Uma das poucas mulheres que são treinadoras de Três Tambores no Brasil



Bruna: Tive meu primeiro contato com cavalos aos dois anos de idade, meu tio tinha uma égua de passeio. Montei pela primeira vez aos três anos. Em 1994, eu morava afastada da cidade, e tinha um horse club a poucos metros de casa, onde minha prima montava. Meus pais decidiram me colocar para fazer aula lá também, tinha três anos na época e comecei fazendo Hipismo Clássico. Minha primeira prova foi de Hipismo Clássico e foi em 1995, quando eu tinha quatro anos. Ganhei primeiro lugar, uma medalha e um cheque de R$ 4,50. Foi emocionante! Montei uma égua pampa, sem raça, bem pequena, chamada Tieta!

Bruna: Sim! Meu professor de Hipismo Clássico em Chapecó foi Silvio Luis Michels, que era um militar e me ensinou muito mais do que ser uma competidora, me ensinou a ter espírito esportivo, espírito de equipe, a nunca torcer contra ninguém e ficar feliz também com a vitória dos outros. Aprendi com ele a cada competição me preocupar em me superar e não em superar o outro.
E os Três Tambores, como entrou na sua vida?
Bruna: Aos seis anos mudei para os Três Tambores e com ajuda de amigos montamos um haras. Lá em casa passaram alguns treinadores, entre eles tiveram dois que eu aprendi muito, Amauri e Lauri Goulart. Corríamos o campeonato de Santa Catarina e Paraná, onde tivemos muitas alegrias e fui campeã Catarinense e Paranaense. Aos oito anos de idade vim para minha primeira prova em São Paulo e, nos cinco anos seguintes, todos os anos, participamos das provas da ABQM, meus primeiros títulos de campeã Nacional e do Congresso. Em 2003, com 12 anos de idade, tive a alegria de bater o recorde nacional da modalidade.

Depois de Sorocaba, mudamos para Botucatu, eu corria nos cavalos da Fazenda Espelho d’ Água, época que consegui importantes títulos, como o recorde de tempo no Potro do Futuro da ABQM. Nessa época o Itamar Marques era meu treinador. Aos 16 anos passei a competir nas categorias profissionais, comecei a treinar e competir em cavalos de outras pessoas, mas ainda com outro treinador junto, o Itamar. Também tive o privilégio de correr nos cavalos da FNSL, montei Victory Fly VM, Indiana Bull e Fishers Down Dash, com o treinador Marcos Monzinho. Em 2015, trabalhei no 3R Ranch, com o treinador Alex Sandro Alves de Oliveira.

CT Bruna Tedesco
Até que em agosto de 2016, fui contratada para ser treinadora do Rancho Coyote, em Itatiba, onde comecei a minha carreira solo como treinadora, o que foi um grande desafio. Tanto por estar treinando os cavalos sozinha, como de treinar amadores para competir. Tive já no início bons resultados, além de vitórias e evolução da minha amadora Giulia Carbonari.
Hoje tenho uma parceria com o Rancho Coyote, local em que instalei o Centro de Treinamento Bruna Tedesco. Além de cavalos aqui do Rancho, também tenho animais em treinamento de clientes de fora e amadores que treinam comigo.

Bruna: Foi uma caminhada longa, desde os seis anos monto cavalos todos os dias, a maior parte do meu dia. E busco aprender, não só a passar no tambor e sim a treinar e preparar eles para as provas. Passei por diversas experiências e cavalos com diferentes dificuldades, que ao longo do tempo foram muito importantes para criar o programa de treinamento que tenho hoje. Acredito que estamos em constante aprendizado e tenho o objetivo de cada vez melhorar mais meus resultados como competidora, treinadora de cavalos e amadores.

Bruna: A primeira vez que fiz Três tambores foi aos seis anos e a hora que corri pela primeira vez pensei que era isso que eu queria! Parece poético, e na verdade é., mas todo o dia eu vejo que é o que eu quero ser e fazer. Cada dificuldade, cada desafio me faz pensar que é isso que eu quero para mim. Não acredito que seja na facilidade que descobrimos o que queremos, mas sim na dificuldade! Eu e minha mãe já tivemos que lutar muito pelo que queremos, e continuamos lutando. A cada desafio descobrimos que é exatamente aonde estamos que queríamos estar!

Tem alguém em quem se espelha?
Bruna: Pessoalmente falando, eu me inspiro muito na minha mãe, que é uma mulher batalhadora, corre atrás dos sonhos, não abaixa a cabeça para nenhuma dificuldade e é uma pessoa do bem. Profissionalmente, eu me inspiro no meu melhor amigo e colega de trabalho Itamar Marques da Silva. Ele tem muita base, sensibilidade e respeito com os animais, que eu acredito que são pontos cruciais para um bom treinamento. Além disso tem muita humildade e sempre busca evoluir.
São poucas as mulheres treinadoras, como você vê isso?
Bruna: Vejo como um desafio. As mulheres, ao longo dos anos, estão criando espaço em diversas áreas e no treinamento de cavalos, algumas vezes, ainda são subestimadas. A rotina de um treinador é muito cansativa e exige muito esforço físico. Mas tanto homens como mulheres, com determinação, experiência, foco e preparo podem atingir bons resultados.

Fale um pouco das suas experiências internacionais. Em que elas contribuíram para o seu crescimento como competidora, treinadora e pessoa.
Bruna: Como competidora, a pressão de estar em um lugar diferente, com cavalos que não conhecemos e representando o seu país, ensinam muito sobre concentração, calma na hora de competir e, principalmente, sensibilidade e reflexo na hora da prova. Uma vez que você não conhece os cavalos e a pista, exige de você muita agilidade e atenção para fazer o necessário na hora da competição. Como treinadora, a troca de experiências e ver diferentes formas de treinamento me ensinaram muito. Além de montar cavalos diferentes e ter que em muito pouco tempo solucionar alguma dificuldade do cavalo. Com os amadores também foi muito bom, pois nessas provas conheci pessoas que me chamaram para dar alguns cursos fora do Brasil. O que me fez aprender mais em como passar o mais relevante para cada competidor que participava do curso. Como pessoa, foi gratificante ser chamada para representar o Brasil! Algo inexplicável! Sair de uma cidade pequena do Sul e representar o país em diversas partes do mundo, conhecer pessoas, fazer amigos e ver que em diferentes culturas a paixão pelo cavalo é a mesma. Só tenho a agradecer a NBHA por ter me proporcionado tantas alegrias!!

Tem algum título que ainda não conquistou?
Bruna: Já tive alguns títulos. Mas considero todas as provas importantes e não o foco em uma específica e sim buscar mais vitórias.
Qual prova te marcou mais até hoje?
Bruna: O Campeonato Mundial em 2013, que fui campeã.
Tem um cavalo especial da vida?
Bruna: Vários. Mas o destaque vai para The Best Doc, Victory Fly VM e Cash Fly Doc.

O que o cavalo representa para você e na vida da sua família?
Bruna: Para mim, tudo!! Minha família nunca teve contato com cavalos, então para eles é um mundo muito diferente. Apesar de incentivar, tinham medo do futuro que eu teria nesse meio.
Você se considera um exemplo para as meninas que estão começando?
Bruna: Eu acho que cada pessoa busca alguém que admira para se espelhar. Acho pretencioso falar que sou um exemplo a ser seguido. Mas fico muito feliz quando meninas vêm até mim falando que me veem como um exemplo e admiram minha trajetória.
Por Luciana Omena
Fotos: arquivo pessoal