Dito Monzinho, Marcos e Gabriel Monzinho de Oliveira, da doma as pistas dos Três Tambores. Formando animais para Aberta, Jovens e Amadores!
Essa família venceu inúmeros obstáculos, cada um trilhou seu caminho, mas mesmo assim o trabalho de um é a continuidade do outro. Estamos falando de Benedito Aparecido de Oliveira – Seu Dito, e seus filhos Marcos Monzinho de Oliveira e Gabriel Monzinho de Oliveira. O cavalo sempre fez parte da vida de Seu Dito, chegou a se afastar do meio, mas após um tempo voltou e foi trabalhar no Quarto de Milha na modalidade Rédeas, onde está a base dos animais por ele domados nos Três Tambores.
“Eu já fazia a doma de campo e quando eu voltei para o meio do cavalo fui para Rédeas, competindo e treinamento. Após um tempo fui para os Três Tambores e comecei treinar cavalos de Tambor, e os meus filhos Marcos e Renata competiam. Com passar tempo o Marcos saiu foi seguir o caminho dele, casou e o Gabriel era criança ainda na época, mas depois ele começou a competir, pois com dois anos e meio eu já o amarrava na sela para passar nas Seis Balizas”, conta Dito.
O treinador sempre foi apaixonado pela doma de animais e se especializou na doma direcionada para os Três Tambores. Os filhos Marcos e Gabriel seguiram sua profissão, mas no treinamento, e também construíram suas histórias. Seu Dito fez mais de 15 cursos com profissionais internacionais. “Sempre tive o meu espaço para trabalhar os cavalos dos clientes, comecei um lugar pequeno e hoje tenho minha propriedade e o meu sonho está sendo realizado com meus filhos em pista ganhando e agora minha neta. É a continuidade do meu trabalho, sou muito realizado.”
O maior desafio segundo domador/treinador é conseguir preparar um animal e ele ser campeão. “Eu consegui obter esse êxito com o Marcos, e agora com o Gabriel. É um grande avanço na minha carreira do cavalo e isso motiva a continuar!”
Gabriel Mozinho Oliveira, o filho mais novo de Seu Dito, tem o pai como referência na vida e na profissão, com ele aprendeu todos os passos, e dá sequência ao trabalho dele nas pistas e trabalhando dia a dia com ele. “Conviver com ele, pegar o seu conhecimento aprendendo cada dia mais, para mim é uma honra, ele é meu ídolo! Eu me espelho nele em tudo e dou sequencia ao que ele faz no cavalo. Meus sonhos se realizam dia a dia com a minha família junto, e com meu irmão me vendo ganhar uma prova tão importante, como foi a do Slot,” expõe Gabriel.
Ele conta que nos treinos sigue muito o jeito de trabalho do pai e do irmão. “Exercito os cavalos no tambor a passo, trote e galope e vou aumentando a velocidade de acordo com a passada. Trabalho em média de 30 a 40 minutos cada animal, de acordo com a necessidade deles, corrijo o que tem ser corrigido, passo ele no tambor exercitando”, comenta Gabriel.
Já Marcos Aparecido Monzinho de Oliveira, conhecido por todos como Marcos Monzinho, tem uma longa história no meio do cavalo. O treinador hoje tem 2.688 pontos na ABQM, mais de 200 vitórias e é um dos renomados treinadores de Três Tambores hoje no Brasil. Casado com Denise é pai, Leticia, que já participa de provas de Três Tambores, e Victor. O dom com os cavalos é genético. Na época em que Monzinho andava ao lado do vô e do tio que tinha a mesma idade, e juntos montavam, já os Três Tambores veio quando ele tinha 16 anos.
“A história nos Três Tambores foi quando meu pai entrou no Quarto de Milha. A gente sempre brincava nos cinco tambores nos rodeios, não tinha cavalo bom, mas sempre brincava. Até que meu pai fez um curso com Hamilton Bezerra, e deu sequencia buscando informação e se especializando e eu sempre junto com ele. Começamos a treinar e correr Três Tambores e com 17 anos, comecei a correr nas Abertas junto com ele. Depois de um tempo fui trabalhar em outro lugar e me tornei profissional.”
Correu um tempo com cavalos Paint Horse, e nessa época em 2004, conheceu o casal Thomas e Roberta e foi convidado a trabalhar com eles, na FNSL. “Eles estavam em transição do Paint para o Quarto de Milhae começaram a investir, tinham a Indiana, Chimbica, a Fofinha San, Paloma, essas quatro éguas e depois de um ano comprou o Victory. Como as éguas estavam dando resultado ele foi em busca de um garanhão isso em 2006. Comprou ele em maio, a 1ª prova que corri foi o Campeonato Nacional em julho, e em setembro bati o recorde nacional em pista com ele, sendo segundo cavalo e primeiro garanhão a dar um 16segundos no Brasil”, lembra Monzinho.
Com Victory Fly ele teve seu grande momento de glória e ficou conhecido formando conjunto com garanhão, e hoje, seus filhos os fazem continuar brilhando nas pistas. “Ele me ensinou o que é um cavalo, depois que montei nele é que realmente aprendi a montar a cavalo. Ele mostrava o caminho mais fácil, correto, parece que ele falava comigo. O que marca em minha história com, em especial com ele é meu 1º 16s, no Grand Prix, ser campão Potro do Futuro, com a filha do Victory, a Fofinha Fly, tem um valor imenso. Ganhar o Potro Brasil em 1º, 2º e 3º com filhos dele com três únicos tempos na casa dos 16, e ainda o Slot da Marli, que é um grande evento, que está na ponta, essas conquistas estão na história, ” lembra o treinador.
Doma
Seu Dito tem todo um jeito especial de trabalhar os animais na hora de domar, e usa os conceitos básicos sempre primando pelo bem estar do animal.
“Para domar o potro trabalho ele no redondel, fico no meio e vou empurrando o animal a passo, trote, depois galope, de 5 a 10 minutos de cada lado. Depois coloco o cabo no burçal (cabresto) e começo a guiar ele bem perto de mim,” explica Seu Dito.
Ele ainda continua explicando os métodos de aproximação com o animal. “Trago pego o meio e a garupa dele empurrando e trazendo a paleta do animal bem pertinho de mim, para ele aprender a guiar. Tem potro que quer pular eu trago para perto, por isso a importância de trabalhar bem o animal no chão. Quando ele quer caminhar eu solto o cabo e ele pode caminhar, se ele quiser pular de novo eu trago de novo para perto de mim, ele fazendo o certo eu solto, agora se erra eu trago para perto, trazendo sempre a ponta do fucinho dele perto da paleta. Depois passo a corda por cima do pescoço e giro para direita e esquerda, o animal ficará com a distância de um braço de mim, com a paleta próxima,” expõe o domador.
O trabalho com o animal no redondel é realizado de 15 a 20 dias, em média 40 minutos por dia.
“Os equipamento que uso para trabalhar o potro, primeiro é com cabresto, depois o hackmore, que vai trabalhar a mandíbula do cavalo, e tem outro tipo de hackmore que trabalha o focinho do cavalo. Quando ele estiver bem guiado, vou agradando ele e monto, até ele estiver confiança em mim e selo-o. Após isso não está mais no redondel, então coloco o bridão,” detalha Seu Dito do trabalho realizado na doma.
Um dos grandes diferencias do Seu Dito, é que ele realiza a doma direcionada, ou seja, normalmente o treinador leva para o Tambor depois de 5 a 6 meses, já ele logo que tira no redondel e quando já está montando apresenta os tambores para o animal.
“Eu já faço junto, domo e vou passando no tambor, é uma doma direcionada, desde inicio já vou trilhando ele no caminho. Sempre deixo dois e três tambores em espaço curto um do outro e dou uma voltinha com potro e saio em linha reta, já para ele conhecer e tomar gosto. Tem treinador que leva para o tambor só depois de 5 ou 6 meses, eu assim que termino o trabalho de doma se estiver bem guiado já levo para Tambor,” comenta o domador.
Para ele o animal tem que ter uma boa base, ter ele nas mãos, e por isso coloca um pouco de rédeas nos seus cavalos de Tambor para ficar mais fácil os comandos de boca e para tocar.
Dito doma os potros que Marcos Monzinho irá treinar, ou de seus clientes, os quais aí quem irá treinar é Gabriel Monzinho.
Treinamento
Monzinho treina 1 hora por dia cada animal, e segundo ele monta por dia 10 cavalos, e tem uma boa equipe que o ajuda, sendo para ele essencial um trabalho bem tranquilo, sossegado para ter esse stress.
“Preocupo-me muito com o alinhamento do cavalo, e deixa-lo calmo, esses pontos são muito importantes para um jovem correr, facilita para o Aberta e quando cai na mão do Jovem é mais fácil ainda. Além de que tem que deixar o cavalo dócil, confiante, ele tem que ter confiança em quem o monta, treina, esses pontos foco muito também,” ressalta de cara em nosso entrevista Marcos Monzinho.
O treinador segue uma rotina de trabalho, com condicionamento dos animais, exercícios e correções quando necessário, e só passa com o cavalo no Tambor para ele relaxar.
“Monto no meu cavalo na pista, ando a passo, trote, dou um galopinho, e aí começo a fazer os exercícios. Levo no tambor para relaxar, tento fazer tudo fora do tambor, exercício, correção, ele vai brincar no tambor, tem que se sentir bem,” detalha Monzinho.
O treinador continua, “tem que trabalhar sem pressão, o exercício em si, não muda muito a cabeça o cavalo, mas a maneira com que você faz é que muda.Tem que trabalhar de modo suave, calmo, fazendo todos os exercícios, mas sem pressão, ele tem que gostar de estar ali, gostar de correr. Tem que mostrar para ele que é bom, não pode ser sacrificante. Está com dificuldade, eu detecto isso, tiro do tambor corrijo e quando ele estiver mais solto, confiante eu volto para o tambor.”
Exercícios
Marcos Monzinho expõe que usa vários exercícios no preparo de seus animais como: o círculo, o arco reverso e o ladeamento que para amolecer a costela.
Ele não usa nem um ponto de apoio para executar os exercícios, só usa o caso o pneu como ponto para ajudar o amador ou jovem quando preciso.
“Normalmente eu faço bastante o arco reverso, que é o que a gente usa bastante nas entradas do cavalo. No círculo trabalho o lado de dentro do cavalo, o arco reverso vai movimentar o lado contrario, ou seja, o lado de fora de animal, e no ladeamento vai amolecer a costela dele para as viradas,” explica Monzinho.
Ele ainda fala da importância desses exercícios e de como são feitos. “Os movimentos que faço é como se tivesse um tambor no meio e vou fazendo os exercícios, fecho o círculo como se estivesse virando perto do tambor, círculos maiores e menores, e costumo também treinar muito a parada do animal a cada exercício. Quero que o cavalo saiba reduzir sem que haja comando, porque a criança ela vai chegar com a mão no pito e ela só vai sentar na sela, e o cavalo tem que conduzir por conta, fazer o giro e sair reto.”
Monzinho diz que no caso de treinamento de potro passa correndo duas vezes na semana no Tambor, que é para ele saber que ali é para ele fazer força. Já o cavalo pronto, não passar nunca correndo em casa, só na prova.
O cavalo tem que trabalhar na prova, é fácil se o cavalo aceita o treinamento e é bem trabalhado. Tem cavalo que tem dificuldade e não aceita, e não quer fazer.
Parada
Outro exercício que o treinador trabalha bastante é a parada do cavalo. “Quando sento na sela o cavalo tem que parar, temos que usar sempre movimentos suaves, só com leve toque sem pressão, só com a ponta do dedo. O meu corpo dá pressão no cavalo para o que ele tem fazer, e temos sempre que exercitar as paradas, aqui a importância de um cavalo bem domado que fique na nossa mão,” elucida Monzinho.
Nos tambores
Neste ponto Monzinho dá dicas importantes do ponto de partida do partidor, das viradas e o caminho de um tambor a outro, explanando como ele faz em pista.
“O ponto do partidor é o meio entre o primeiro e o terceiro tambor, e toca nessa linha olhando para frente, sempre indo reto. Dou uma leve parada é onde vou entrar, e faço o cavalo enxergar o tambor e virar. O focinho dele passou um pouco o Tambor é onde eu vou virar. Tem que ter espaço para contornar o Tambor, estar alinhado e na minha mão, e quando vou sair sento na sela e fecho o círculo, em linha reta, e vou para o segundo. Da fotocélula ao primeiro tambor são 18 metros 30 cm, é a menor distância, só que eu saio a 40 metros lá de trás, então o tambor mais longo é o primeiro, por isso tenho que acertar o ponto de entrada. Acertou o primeiro, as chances são maiores de se fazer uma boa prova.” descreve o percurso do primeiro Tambor.
Segundo o treinador a entrada no Tambor o competidor sempre tem que estar equilibrado, bem alinhado, tem que reduzi reto, então gira mantendo as paletas do cavalo em pé. “Fazemos isso para ele não cair para dentro e nem sair para fora do tambor, tem que estar bem alinhando para não derrubar o tambor, ele estando bem equilibrado não dá aquela caída, contorna o tambor e sai.”
Monzinho prossegue no passo a passo dos tambores. “Do segundo para terceiro tambor, a paleta tem que estar levantada, cavalo curvado, não muito perto do Tambor, bem equilibrado, sem mexer na rédea, vou sair sentar na sela e soltar a rédea para ele ir. Entra com mão levantada, circulando o tambor, a hora que for sair eu vou baixar minha mão, ele cai essa mão para dentro e segue para o terceiro tambor. Se estiver bem equilibrado e com impulsão vou em linha reta para finalizar a prova e contornar o terceiro tambor que será o mesmo processo do segundo.”
Para o treinador o Tambor ganhador é o primeiro, porque ele tem vários ângulos de partir. “À distância depende dos vários pontos de entrada, se acertar a entrada do primeiro, o segundo e o terceiro é praticamente um ponto só.”
Prova
Os animais que vão para competição do treinador normalmente descansa um dia antes e quando voltam ficam dois dias sem serem montados depois voltam devagar no trote, galope, condiciona bem e após vai para a parte técnica e de correções.
“Há um revezamento dos animais em cada prova, ainda mais hoje em dia, que todo fim de semana tem. Antes tínhamos prova a cada mês então nos preparávamos para isso, não podia se perder nenhuma,” lembra Monzinho.
O treinador leva sempre em conta as condições dos animais, respeitando o tempo de cada um, os cavalos prontos na prova mostram todo seu potencial.
Já Gabriel Monzinho tem outro modo de trabalhar quando tem prova. “Quando vou para a prova sempre passo um dia antes da competição ele em pista, e nunca corrijo na prova o animal.”
Diferencial
Acredito que o grande diferencial para se obter resultados é ter uma boa equipe e sempre respeitar o animal.
“Tem que ter uma equipe boa, sem isso você não consegue nem ir bem e nem conquistar um 16. Tem que ter uma equipe que conheça seu cavalo, que trabalhe em conjunto, que vista a camisa, um veterinário bom que entenda o cavalo e o que a gente quer. Tem que respeitar o que o profissional fala e ter respeito também com o animal. Acho que isso facilita um pouquinho,” destaca Monzinho a importância de uma boa equipe.
Um exemplo deste trabalho são os animais montados pelo treinador que hoje não estão mais em pista. “Eu tenho cavalo para vários anos, não quero um animal de dois anos. Tenho para 14 a 16 anos. Eles param por opção e não por lesão e sempre pararam no auge.”
Uma opinião de Marcos Monzinho e compartilhada por muitos treinadores é que a culpa dos erros cometidos boa parte dos casos é por causa do competidor.“ Posso dizer que 90% dos erros cometidos é do competidor, porque puxa na hora errada, entra errado e 10% do cavalo. Um cavalo bom, vai muito bem na mão de uma criança, porque ela atrapalha pouco. A gente quer ajudar um pouco a mais é onde erra.”
Para finalizar Monzinho dá uma dica para se ter sucesso nas pistas. “Primeiro ter um cavalo bem treinado, segundo um competidor também bem treinado, sabendo o que tem que fazer, equilibrado na sela. Se o competidor tiver atrasado atrapalha o cavalo, o conjunto tem que estar em sintonia para obter resultados.”
Texto e Fotos: Verônica Formigoni