Shannon Kerr sonhava com os cavalos até ter a chance de trabalhar com eles

Americana de nascimento, um pouco italiana também, mas com um coração apaixonado pelo Brasil, ela é uma das figuras queridas do nosso esporte equestre

Shannon Lee Ker, 41 anos, foi criada por seus avós, em Miami, Oklahoma, no Condado de Ottawa, cidade que fica perto de Tulsa e Springfield. Eles não queriam que ela tivesse cavalos, mas que se dedicasse ao Golf. Mas Shannon sempre sonhava com em tê-los. Assim que teve idade para dirigir, que nos Estados Unidos é 16 anos, ela foi ao centro de treinamento local e começou a montar cavalos de corrida e puro-sangues. Antes disso, eram apenas livros, filmes, imagens e muitos sonhos.

Com Zippys Investa Bar, Shannon ganhou mais de US$ 70 mil. Nesta foto, as duas ficaram em segundo lugar entre 800 cavalos

Sua carreira no rodeio começou quando ela estava terminando a faculdade de Livestock Marketing e Equine Nutrition (Marketing de Pecuária e Nutrição Equina). Morando desde 2011 em Mirandópolis/SP, ela tem seu Centro de Treinamento, SK Quarter Horses, e dedica seu tempo a treinar potros. Para 2018, estão em treinamento El Toro Rock, de Bianca Cannizza, Shine El Shady, de Marcia Emilio, e Catchme Fling RCH, que é de sua propriedade. Shannon divide seu dia a dia com o Semanal Três Tambores, um jornal online que ela prepara semanalmente com notícias, resultados de provas, rankings e entrevistas, aqui do Brasil e também de fora.

Fomos conversar com ela para conhecer melhor sua história, como ela veio parar no Brasil e seus planos para o futuro! Confira!

Com Tony, um cavalo sem registro que ela
ganhou muito nos rodeios da PRCA

Sua família não era muito fã de você trabalhar com cavalos, como foi conviver com isso?

Shanon: Fui criada pelo meus avós. Não tenho contato com a minha mãe desde os três anos de idade e meu pai era policial e faleceu em serviço quando eu tinha 11 anos. Eu comprei meu primeiro cavalo quando tinha 18 anos e nunca contei aos meus avós. Os mantive na pista de corrida e paguei todas despesas. Quando eu tinha 20 anos, meus avós faleceram sem nunca saber que eu tinha um cavalo. Nesse tempo, eu já tinha três. Penso que se eles estivessem vivos hoje, ririam muito a respeito de tudo isso. Mas na época, eu lembro, tinha muito medo de contar, pois eles queriam que eu terminasse a universidade antes de seguir com a carreira de treinar e montar cavalos. Mas minha paixão era muito forte.

Além da Corrida, você fez Salto e só depois começou nos Três Tambores?

Shannon: Comecei na pista de Corrida. Eu frequentava a Oklahoma State University e levei comigo o cavalo que tinha comprado. Precisava de um lugar para ele ficar enquanto eu estudava e fiz um acordo com um estábulo que tinha cavalos de Salto e Adestramento. Como eu não tinha dinheiro para pagar a estadia do meu cavalo, me ofereci para trabalhar com os cavalos de Salto em troca da hospedagem. Também comecei a trabalhar com os cavalos de Adestramento e logo comecei a ensinar cavalos de corrida a saltar e fazer adestramento. Essa experiência com a corrida e o hipismo ajudou a moldar minha equitação de hoje. Ensinou-me a ‘sentir’ os cavalos e pensar mais rápido do que eles. E, com certeza, ajudou na minha postura em cima da sela.

Pines Dee One

Você começou a treinar Três Tambores sozinha?

Shannon: Eu aprendi observando outras pessoas. A ideia era entrar com meus cavalos nas competições mais difíceis e competir contra os melhores. Eu era, e ainda sou, extremamente competitiva. Então, me colocava nas situações que a maioria dos iniciantes não faria, contra os melhores profissionais. No momento em que comecei a fazer Três Tambores, entrei para a WPRA, a associação da modalidade dentro da PRCA. Mas a técnica, aprendi observando. Uma pessoa que me ajudou muito foi Tom Pickard. Ele era um cavaleiro de adestramento olímpico aposentado. Com sua ajuda, consegui treinar meu primeiro cavalo de Tambor. Em um mês de treinamento já estava ganhando prova.

E como era competir nos rodeios da PRCA?

Shannon: O rodeio profissional é extremamente difícil. Você não consegue fazer duas passadas como aqui no Brasil. Você tem apenas uma chance. Também não consegue-se treinar na arena de competições antes de começar a prova, então é preciso ter um cavalo que seja sólido e confiável. Meu primeiro cavalo era de uma linhagem de boi, Pines Dee One. Tinha sido treinado para o Laço e foi o primeiro que eu ensinei a fazer Tambor. Foi com ele que consegui o Permit, o cartão que dá acesso a competir nos rodeios da PRCA. Então comprei uma égua de cinco anos, Zippys Investa Bar. Ela nasceu como um cavalo de Halter, mas ganhamos mais de US$ 70 mil em provas de Tambor. Para mim, era competitivo, mas não difícil. Fui à universidade e depois comecei a trabalhar para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Eu ia aos rodeios de quinta a domingo e tive a sorte de ir a grandes rodeios como o de Denver. Mas, principalmente, eu participava do circuito entre Oklahoma, Kansas e Texas.

Firewater Fast na Itália. Ele ganhou todos os Derby’s e, na essa foto, fez recorde da pista
Com Pine Dee One eu quase cai, mas acabamos
nos recuperamos e vencemos o 2D

Você morou um tempo na Itália em uma época que a Europa ainda não era tão desenvolvida para os esportes equestres, como foi esse período?

Shannon:  Quando eu cheguei a Itália, em 2006, tinham muitos cavalos de Tambor, mas não havia uma criação voltada para a modalidade. As pessoas usavam cavalos de Rédeas para correr provas de Três Tambores. Já tinham alguns cavalos nascidos lá, mas não muitos. Fui a primeira a levar o sangue Fire Water Flit, Dash Ta Fame, Frenchmans Guy, entre outros, para a Europa, iniciando o conceito de uma criação de cavalos voltada aos Três Tambores.

Quando foi sua primeira vez no Brasil?

Shannon: Vim a convite do Fernando Costa e do Rancho Colina Real em 2009. Fui muito bem tratada pelo Fernando e por Dale Rankin. Eu gostei muito dos cavalos que vi, muito bonitos e surpreendentes. No entanto, fiquei surpresa com a forma como os cavalos eram transportados. Outra coisa que me chamou muito a atenção também foi a maneira de se fazer o marketing e venda dos cavalos, que achei bem diferente do que em qualquer outro lugar do mundo. Foi incrível e eu fiquei muito impressionada.

Streakin Red Fling, a égua mais premiada de A Steak Of Fling no Brasil

E como veio a ideia de mudar para p Brasil?

Shannon: Depois de passar cinco anos na Itália, voltei para os Estados Unidos levando meu Firewater Fast comigo. Tinha esperança de me qualificar para a National Finals Rodeo. Estava na estrada há cinco meses quando meu cavalo caiu em um rodeio e ficou ferido. Eu tinha um amigo italiano que tinha um haras em Valley View, no Texas, que ele não estava usando. Aluguei o local para deixar Firewater Fast descansando e comecei a treinar potros. Quando precisei de um ferrador, me deram o contato de Marcelo Strang. Marcelo é um brasileiro que morou por 20 anos nos Estados Unidos. Todo o dinheiro que ele ganhava com seu trabalho, ele mandava para o Brasil e comprava gado Nelore PO. Em 2011, ele se aposentou e voltou para o Brasil para trabalhar com seu gado. Foi quando eu vim em definitivo, achando que minha carreira nos Três Tambores tinha acabado. Mas eu ainda tinha Firewater Fast.

Encontrei Paulo Farha, da Fazenda Caruana, uma vez na Itália e uma vez no Texas. Já o conhecia, então resolvi ligar para ele um dia e disse que o Firewater Fast estava na Flórida pronto para ser enviado para o Brasil, mas eu não tinha onde alojá-lo. Generosamente, ele se ofereceu para me ajudar a trazer o cavalo de Campinas e deixá-lo na Caruana  até que eu achasse um lugar. Quando eu cheguei, parei para visitar meu cavalo e fiz uma parceria com Paulo, que dura até hoje.

Com Tres Uno Quatro em Bauru

Como foi receptividade dos brasileiros?

Shannon: Os brasileiros foram muito bons comigo. Mas, quando comecei a competir aqui no Brasil, usei cavalos treinados por outra pessoa e não tive sucesso. Era difícil, porque eu ouvia as pessoas falando ‘a americana não é tão boa’. Acreditem, chorei muitas, muitas vezes. Mas, como eu disse, sou muito competitiva, e não desisti. Com a ajuda de meu marido e uma parceria com Álvaro e Pedro Borges, conseguimos trazer ao Brasil alguns cavalos jovens que eu poderia treinar. O primeiro a ir para a pista foi Fancy French Bug e foi incrível. Eu a vendi e, no próximo ano, iniciei o treinamento de Tres Uno Quatro. Também a vendi e a próxima que treinei foi Laysa Cream. Finalmente sinto que as pessoas respeitam a maneira como treino. Mas foi difícil no início.

Qual sua maior dificuldade?

Shannon: Sem dúvida, a língua. Eu falo inglês com meu marido e falo também italiano e francês. No entanto, até hoje, a barreira do idioma é, de longe, a maior dificuldade.

Quais são suas atividades hoje no Brasil?

Shannon: Eu ainda treino potros e adoro fazer isso. Perdi o desejo de competir. Estive em todo o mundo montando cavalos de Três Tambores e fiz tudo o que eu queria fazer. Então, gosto muito de começar esses jovens cavalos no Tambor e depois ver alguém ter sucesso com eles. Também ajudo meu marido com seu rebanho de gado e comecei o Semanal Três Tambores para tentar passar um pouco mais de informação para as pessoas.

Firewater Fast nos Estados Unidos

Como vê o Tambor aqui no Brasil?

Shannon: O nível no Brasil é muito alto. Top de linha. Os cavaleiros, as provas, o marketing. Surpreendente! No entanto, acho que ainda pode haver mais melhorias na medicina veterinária e mais clínicas para que os cavalos de esporte se recuperem melhor após uma lesão. Também imagino que a forma de transportar os cavalos poderia ser melhor. Mas o cuidado que vejo aqui no Brasil para os cavalos é de primeira classe.

A ideia do Semanal é fantástica, como é produzi-lo toda a semana e porque decidiu assumir essa função?

Shannon: Muito obrigada! Comecei porque vi que não havia muita informação sobre o que realmente acontecia no esporte. Eu queria fazer algo que destacasse os melhores cavalos do Brasil e do mundo. Sempre fui um grande fã do Barrel Racing Report, veiculado nos Estados Unidos, então copiei a ideia, alterando algumas coisas para se encaixar melhor no que eu queria fazer. O Cavalo da Semana, por exemplo, é escolhido em critérios e resultados, não tem a opção de alguém pagar por esse espaço.

Firewater Fast

Quero destacar o cavalo que foi verdadeiramente o melhor de cada semana e ensinar mais sobre os pedigrees que fizeram do nosso esporte o que é. Eu convivi com cavalos de corrida por quase dez ano e cresci no coração da indústria do cavalos Quarto de Milha de corrida. Então, muitas das linhagens mais populares, que fizeram os campeões de hoje, são familiares para mim. Com o Semanal posso compartilhar  esse conhecimento que me foi concedido. Acabo não fazendo muitas propagandas do STT. Estou muito animada que esse ano conseguimos comprar selas para dar aos Favoritos do Ano usando o dinheiro gerado através das pessoas que anunciam conosco.

Quais seus planos para o futuro?

Shannon: Eu espero que o Semanal Três Tambores cresça e em 2018 eu vou ajudar a Marli Faria a lançar o SGP nos Estados Unidos. E, claro, tenho meus jovens cavalos que preciso treinar e cuidar. Minha paixão são meus cavalos e com a ajuda de Deus, não penso em parar nunca.


Por Luciana Omena
Fotos: arquivo pessoal

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