Renata Villares Vianna Barreto, ‘carioca da gema’, é apaixonada por cavalos desde pequena
Com alguns minutos de conversa, mesmo que por um aplicativo de mensagem no celular, há quase dois mil quilômetros de distância, consegue-se captar a espontaneidade, carisma e a paixão por cavalos de uma pessoa. Quando o assunto flui de maneira natural e você acha que ficaria horas conversando, dá para sentir que vem coisa boa por ai!
Com Renata Villares aconteceu assim. Aos 36 anos, ela nasceu e mora na capital do Rio de Janeiro. Nenhuma outra pessoa da sua família monta, mas ela é apaixonada por cavalos desde criança. Formada em Jornalismo e Propaganda e Marketing, ela não está montando ativamente no momento, mas não fica longe dos cavalos nunca.
Renata (esquerda) já fez também Ranch Sorting e Team PenningRenata já fez Team Penning e Ranch Sorting, mas é o Tambor que a encanta. Fomos apresentadas por um amigo em comum – Obrigada, Marinho – e pude conhecer essa história tão bacana! Confira!
Como foi seu primeiro contato com cavalos?
Renata: Tenho algumas lembranças de infância, de ir com a minha família em lugares tradicionais aqui no Rio como o Lago de Javary, em Miguel Pereira, passear a cavalo e andar de charrete. Mas o meu primeiro contato, em que eu pude acompanhar de perto e interagir com os cavalos, foi em 1996, aos 14 anos. Eu estava passando as férias em São Paulo, capital, com a minha tia e meus irmãos, quando ela resolveu nos levar para a fazenda que ficava em São Simão, uma cidade bem próxima a Ribeirão Preto.
Lembro que foi bem na época que a novela Rei do Gado estava passando na Globo e eu só pensava que teria contato com o que eu via na televisão, algo que era bem distante da minha realidade no Rio de Janeiro. Ao chegar, lembro de ter ficado encantada e de querer passar o dia todo andando a cavalo e acompanhando meu primo mais velho, que estudava veterinária, nas tarefas da fazenda.
Aos 14 anos, em 1996, na fazenda dos tiosComo eu era inexperiente, aconteceu de tudo, como o cavalo disparar comigo e eu perder a rédea, ficar presa nos galhos de uma árvore, pois o cavalo queria pastar e não sabia como fazer ele voltar e ficar com a perna ralada na altura dos joelhos de tanto cavalgar. Enfim, uma aventura curta, pois não tive mais oportunidade de voltar lá, mais um período que foi suficiente para mudar minha vida. Cheguei a pensar na época em fazer medicina veterinária, mas percebi mais velha que minha vocação era outra.
Perto dos cavalos é ondeRenata se sente bem
Como conheceu os Três Tambores?
Renata: Conheci a prova de Três Tambores aos 14 anos, em São Simão, com meu primo, que frequentava os rodeios locais. Me lembro de ouvir falar da competição e também de ver algo sobre o assunto, mas na época não dei importância, pois achava que se tratava de um esporte que só existisse em São Paulo. Mas aquilo me encantou tanto que ficou gravado na memória.
Aos 16 anos, fui estudar em uma escola na Barra da Tijuca e bem em frente havia um centro de treinamento. Mais comum aqui no Rio, as aulas nesse clube eram apenas de equitação clássica. Quase todos os dias, ao sair do colégio, eu passava lá e ficava apenas observando os cavalos.
Em 2008, já trabalhando, comecei a procurar um lugar para alugar cavalos para passeio e encontrei um em Vargem Grande. Chamei uns amigos e passei a ir quase todo fim de semana para passear, alternando passeios dentro do haras com cavalgadas externas. Um dia um funcionário virou para mim e perguntou se eu não preferia fazer aulas ao invés de realizar sempre os mesmos passeios e eu disse que gostava de velocidade.
Jovem Skippy GEntão o funcionário, para meu espanto, me informou que eles tinham aulas de Três Tambores e Seis Balizas, o hipismo rural, como era divulgado no haras. Fiquei tão surpresa que nem pensei muito e respondi de imediato que faria a aula, mas acabei só começando um tempo depois.
E como foi sua primeira prova?
Renata: Em 2008 eu entrei para uma escola de equitação em Niterói e comecei a correr provas locais. Eu competia e fazia as aulas em um cavalo muito manso, cego de um olho, mas que não o atrapalhava em nada, e que se chamava Jovem Skippy G. Ele foi fundamental para esse início. Em 2009, já casada, pagamos um dinheiro que ganhamos de presente de casamento e resolvemos comprar nosso primeiro cavalo que se chamava Esteio Doc e seu apelido era Schumaker. E foi com ele que eu comecei a competir nas provas da RJQM ainda em 2009.
Esteio DocMorando na capital, como fazia para treinar?
Renata: Quando comecei as aulas de equitação no Rio, fiquei tão apaixonada que resolvi trocar a minha profissão por uma que me desse mais tempo livre para estar com os cavalos. Assim, tirava um dia da semana para sair mais cedo do trabalho, ia até o centro de treinamento (o primeiro foi em Niterói) treinava à noite, dormia lá perto, treinava de manhã bem cedo no dia seguinte e voltava para trabalhar. Era uma loucura que me fazia tão bem que não ligava para a correria. Depois, quando passei a treinar em Teresópolis, ficávamos o fim de semana em uma casa alugada dentro do haras. Acabou se tornando nosso destino ‘obrigatório’ de fim de semana.
Quando começou a treinar, em 2008Você no momento está sem competir, mas tem um amor grande por cavalos. Como é o seu dia a dia hoje com eles. Vai às provas?
Renata: No momento não estou competindo, mas sempre acompanho pela internet e redes sociais. Continuo indo para as provas sempre que possível, pois gosto de torcer pelos amigos. Estar lá e não participar é meio torturante, mas são tantos amigos em um ambiente maravilhoso que não consigo ficar longe. E estou aproveitando esse ano para realizar outras coisas relacionadas ao cavalo. Fui, pela primeira vez, esse final de semana, para a Festa de Peão de Barretos e, em dezembro, parto para NFR em Las Vegas. São dois lugares que eu sempre quis conhecer, um sonho, mas a agenda não batia. Além disso, sem competir, estou com mais tempo livre para conhecer outras raças de cavalos e os esportes que cada uma se enquadra. Uma curiosidade pessoal.
Com Frisco, em 2011Porque parou de competir?
Renata: Eu estava me separando e foi uma fase bem complicada. Para diminuir custos optei por ficar só com o meu cavalo de prova, o Frisco, e vendemos os outros. Cinco meses depois, o Frisco morreu. Sofri demais mas entendi que por algum motivo ele tinha que ir.
Tem alguém que admira no esporte?
Renata: Admiro muitas pessoas no esporte, mas atualmente não consigo ver uma prova do Sidnei Jr sem me impressionar. Principalmente quando ele segura o tambor sem perder tempo. É inacreditável! Mas não posso deixar de citar também as crianças. Elas são as que me deixam mais encantada. Talvez por eu ter começado a montar, efetivamente quando comecei a fazer aulas, aos 27 anos, acho incrível crianças de quatro, cinco ou seis anos já montarem como adultos! Algumas até mais novas e, detalhe, fazendo tempos melhores que os meus.
Quais cavalos você gosta de assistir correndo?
Renata: Sempre gostei de ver a Zirconita 2F. Que égua incrível! Ela é firme e constante nos tempos e ainda é lindíssima. Gosto principalmente do comportamento dela, centrado, dentro e fora das pistas. Adoro ver também todos da categoria Feminino, apesar de eu não ser de ‘fru-fru’ com meus cavalos e meu equipamento ser sempre preto ou azul. Mas gosto de ver como as meninas se preparam e enfeitam os cavalos. Os melhores cavalos também costumam correr nessa categoria.
Frisco foi seu companheiro de provas durante cinco anosTem uma prova que te marcou e você lembra até hoje?
Renata: Uma prova muito marcante para mim foi um rodeio que corri em Campos dos Goytacazes, aqui no Rio mesmo. Eu queria muito correr essa prova, pois a família do meu pai é de lá e meus avós estariam presentes nesse dia, o que tornaria esse dia ainda mais especial, pois meu pai faleceu em 2005 e não chegou a me ver montando. Em todas as provas de que participo penso muito nele, que era uma pessoa animada com tudo e adorava esportes. Tenho certeza de que ele estaria, e está, comigo em cada competição.
Essa foto com o Frisco virou umquadro para casa de Renata
Não tinha ninguém para me acompanhar e acabei indo sozinha de carro do Rio para Campos, para a loucura de toda a minha família. Choveu muito o dia todo e eu, que morro de medo do cavalo escorregar na pista molhada, nem sabia se a prova seria realizada ou não. A prova acabou sendo confirmada em cima da hora, com a pista ainda molhada, mas a chuva já havia parado.
Na hora que saiu o sorteio da ordem de entrada, eu era a primeira a entrar, para meu desespero, e lembro do meu treinador Ordeli Charles Gomes falar para mim: ‘Confia nele, ele não vai cair com você’. Conversei com meu cavalo e disse que deixaria por conta dele (sim, sempre falo com todos eles como se me entendessem). Nossa, eu realmente larguei a prova nas patas dele (risos) e ele não caiu!
Ao ver as próximas competidoras entrando em pista e todas fazendo um tempo mais alto que o meu, pensei na mesma hora que pudesse ter dado algo errado com a fotocélula na minha passada, pois não acreditava no tempo. Sei que eram 31 meninas e que liderei a prova até a 29a.. Terminei em segundo, mas para mim, era como se fosse um primeiro lugar. Foi inacreditável ficar em segundo em uma prova que a minha única preocupação era de não cair. Foi a partir desse dia que passei a confiar ainda mais no meu cavalo e na parceria que podemos estabelecer com eles.
Tem um cavalo especial da vida?
Renata: Sim, esse último que se chamava Frisco Playboy B2B. Com ele eu aprendi a confiar, a interagir, o significado de parceria, tudo! Isso porque eu não queria comprá-lo e estava olhando outros cavalos para comprar. Andava meio desanimada com os animais anteriores, pois não conseguia baixar o tempo de prova e nem realizar uma boa passada. Tudo com esse animal foi especial! Comprei o Frisco em 2011 de um criador aqui do Rio e quem competia no cavalo era o filho dele, Mattheus, de 15 anos. Em fevereiro de 2011, em uma prova em Macaé, ainda na dúvida da compra, o Matheus me deu de presente, no dia do meu aniversário, um pingente de Nossa Senhora Aparecida e colocou em uma folha de papel o nome do cavalo e o meu nome e me disse que eu poderia ter certeza da compra do cavalo, pois ele me faria muito feliz. Aquilo me emocionou e nunca mais esqueci do gesto dele! O Frisco realmente me fez muito feliz por cinco anos!
Frisco Playboy B2BUm fato curioso é que o Frisco morreu no dia 01/04/2016 e meu pai faleceu no dia 01/04/2005. Se fosse só isso, muitos diriam que é apenas uma coincidência. A questão é que a data marca um outro fato. Eu ganhei meu cachorro Luck antes mesmo dele nascer em 2014, o que me dava a liberdade de escolher qualquer filhote da ninhada, de acordo com o canil, e a minha escolha seria qualquer filhote que não fosse preto e branco. Eram esperados quatro filhotes para essa ninhada, de acordo com o ultrassom, e no dia do trabalho de parto a cadela teve quatro filhotes todos pretos e brancos. Mas havia mais um, o quinto e último filhote nasceu amarelo e branco, no dia 01/04/2014. Não aguentei, ele era para mim! Naquele ano achei que fosse um sinal e, dois anos depois, o Frisco veio a morrer nesta mesma data. Não sabia o que pensar, mas essa data se tornou mais que especial para mim!
O encontro com Luck parece que estava escritoComo você vê o Rio de Janeiro no cenário do QM no Brasil?
Renata: Eu acho que o Rio de Janeiro tem muito mais força do que ele imagina! Vejo vários cariocas saindo do Rio para montar haras em São Paulo, para estar mais perto das grandes provas. Sim, São Paulo é uma referência em provas e criadores, mas temos excelentes criadores aqui também e poderíamos tentar movimentar mais o estado.
Você criou uma conta nova no Instagram para ficar mais perto desse meio, conta mais sobre isso.
Renata: Eu sou apaixonada por CAVALOS, de qualquer raça, mas me aproximei do Quarto de Milha, pois as provas me atraem. Mas gosto muito de estudar e observar o comportamento do cavalo. Por inexperiência e ignorância no início, cometi vários erros bobos com relação ao trato dos animais, em que animal investir ou qual o animal mais indicado para as competições.
Renata gosta muito de estudar e observar ocomportamento do cavalo
Resolvi abrir o instagram e mudar o nome para @cariocacountry, pois vinha recebendo muitas perguntas sobre onde montar aqui no Rio, dúvidas de qual a melhor raça para passeio ou em que tipo de aula colocar as crianças, por exemplo.
Não sou uma profissional do meio, apenas uma grande admiradora dos cavalos. E para isso quero contar com a ajuda de todos os profissionais da região. Além disso, vou falar de cachorros, pois o Luck, que é de uma raça muito comum no meio, o border collie, chama muita atenção aqui no Rio. Nem todos conhecem a raça ou sabem da importância de exercita-los, principalmente se a pessoa morar em apartamento, por exemplo.
Desde que se lembra, Renataama cavalos
Me interessa mostrar tudo sobre os lugares, as competições e as raças de cavalo que temos aqui no Estado, pois pouquíssimas pessoas sabem por onde começar a procura e que tipo de raça é mais indicada para o que ela deseja. O Mangalarga é uma raça com que tenho pouco contato, mas que muitos me perguntam sobre ela. Estou pesquisando para colocar essa informação disponível para meus amigos e quem mais possa se interessar.
Para terminar, o que os cavalos significam para você?
Renata: Acho que minha relação com eles vem de outras vidas. Não sei explicar, pois nunca tive um relacionamento muito próximo com os cavalos quando pequena e eu e meus irmãos não fomos criados em fazenda, como muitos competidores que eu conheço. Eu comecei tarde e meus irmão não frequentam as minhas competições. É uma coisa minha essa paixão! Mas sinto que agora, na idade que estou, que posso coordenar minha vida, que sou independente, não posso e não consigo ficar longe deles.
Mudei a minha vida profissional, e mudaria de novo, por essa relação. Hoje tento unir o útil ao agradável e trabalhar com algo relacionado à minha formação e aos cavalos, mas ainda é difícil! Eu amo a minha cidade, mas sem dúvida, trocaria a vida de hoje por uma que me deixasse mais próxima deles.
Por Luciana Omena
Fotos: Arquivo Pessoal