O 2º cavaleiro mais pontuado da ABQM, com mais de 50 passadas de 16 segundos, revela seus segredos de treinamento para um bom desempenho em pista
Conhecido como Sidnei Junior nos Três Tambores, sua história com cavalos é uma influência do pai, o treinador Sidnei Pereira da Silva que trabalhava com animais de laço em Andradina, com algumas mudanças em sua vida foi morar em Nova Odessa, e assim partiu para os Três Tambores.
“Como a região não era muito forte no laço, meu pai migrou para os Três Tambores. Nessa época eu o ajudava, tinha 10 anos de idade. Montava os cavalos com ele, ia para prova e competia. Aos 13 anos eu que preparava os animais que ia montar, e era cobrado pelo meu pai para fazer o melhor, porém chegou um tempo que não pode mais correr na jovem, pois me consideravam profissional por ganhar muitas provas,” conta Sidnei Junior.
A influência do pai o levou a escolher a profissão de treinador, o qual para ele também teve um custo, o qual hoje não se arrepende pela escolha . Porém tudo aconteceu rapidamente em sua vida, devido ao seu talento em pista.
“No começo eu reclamava, nossa como ele pega no meu pé, mas se não tivesse passado por isso não chegaria onde estou hoje. Eu queria jogar bola, fazer outra coisa e ele não, você vai montar. Perdi um pouco na infância, mas hoje não me arrependo,” ressalta Junior.
E aos 17 anos foi trabalhar fora de casa, como treinador, a profissão ensinada pelo pai. Sidnei foi montar na tropa do Haras Raphaela, onde ganhou visibilidade e mostrou ainda mais trabalho em pista.
Foram muitos os desafios e aprendizados em um ano e meio de trabalho, o primeiro como profissional.
“Meu maior desafio foi fazer as coisas sozinho, não tinha ninguém para orientar, eu tinha que fazer de acordo com que aprendi, eu estava no comando, e não é fácil,” lembra o treinador.
Porém o primeiro dele o levou para o alto, passou por grandes Haras onde fez grandes feitos, hoje Sidnei Junior está no Haras ZD, e com apenas 23 anos de idade, três anos como treinador, possui em seu currículo mais de 50 tempos na casa dos 16 segundos, com mais de 15 animais diferentes, em quatro pistas distintas (Haras Raphaela/FNSL/Maringá/Avaré), sendo na ABQM o 2º cavaleiro mais pontuado entre todos no ranking geral, com 4.660,5 pontos até agosto de 2017.
O menor tempo batido foi 16s507 na sela Milos Heart of Gold, durante a 3ª etapa do X Campeonato NBHA-PR, realizada em março de 2017.
Como treinador diz que entra em pista para fazer campanha dos animais, e sempre busca o seu melhor, procurando trocar informações com outros treinadores e se dedicando, já que é muito perfeccionista no que faz.
Com tanto potencial podemos sim dizer que é fenômeno dos Três Tambores no Brasil!
Acompanhe aqui a forma de treinamento, os equipamentos usados e algumas dicas do treinador.
Principais pontos do treinamento
Para se ter um bom animal em pista é preciso prepara-lo, ele tem que chegar na prova e tem que saber o que tem que fazer, porém cada animal é de um jeito e entende de maneira diferente o trabalho que tem que fazer em pista.
E cabe ao treinador entender a maneira do animal, para Sidnei Junior alguns pontos são principais no treinamento e o grande diferencial é “sentir o animal”.
“O primeiro passo é sentir o animal, cada cavalo você sente de uma maneira, tem cavalo que vira colado, tem cavalo que vira aberto e dá mesma marca daquele que vira colado. Tem que tirar do animal o que ele pode me dar, eu acompanho ele e não ao contrário, o segredo é não ficar mudando ele,” elucida Sidnei Junior.
Ele destaque que assim o ponto principal do treinamento é o flexionamneto. “Preciso de um cavalo leve e eu consigo colocar o detalhe , se precisar montar ele duas vezes por dia eu monto, até eu senti ele, e o flexionamento me dá isso. A partir do momento que sinto ele e consigo compreender o jeito dele, dou uma folga.”
No Treinamento …
O treinamento de Sidnei Junior consiste em ele trabalhar o animal na entrada do tambor, saída do tambor e o partidor, levando em conta sempre a dificuldade do animal, observando quais pontos ele tem que ser trabalhado.
Circuito para exercitarPara isso ele monta um círculo formado por quatro pneus, onde ele vai trabalhar o lado de dentro e de fora do animal, esquerdo e direito de acordo com a necessidade de cada um.
“Através disso, se ele tiver a intenção de ir mais para fora, vou trabalhar ele por dentro, se ele estiver fechando demais, faço um circulo só para fora, um maior, sempre deixando ele se equilibrar, sempre fazendo o círculo completo. Quando vou para o tambor vou ver o que tem que melhorar, para fazer o cavalo virar. Pode ser que um lado vai ser mais fechado e outro mais aberto, este caso você melhora com os exercícios no círculo e o flexionamento. Se ele está perdendo tempo na saída, faz meio circulo e incentiva ele sair com mais velocidade e através disso vai se orientando, você incentiva o animal e ele se ajuda. Por isso é fundamental trabalhar o animal em circulo para dentro e para fora, fechado ou mais aberto, dos dois lados de acordo da necessidade de cada animal.”
Flexionamento de lado , o animal cruzando as mãosOutro exercício importante segundo Sidnei é andar na lateral com o animal, este faz com que o ele cruze as mãos, o que é importante, pois facilita a troca na hora do tambor.
“Esse exercício é antigo e na verdade aprendi aqui no Agae, é sempre bom mesclar a ensinamentos antigos com uma coisa nova, sempre buscando no animal o que ele precisa. Isso me ajudou bastante e agora faço nos outros animais também. A verdade é temos que fazer o que dá certo com aquele animal, não há regras.”
Sidnei demonstrou os exercícios na sela do Zeus Agae e a partir desse animal ele vai dando as dicas. “O lado esquerdo dele é bem para dentro, então trabalho mais ele por fora, coloco mais perto, faço o circulo maior e o flexionamento, saindo na minha perna. Vou mexendo, ele vai melhorando e aí vou avançando.”
O lema para Sidnei é ‘constância é mudança, se mudou para melhorar vai ter constância’.
Treinamento no Tambor…
Um diferencial do treinador neste ponto é à saída do partidor para a entrada no tambor. Sidnei conta seu segredo para que cada animal se encaixe perfeitamente no tambor.
“Você tem que sair do partidor em linha reta, mais ou menos uns dois metros de distancia, o comprimento do cavalo é a distancia que você tem que ter para a entrada no tambor. O tamanho dele indica onde ele vai caber. Quero passar rápido independente como ele passar, aberto ou fechado, o bonito é o placar. Ele tem que caber no tambor, e isso faz com que ele mantenha a velocidade. Ele entra com velocidade e tem que sair também com velocidade, ele tem que ser constante, no mesmo ângulo para não perder tempo, se precisa eu reduzo,” explica Sidnei.
O treinador ressalta que é preciso trabalhar do jeito do animal, e a exemplo do que ele disse, um cavalo menor ele vai chegar colado no tambor, e a reta do partidor e do terceiro tambor para chegada é sempre o caminho mais curto.
Virando o tambor no espaço em que o cavalo cabe“A Gleed Moon égua que está há pouco tempo na minha sela, em uma prova da NBHA-PR batemos um super tempo e eu só a toquei, ela é constante, tanto comigo, quanto com a Sara, não precisei bater nela. Com a Cabocla Red também foi assim. Quando o animal vem bem, prefiro não interferir, a prova é dele.”
Grau dificuldade
Na competição há sempre um grau dificuldade tanto para o competidor, como para o animal e com isso vem sempre várias perguntas a nossa cabeça. Uma delas é Qual o tambor mais difícil e o é mais complicado a virada ou a reta final?
“O primeiro tambor é o mais difícil, é o tambor do dinheiro, fazendo ele bem feito e mantendo, você ganha milésimos à frente. E entre a reta e a virada do tambor, com certeza a virada é mais complicada, tem que entrar certo e não pode derrubar, tem que passar e dar certo. Não existe “se”, é mesma coisa que perdeu, se não resolve e dava também não resolve , tem que acertar,” afirma Sidnei Junior.
Para a virada no tambor o treinador diz que você tem que acompanhar o animal, se o cavalo tem a intenção de vira para dentro você se joga junto com o cavalo, é um conjunto, você tem que se programar antes da virada. “A posição ideal na hora de virar o tambor é manter o ombro levantado, fechado. Depois que o cavalo vira eu fico mais dobrado e ajudo cavalo a sair com facilidade, mexendo só a parte de cima do corpo, se eu mexer a perna aí eu atrapalho. E posso fazer isso nos treinamento só levando ele eu ajudo e não prejudico, se eu chegar e apertar ele usando a perna, se incomoda. O animal tem que fazer o trabalho sozinho, a gente só ajuda , não pode atrapalhar.”
Preparo para Prova:
Cada treinador tem um jeito de preparar seus animais antes da prova. Sidnei Junior prepara os seus atletas 15 dias da competição, e tem uma planilha de revezamento dos animais que vão a cada semana para competição.
Ele seleciona de acordo com a aptidão do animal e o tipo de pista da prova. E ressalta que cavalo não tem regra. “Hoje ele tem que trabalhar mais porque está um pouco teimoso, tem dia que não precisa muito, depende dele o treinamento que terá antes da competição. Se ele este com dificuldade no tambor vou trabalhar só no tambor, condicionando ele, se precisa acertar ele na entrada, trabalha nele nisso.”
O treinador ainda destaca que para ir para o tambor é preciso você ter domínio primeiro do cavalo. O cavalo precisa ter base, ele tem que ter começo, meio e fim. “Eu pego o cavalo do meio, ele para eu treinar com uma base, com boca, tem que parar, dar um rolback, com os fundamentos simples de rédeas.”
Quando as provas são em lugares mais longes, Sidnei chega dois dias antes na competição, para que um dia os animais descansem e no outro ele possa treinar em pista com eles.
Já quando a prova é perto, vão um dia antes ou até no mesmo dia, ainda mais quando já conhece a pista, como no Haras Raphaela, por exemplo.
Diferencial
O treinador possui 43 tempos na casa dos 16 segundos, em quatro diferentes pistas. Como ele avalia isso?
“Alguns cavalos são diferenciados conseguem independente do tipo de pista, outros não, você tem que qualificar o seu cavalo para aquela pista, por exemplo, um cavalo pequeno não vai dar marca numa pista pesada. Eu pergunto o tipo de pista das provas e levo animal para aquele tipo de pista, para assim obter resultados.”
Sidnei Junior monta há 12 anos e há três está profissionalmente nos Três Tambores. O Treinador tem como referência o pai, o seu ídolo e modelo de vida.
Questionado aonde ele ainda quer chegar, é modesto em responde: “não sei onde quero chegar, mas ser admirado pelas pessoas e respeitado no meio em que eu trabalho já é bom demais!”
O segredo do treinador para tantos resultados em pista não fica apenas nos treinamentos, mas também nos bastidores das competições.
“Hoje a minha concentração é muito grande, acho que a gente ganha no silêncio, por exemplo, vou à prova, não preciso anunciar para ninguém que cheguei. Procuro ficar no meu canto, me concentrar com meus animais. Os cavalos sabem que estão indo numa prova, eu quero melhor pra eles e eles querem o melhor para mim, expõe Sidnei.
A Revista Tambor & Baliza aproveitou e tiramos umas curiosidades, em um jogo rápido de pergunta e resposta:
Ídolo: meu pai Sidnei Pereira da Silva
Conjunto Perfeito: No começo Atari Keys HR, cinco provas e apenas um tempo de 17 segundos, hoje a Gleed Moon Cody OFV, em cinco meses competindo com ela, cinco tempos de 16 segundos e a Tres Uno Quatro!
Tipo de cavalo ideal: Eu gosto do cavalo bom, que tenha vontade de competir, que goste de fazer o serviço dele, independente se deu certo ou não
Alguma fórmula de treinamento: Não existe um trabalho fixo, cada animal me passa o que precisa, não pode ter uma regra, se não sua cabeça fecha.
Equipamento: Os equipamentos facilitam, eu prefiro fazer força no treinamento, e o cavalo deslizar em pista, então uso ferramentas leves.
Sela: gosto de sela leve, uso a de neopreme
Alguma preparação física: era para eu ter, mas não consigo, no máximo uns alongamentos, só consigo treinar e dormir
Sonho: ser campeão mundial, só de eu ir para lá correr já estaria feliz. Representei o Brasil no Mundial em 2009 e ganhei, mas a competição foi no Haras Raphaela. Quero ir para os EUA
Agradecimento: A Deus, minha família e aos que ajudaram e me ajudam nos bastidores.
Texto e Fotos: Verônica Formigoni