NBQM, APQM, Copa SGP, RJQM e a própria ABQM seguem buscando alternativas para a modalidade não acabar
Quem assistiu uma prova de Seis Balizas pôde se encantar com o bailado do cavalo ao realizar o percurso e com a destreza do cavaleiro ao deixar o trabalho ainda mais minucioso e perfeito. Habilidade é essencial, animais com poder de troca de mãos e viradas rápidas, mas velocidade também é necessário, já que essa é uma prova aferida por cronômetro. Some-se a isso o investimento genético árduo realizado na seleção de animais em todos os criatórios do Brasil e teríamos uma modalidade forte e sustentada.
Mas a realidade não é essa. Nos centros de treinamentos e ainda em algumas provas, os Três Tambores e as Seis Balizas andam juntos. Normalmente quem faz uma modalidade, também pratica a outra. Inclusive, em muitos programas de treinamento o potro é iniciado primeiro na baliza para depois ir aos tambores. Há também uma corrente que corrige problemas dos cavalos de tambor passando eles pela baliza. Elas se complementam, mas uma cresceu exponencialmente mais do que a outra aqui no Brasil.
Ter cavalos separados para somente treinar e competir nas Seis Balizas é privilégio de poucos. Privilégio, pois o retorno é baixo. Poucas provas e com premiações que não se sustentam. Temos muita gente engajada em achar soluções, ações de fomento e que mantém a modalidade viva em suas casas ou nas provas em que organiza e participa, mas o resultado efetivo não tem acontecido. Pelo menos não a nível global.
Na RJQM, por exemplo, a associação do Quarto de Milha no Rio de Janeiro, a Seis Balizas permanece forte. Depois de uma queda, os incentivos de criadores que acreditam no esporte surtiram alguns efeitos. O Rancho 3D criou o GP Seis Balizas, um formato de tira-teima, que foi muito bem aceito. Essa foi uma das formas que acharam para incentivar o esporte. Na etapa mais recente da entidade, realizada em março no Centro Hípico Sapucaia, foram 118 inscritos na modalidade.
Para a gestora da Copa SGP, Marli Faria, para que o campeonato fique completo, deve ter as duas modalidades e ela reforça que procura pela Baliza no Paraná é boa. Mesmo tendo um número interessante de adeptos que se inscrevam nas categorias de Baliza, ela ainda é uma prova que não se pega, mas a Copa SGP não tem intenção de desistir. O incentivo permanecendo com as categorias em suas etapas é importante para ser mais um braço de força nessa luta.
Nas provas oficiais da ABQM, após a queda da participação na modalidade, foi instituído uma premiação de fomento para as Seis Balizas, dando um incentivo a mais, fora o já garantido para os competidores. “Depois disso a Baliza começou a crescer novamente, aumentando o número de cavalos no Potro do Futuro e animando ainda mais o futuro”, comentou Martha Herweg, uma competidora assídua em provas de Baliza e hoje presidente do NBQM, o núcleo do Quarto de Milha de Bauru, um dos mais tradicionais do Brasil e que permanece firme e forte com as provas da modalidade.
Mas será que temos uma explicação para o declínio da Baliza e a ascensão do Tambor? Um dos maiores incentivadores do esporte e que nas competições chega a apresentar em média 20 animais, Vagner Simionato lembra que para muitos treinadores as Seis Balizas era a base do treinamento para os cavalos, que depois eram iniciados nos Três Tambores. “A Baliza, para todos, era uma modalidade fundamental nos tempos passados. A gente iniciava os animais nas Seis Balizas, pois tinha um grande glamour em cima dela, e depois a gente colocava nos Três Tambores. A Baliza trabalha muito com troca de mão, é uma habilidade do cavalo, e dali partíamos para o Tambor, que são três viradas. Lá atrás, o grande up dos Três Tambores foi quando chegou o rodeio melhor organizado e depois o sistema dos D’s. A partir daí a Baliza ficou esquecida”, relembra Vaguinho.
Para Marta Herweg, outro fator que possa ter contribuído foi a valorização dos Slots nos Três Tambores. Provas para potros com uma premiação milionária naturalmente fez com que os envolvidos tenham voltado mais suas atenções para o cavalo estar tinindo no Tambor. Há alguns anos atrás, o potro era preparado apenas para o Potro do Futuro da ABQM, a prova que é apenas uma vez na vida do animal, mas hoje em dia isso mudou. As categorias de futurities, os Slots, premiação alta para o Tambor, converge a atenção toda para elas.
Há ainda o fator genética, a linhagem de corrida, cavalos mais velozes, a busca pelo 16, cruzamentos para apostas em indivíduos que cada vez mais se destacam por sua velocidade, também é apontado como um fator para o declínio da Baliza. Para Odilon Diniz, do B2B Ranch, o animal para a Baliza é a linhagem de trabalho, apesar de alguns cavalos de velocidade se destacarem também, mas as viradas e trocas de mão exigem sangue de trabalho, e o mercado que as duas modalidades estão envolvidas está muito focado nas linhagens de velocidade.
Há cerca de três anos surgiu o Projeto Avante Seis Balizas, uma iniciativa da Associação Brasileira dos Treinadores de Tambor e Baliza, para impulsionar a modalidade. Contou com o apoio de treinadores e de alguns criadores, mas não chegou a pegar. A ideia era uma premiação extra de R$ 50 mil nos eventos oficiais da ABQM durante a temporada para a categoria Cavalo Iniciante. No primeiro ano do projeto, conseguiram arrecadar a quantia, mas depois ficou no esquecimento.
Muitas são as ideias, muito se é discutido, muitas são as pessoas que não querem e não vão desistir. Mas o que realmente precisa começar a ser feito para que a modalidade volte aos seus dias de glamour?
Por Luciana Omena
Colaboração Verônica Formigoni
Fotos: Hugo Lemes/cedidas ABQM