Jairo Queiroz fala sobre o fascínio pela pureza racial do cavalo Árabe

Médico e pecuarista, Jairo Queiroz se diz um aficionado por genética, tanto que foi por isso que, há 35 anos, iniciou a sua criação de cavalos Árabes como titular do Haras dos Faveiros, localizado em Três Lagoas/MS

O fascínio pela genética sempre esteve presente na vida de Jairo Queiroz Jorge. A princípio por ser filho de pecuarista, que nasceu em meio a criação de nelore puro, em Três Lagoas/MS. Depois, profissionalmente se mudou para São Paulo para trilhar os caminhos da medicina se formando, assim, como primeiro colocado na pós-graduação de cardiologia.

Mas, por conta de um acidente na família, precisou retornar até a sua cidade natal e assumir tudo o que seu pai havia construído. Contudo, paralelo a isso, ainda se manteve exercendo a medicina. E foi justamente nessa época que se deparou com mais uma nova paixão: o cavalo Árabe.

Sobretudo, não foi a beleza ímpar nem a funcionalidade do cavalo Árabe que chamaram a atenção do Dr. Jairo. Quando, em 1985, ele teve o seu primeiro contato com a raça -, a partir de um criatório vizinho da sua propriedade, do amigo Orestes Prata -. foi a pureza racial que o fez embarcar na jornada de criar essa raça milenar.

Portanto, de lá para cá já se passaram 35 anos de criação do Haras dos Faveiros. Neste tempo, Jairo Queiroz Jorge conquistou reconhecimento da sua criação em nível nacional e até internacional. Afinal, foi o responsável por criar Don El Chall, o cavalo responsável por mudar o tipo Árabe no país.

No entanto, a história de sua criação não se restringe a apenas esta conquista. Há, ainda, inúmeros títulos em pista e animais da marca JQ exportados para os mais variados países. Sendo assim, a fim de contar um pouco a história da criação de Jairo Queiroz a equipe de reportagem do portal Cavalus bateu um papo com o criador. Abaixo você acompanha esta entrevista na íntegra. Confira!

Jairo Queiroz Jorge e eguada Foto: Arquivo pessoal/Jairo Queiroz Jorge

Primeiro contato com o cavalo Árabe

“O primeiro contato que eu tive com o cavalo Árabe foi em 1985. Eu moro em Três Lagoas, sou médico e pecuarista, e visitando a fazenda ao lado, vizinha minha, do Orestinho, eu tive contato com os primeiros animais Árabes. Foi ele, aliás, que iniciou a criação aqui na nossa região.

Assim, me encantei pela beleza do cavalo, pela sua funcionalidade e, acima de tudo, pela sua genética. O que representa uma pureza racial, que já vem de séculos e séculos esse controle genealógico. E, como eu acredito muito em genética e na força da genética, na pureza da genética, eu me encantei pelo cavalo Árabe.

Depois, descobrindo também as outras qualidades que ele tinha. Como, por exemplo, a funcionalidade, o tipo atlético, um cavalo guerreiro, usado em batalhas, rústico, que se adapta as condições mais adversas. Estas foram algumas das razões que também me levaram a selecionar o cavalo Árabe.”

AF Donana – Foto: Arquivo pessoal/Jairo Queiroz Jorge

Início da criação

“Eu adquiri meu primeiro animal do Orestinho, uma égua que eu fiquei apaixonado. Depois começamos a visitar o Haras Fortaleza, do Dr. Aloysio Faria. Isso, aliás, sempre com Orestinho orientando, porque era ele quem mais conhecia o cavalo naquela época.

E o Dr. Aloysio, como sendo um dos pioneiros na importação, trouxe genéticas muito avançadas para o Brasil. Então, eu consegui, pela primeira vez, em 1986 comprar AF Donana. Era uma égua bonita, mediana, de uma beleza impar. E era o primeiro lote do leilão e eu me encantei.

E assim começou a minha paixão pela raça e eu comecei a me dedicar. Ela estava prenha do Sahibe, que pariu por aqui um macho, o Acrux. Depois, a AF Donana foi mandada para o Haras Esmeralda, onde o Romildo tinha trazido cavalos de origem russa, cavalos lindos, um deles o Prichal.

Então cobrimos a AF Donana com o Prichal e tivemos a graça de parir o Don El Chall, um dos cavalos mais lindos que eu criei e que foi um cavalo que teve um nível nacional e mundial.”

Don El Chall – Foto: Arquivo pessoal/Jairo Queiroz Jorge

Don El Chall e a evolução do plantel

“Sem dúvidas, Don El Chall é um cavalo que mudou muito o tipo Árabe, a beleza do cavalo no Brasil. E com isso nos encantamos. Consequentemente conseguimos várias premiações com o Don El Chall. Aí fomos comprando mais éguas de origem AF, e tivemos sucesso muito grande, uma delas foi a Elkada Sahibi, que nasceu aqui no meu haras.

Além deles, teve o Power World JQ, que foi um dos cavalos que teve mais filhos no Brasil e que mais influenciou também na nossa genética. Tanto que hoje ele tem filhos e netos campeões nacionais. Ele é filho da Noble Illusion JP com o World Series, que nos importamos dos Estados Unidos, um filho do Strike na Lovesong By Bask.

Aí fomos desenvolvendo, o Power nos trouxe muitos campeões nacionais, como o World Series também. E com isso conseguimos cada vez mais alimentar a vontade de fazer animais diferenciados na nossa seleção. Sempre buscando bastante tipo, beleza racial e funcionalidade.

E hoje nos temos um plantel bastante grande. Graças a ele, conseguimos conquistar inúmeros campeões nacionais. Além disso, por dois anos consecutivos fomos o melhor criador e expositor da raça Árabe na Exposição Nacional.”

Iran, filho de Jorge Queiroz, é árbitro internacional do cavalo Árabe – Foto: Arquivo pessoal/Jorge Queiroz Jorge

Família envolvida na criação

“Com isso, a família foi se envolvendo. [Jairo é pai de três filhos: Iran, Daniele e Gustavo]. O Iran foi o que mais se envolveu com cavalo. Desde pequeno, no início da criação. Ele treinou por muito tempo como apresentar cavalos, apresentou em alguns shows.

Ficou, inclusive, no Haras Capim Fino por um tempo se aperfeiçoando, aprendendo com o Zezé Rodriguez, como manusear, como treinar um cavalo Árabe. O Iran sempre foi o meu companheiro de perto. Um outro apaixonado pelo cavalo Árabe. E hoje também está se destacando como um dos bons juízes que vem julgando as principais exposições do Brasil, com muito sucesso, seriedade e muita competência.

O Iran muito me orgulha pela sua personalidade, pela sua honestidade, pelo seu proposito. Ele é uma pessoa incorruptível. Tem uma filosofia de vida muito correta. Ele exerce isso quando está julgamento e hoje a gente tem sentido isso. Todos os criadores tem respeitado e admirado o Iran. 

Jairo Queiroz Jorge e a neta Lisa – Foto: Arquivo pessoal/Jairo Queiroz Jorge

Paralelo a isso, a minha netinha, a Lisa, é outra apaixonada pelo cavalo Árabe. Conhece todos os funcionários e as éguas da fazenda. Ela é apaixonada pela Miucha El Shawan JQ, uma das grandes éguas que eu criei.

A Miucha é filha do Fa El Shawan numa égua Power World, que foi um dos grandes animais da criação brasileira. Um dos animais mais bonitos também e que foi bicampeão nacional e exportado para os Estados Unidos.
Além dela, a Lisa também gostava muito da Miss Al Power JQ, que foi a primeira grande linda égua que foi exportada para o Catar”.

Miucha El Shawan JQ – Foto: Arquivo pessoal/Jairo Queiroz Jorge

Equipe do haras

“Durante mais de 20 anos o Leopoldo Coutinho tem dado uma assistência maravilhosa para todos nós. Nos ajudado muito na criação e seleção do cavalo Árabe. É uma pessoa muito importante para nós, que tem estado do nosso lado colaborando muito. Além de ser um profundo conhecedor, técnico, é também um amigo que temos muito carinho por ele.

Além dele, trabalhamos aqui em três funcionários espetaculares, o Zé Paulo, Eládio e o Mauro. O Zé Paulo chegou em casa com 15 anos e foi educado como filho. Veio para a fazenda trabalhar por ter feito curso, estudado. Então, quando comprei a minha primeira égua puro sangue, o Zé Paulo começou a cuidar dos animais Árabes.

Ele é muito competente, tem profundo conhecimento da criação. E como não temos veterinário responsável, hoje somos ele e eu que resolvemos todos os problemas recorrentes de qualquer anormalidade com os animais daqui da fazenda.”

Leopoldo Coutinho com um potrinho no Haras dos Faveiros – Arquivo pessoal/Jairo Queiroz Jorge

Manejo e estrutura 

“A maioria dos meus animais é a pasto. Nos plantamos capim, plantamos coast-cross e outros capins que têm se adaptado bem em nossa região. Tem nos servido com grande sucesso na alimentação dos cavalos árabe.

Portanto, hoje além do tifton, que é muito complicado, tenho outros capins pesquisados pela Embrapa. Todos tem sido muito bom na alimentação dos cavalos.

Miss Al Power JQ – Foto: Arquivo pessoal/jairo Queiroz

Só vão para a cocheira os animais de exposição e os garanhões. Mas eles são bem manejados, são soltos todos os dias. E outra grande características que eu já sabia sobre o cavalo árabe, além da funcionalidade, docilidade e inteligencia, é a sua resistência.

Tanto que isso temos comprovado em minhas fazendas. Hoje 90% da tropa de serviço são de cavalos árabes, tanto machos quanto fêmeas, e tem sido de um resultado fantástico.

Eles gostam de lidar com gado, aprendem rapidamente e são altamente resistente. Assim, hoje nas fazendas é capim e sal, só. Não tem ração nenhuma, estão muito bonitos e muito bem adaptados.”

Sala de troféus do Haras dos Faveiros – Foto: Arquivo Pessoal/Jairo Queiroz Jorge

Filosofia da criação

“Nossa filosofia, além do amor pelo cavalo Árabe, que tem uma força enorme, ele consegue reunir a família. Durante  muitos anos a nossa família ficou reunida em torno da nossa criação. 

É realmente um cavalo apaixonante, que conhece o dono, ele deixa um ar de prazer, de alegria e felicidade na minha propriedade. Além do cavalo Árabe eu crio o gado nelore puro e nelore puro de origem indiana, na Fazenda das Acácias.

Sempre gostei muito de genética e acho genética fundamental em toda seleção. Como nos já temos observado, a força genética pura só melhora com o tempo e os cavalos vão evoluindo cada vez mais, ficando mais bonitos, forte e resistentes.”

Jairo Queiroz com o Power World JQ – Foto: Arquivo pessoal/Jairo Queiroz Jorge

Futuro da criação

“Sempre procurando um animal completo, sabemos que a genética é muito complexa, temos 32 cromossomos e 100 mil genes. Então, a probabilidade de nascimento dos acasalamentos é relativa, nem sempre um campeão nacional com uma campeã nacional produz um campeão nacional.

Existe uma probabilidade e essa é a razão que a gente se envolve muito com cavalo e com a genética bovina. Sempre é uma surpresa, por mais que você tente selecionar, sempre você vai ter uma surpresa. Nem sempre os irmãos são iguais.

Por isso que quando nasce um animal que preencha todas as características que todos querem, ele atinge valores muito alto. Mas, enquanto isso, continuamos firme na criação. Embora distantes do centro porque Três Lagoas está em torno de 700 km da capital paulista e a gente receba visitas raramente, mesmo assim não nos desanima.

Eu acho que fazemos um trabalho muito sério, muito consistente, geneticamente falando, e hoje temos uma seleção de éguas maravilhosas, que eu acho que entraria em qualquer criatório.

São 35 anos de criação do Haras dos Faveiros, continuamos muito animados, temos muitas coisas boas aqui, muita égua, muita potranca e hoje o nosso novo garanhão, o Kaburr El Karim JQ – que é filho do Karim El Power JQ e neto do Power World JQ -, tem feito um trabalho que tem nos deixado muito contentes”.

Kaburr El Karim JQ – Foto: Arquivo pessoal/Jairo Queiroz Jorge

Por Natália de Oliveira
Crédito das fotos: Arquivo pessoal/Jairo Queiroz Jorge

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