Aos jovens treinadores

Luciano Rodrigues, cavaleiro e pesquisador, escreve neste artigo sobre a evolução dos competidores de Três Tambores ao longo dos anos

Estamos no Centro de Treinamento Leandro Sousa, no Paraná, no começo dos trabalhos apenas com doma de cavalos, mas conforme a demanda de novos criadores e competidores, exigiu-se um aperfeiçoamento nos treinamentos para as competições.

Não é para os cavalos de laço ou lida da região, esportes que antes conhecia pela televisão, como os Três Tambores e Team Ropping, começaram a aparecer, junto com eles as competições em Rodeios ou provas oficiais da raça.

Houve a necessidade de se “atualizar”. Quem está de fora pensa no correr em volta de Três Tambores como a coisa mais simples do mundo, “só tocar”, sem pensar em toda a biodinâmica envolvida: postura, entradas nos tambores, equilíbrio do cavaleiro, musculatura, etc. Todos os fenômenos envolvidos na alta performance do esporte.

Leia mais

Novos treinadores estão chegando, acompanhando o crescimentos das modalidades, e para “bater de frente” com a elite, estão trazendo novas configurações de manejo e treinamento dos animais, além da própria mudança do competidor na sua mentalidade, pensamento e resolução de conflitos.

O Brasil no topo da alta performance nos Três Tambores

Nos últimos anos, o Brasil se tornou referência mundial em Três Tambores. Recordes sobre recordes são quebrados constantemente dentro das pistas, e já estamos falando dos 15 segundos. Houve uma melhoria nas pistas, no incentivo, na genética e, principalmente, na conduta de treinamento dos atletas, seja cavalo e competidor.

Cada um, a sua maneira, descobriu o seu melhor estilo de treinamento e tocada em prova. Cada vez mais pensamos nas ciências envolvidas, alta tecnologia para medir a performance, postura do cavaleiro, equilíbrio emocional e física, alimentação, suplementação, tecnologia na reprodução e criação dos animais. Se o competidor não estiver atento ao que a ciência diz, dificilmente terá êxitos.

Quando ouvimos aqueles que estão no topo do ranking percebemos o quanto estamos distantes. Eles estudam, leem livros, fazem análises, focam no treinamento, criam rotinas, aprender a ler a estatísticas, interpretar números, tudo que é ferramenta que possa contribuir para o desempenho.

O Brasil se tornou um celeiro de atletas de alta performance nos Três Tambores, resultado desses investimentos de energia, tempo e dedicação no esporte. A vitória começa em casa e não dentro da prova. O foco e percepção para as constantes melhorias a serem feitas enquanto pessoa, com o tempo os resultados chegam, segundo Leandro Sousa: “acho muito importante é a sequência de treinamento, pra ter uma evolução progressiva”.

Tempo ao tempo: Sidnei Júnior

Evolução progressiva e a auto análise determinam como você vai chegar, mas chegar aonde? Primeiramente, a meta, onde você quer chegar, o objetivo. Qual o seu objetivo, para muitos que chegam nas grandes competições, o seu objetivo ali não é vencer, mas é conquistar a sua meta, nem que ela seja, marcar um tempo de 17 segundos, ótimo, o que importa é o seu objetivo, onde quer chegar na vida.

Quando pensamos na evolução progressiva vejamos o caso do fenômeno Sidnei Junior. Ao analisar os dados do Sistema de Esportes da ABQM – SEQM, temos como primeira prova oficial do Sidnei Junior a 7ª Etapa Campeonato – Circuito Regional Leste, no dia 1º de novembro de 2008, na categoria Jovem (14 a 18 anos).

Veja são 14 anos de dedicação a modalidade, quantos treinamento e quantos eventos esse rapaz correu, então há dedicação. Destas provas, não são todas de vitórias, tem seus erros, suas falhas, o dia que a gente não está bem, que o cavalo não está bem, porém não desiste dos seus objetivos.

Seu primeiro 16 segundos só aconteceu no dia 23 de novembro de 2012, durante a 2ª Etapa do 13º Campeonato Regional Oeste 2012, na categoria Aberta Júnior, com o tempo de 16,975. Foram 4 anos até chegar no 1º 16 segundos, mas o que é interessantes, os seus primeiros 16 segundos foram conquistados na pista do Haras Raphaela, na qual aconteceu o último recorde mundial.

Então não basta treinamento de cavalos e competidores, o que interfere é a qualidade da pista para contribuir no desempenho, as vezes as falhas não são nossas, mas do ambiente. No entanto, sempre devemos pensar no que poderia ser feito de diferente.

Algumas dificuldades

Podem ser muitas, isso vai depender do ponto que está saindo. Qual a sua estrutura? Muitas pessoas treinam seus cavalos no meio do próprio pasto, alguns já possuem uma pista, outros já pista coberta. Concorda que conforme a sua estrutura fica mais complicado o trabalho, só perceber nos tempos de chuva, na qual a pista fica encharcada por um longo tempo, então, a corrida até o topo do podia pode ser mais árdua.

Outro fator apresentado por Leandro Sousa é o conhecimento, para ele “a maior dificuldade no começo foi a falta de conhecimento do assunto em si que era o tambor”, como era a doma, o treinamento, as peculiaridades da modalidade, isso se “faz da maneira errada, traz consequências no futuro, difíceis de serem corrigidas”.

Continua ele: “se não fizer a base com calma, dando o tempo certo pro animal ir evoluindo, ele vai pegando ansiedade e antecipando os comando”, para isso “é preciso paciência, até por que se trata de um esporte que exige muito esforço físico, e pode ocorrer lesões que pode acarretar na carreira de um animal atleta”.

Tempo ao tempo, dedicação e evolução progressiva. Os objetivos são pessoais, até onde pode chegar com a estrutura que você, os animais que você tem, não tenha raiva, ódio ou faça “birrinha” para ter cavalos melhores, vá evoluindo que os resultados irão acontecendo, pense na sua evolução, na sua construção enquanto treinador, e nunca tenha medo de tentar.

Colaboração: Luciano Ferreira Rodrigues Filho

Cavaleiro e Pesquisador | Haras Dom Herculano

Foto: Unsplash

Mais notícias no portal Cavalus