Técnico que se tem hoje no Brasil, os laçadores apresentaram para ABQM em Convenção, a regra do Double Point /Double Judge, que já utilizada pela AQHA, como forma de incentivar mais participantes e valorizar os animais que participam.
A regra consiste em pontuar mais de uma vez na mesma prova, e isso daria um start na modalidade de Laço Técnico e incentivaria novos adeptos.
“A prova de três juízes, a soma das três notas dá o campeão, mas pode ser que o cavalo que ficou em segundo tenha a melhor nota de um dos juízes, então seria uma prova por juiz, se tem três juízes, são três registro de mérito. Isso faria ter mais provas , ia pontuar muito mais os cavalos. Apresentamo-la na convecção e foi aprovada, mas não obtivemos mais resposta a respeito,” explica Lincoln Figueiredo.
Para Celso Cuba os profissionais do Laço se desestimulam a competir por conta de não terem o discernimento em perguntar ao juiz quando não se vai tão bem numa prova.
“Por exemplo, o laçador profissional vem numa prova de Laço Técnico e recebe uma nota 67. Ele fala que juiz não sabe julgar e não volta mais, ao invés de perguntar onde errei o que preciso fazer pra melhorar . Assim eles buscam as provas de cronômetros, que o que manda é o tempo e não a técnica.”
Laço cabeça TécinoO Brasil possui um excelente quadro de juízes de Laço Técnico, porém por conta das poucas provas, se exercitam pouca na prática.
Lincoln Figueiredo faz uma interessante observação a respeito, no qual a ABQM também se posiciona.
“Temos ótimos juízes que são muitos bons, mas que treinam pouco , ficam limitados ao Congresso, Nacional Nacional, Copa dos Campeões e mais uma ou duas prova por ano. Como um juiz vai se aperfeiçoar ? É tudo tão rápido na corrida do técnico, então muitas vezes ele vê um defeito, mas passou uma qualidade logo depois desse defeito , tudo é treinamento. Os cavalos são treinados quase todo dia , o juiz treina cinco vezes por ano. Como você vai exigir de uma pessoa dessa, que tem gabarito, que sabem muito, mas que treinam muito pouco. Acredito que quanto mais se julga, fica mais refinado o olho , mas não tem prova , então eu não crítico o juiz quando acontece alguma coisa errada. Faz 30 provas no ano, eles irão ficar refinados igual os americanos, tudo é questão de treino.”
Segundo Henrique Campana, Diretor de Esportes da ABQM, em 2017 tem um projeto de ampliação no apoio as provas Técnicas no Laço.
“A ABQM já vem apoiando algumas provas técnicas, e para 2017 vamos intensificar esse apoio, auxiliando no envio de juízes e em apoio financeiro através da verba de fomento disponível para os núcleos,” elucida Campana.
A frente da coordenaria de juízes, Fabrício Pinotti, fala dos projetos que já foram implantados pela ABQM, que deu um estimulo a mais aos juízes.
“Como forma de incentivo, no ano de 2016, a Diretoria da ABQM, concedeu duas viagens para os Estados Unidos para os juízes com melhor desempenho nas modalidades de Laco Técnico. Para o ano de 2017, a ABQM premiará três juízes com melhor desempenho durante o ano (sendo um de cada pista do evento) para que acompanhe o World Show AQHA. Após a inserção deste novo incentivo concedido pela Diretoria da ABQM, ficou nítida a maior motivação do quadro de juízes pela qualificação em busca da recompensa e consequentemente melhor atuação dos mesmos nos eventos, ressalta Pinotti.
O juiz Celso Cuba dá uma sugestão à ABQM, que poderia ser incorporada aos projetos de 2017, que é a realização de workshops envolvendo, juízes, treinadores e outros interessados em melhorar e exporem suas dúvidas e sugestões em relação aos julgamentos.
“Esse troca de experiência seria muito bom, falando do julgamento, o que é melhor, o que pode tirar ou inserir no regulamento, se certas penalidades pode diminuir o grau dela e outras precisam aumentar . Todo ano a AQHA muda, mas nós mudamos o nosso copiando o dela, porque nós não podemos ter as nossas regras? Melhorou muito, mas nós temos muito ainda o que melhorar ,” expõe Cuba.
Por Verônica Formigoni