Primeiro brasileiro a ganhar uma competição de cavalos Árabes nos Estados Unidos, Zezé Rodrigues compartilha um pouco da sua história de vida, de filho de pecuarista até um dos mais renomados treinadores de cavalos do país e do mundo
Quem já viu Zezé Rodrigues brilhando nas principais pistas do cavalo Árabe do país e do mundo nem imagina toda a história que tem por trás. Nascido em Dourados/SP, o treinador teve o seu primeiro contato com o mundo dos cavalos através do pai, que era pecuarista.
Sendo assim, Zezé Rodrigues acabou sendo criado na lida, depois chegou a montar em circo de tourada e até montou uma tropa de rodeios. Inevitavelmente, foi destaque na capital do esporte no país, Barretos, como o melhor tropeiro por cinco anos.
Contudo, sua vida foi mudar completamente quando conheceu o cavalo Árabe através da Fazenda Morro Vermelho, localizada em Jaú/SP. A partir daí, nunca mais abandonou a raça e veio a se tornar o primeiro brasileiro a conquistar um título nos Estados Unidos em provas do cavalo Árabe.
Dessa forma, Zezé Rodrigues ganhou destaque internacionalmente e, hoje em dia, é admirado e conhecido no mundo todo. São tantos anos de histórias, que o portal Cavalus resolveu bater uma papo com ele para saber tudo. Abaixo, você confere a entrevista na íntegra.
Como tudo começou?
“A minha vida com cavalo começou desde quando eu me conheço por gente, praticamente. Afinal, meu pai foi pecuarista e nos criou na lida. Inevitavelmente, a lida com cavalo era sempre a mais usada, porque a gente precisava do cavalo para mexer com boi.
Daí eu puxava boi na estrada, tive circo de tourada, tropa de rodeio e assim por diante. Me criei na lida, aprendi a montar com cinco anos de idade. Muita gente me vê apresentando cavalo e não sabe que eu fui um cara da lida. Já dormi embaixo de bacheiro, na estrada. Foi uma vida de peão de estrada, peão da luta, de peão do lombo de cavalo.
E a minha vida continuou, eu sempre gostando de rodeio. Daí peguei e formei uma tropa de rodeio, tive 200 cavalos de rodeio. Consequentemente, fui por cinco anos o melhor tropeiro de Barretos. Fui, ainda, o único tropeiro que durante uma final de Barretos colocou oito cavalos para pular.
Até isso aí vai muito do conhecimento que a gente tem, e tudo isso foi muito importante. Porque independente da raça, eu mexo com vários tipos de cavalos.”
Início no cavalo Árabe
“Na vida da gente ocorrem vários precalços, não é mesmo. Por isso, durante um período cheguei até ser instrutor de auto escola. Mas daí um dia eu soube que na Fazenda Morro Vermelho, do Sebastião Ferraz de Camargo Penteado estava precisando de um cavalariço.
Imediatamente, eu parti para lá e, com a graça de Deus, deu certo. Daí foi aí que tive o meu primeiro contato com o cavalo Árabe. Trabalhei por muito tempo lá, o Sebastião foi um professor para mim, uma pessoa maravilhosa.
Depois tive um outro trabalho com um haras que não tinha uma criação muito expressiva de cavalo Árabe. Para, na sequência, conhecer o maravilhoso o Paulo Roberto Levy, mais conhecido como Polé Levy, proprietário do Haras Capim Fino, de Jaguariúna/SP.
Por lá, eu fiquei por 23 anos. Isso foi em 1982, se não me engano. Sendo assim, trabalhando com ele fomos, durante 18 anos, melhor criador e expositor da raça. Isso aí me deu muita força, muito nome, foi uma experiência maravilhosa. A gente não era empregado e patrão, nós eramos como dois irmãos.
O Polé sempre me deu muita força, tanto na apresentação de Halter quanto montado. Eu aprendi muito com todos os americanos que passaram pelo Haras Capim Fino. Eu tirava um pouco de aprendizado com cada um, juízes e apresentadores, tanto na parte da Performance quanto no Halter.”
Títulos conquistados
“Eu considero todos os títulos meus, independente da exposição. Mas, sobretudo, entre Perfomance e Halter eu tenho mais de 100 campeões nacionais.
Todos eles me dão uma satisfação enorme. Eu nunca quis passar por cima de ninguém. Eu só acho que faço um trabalho bem feito, faço o melhor possível, procuro deixar os animais sempre em ordem.
Além disso, conheço muito de aprumo de cavalo, uma coisa que é importante para o treinador ter esse conhecimento. De movimentação, de como fazer o cavalo dar entrada na pista. Na minha opinião, o treinador tem obrigação de saber disso”.
Primeiro brasileiro campeão nos Estados Unidos
“Depois de ganhar muitos prêmios no Brasil, eu treinei um cavalo chamado Munir HCF. Esse cavalo foi maravilhoso, tanto que a gente chegou a ganhar tudo por aqui [no Brasil].
Contudo, o Polé veio para mim e perguntou se ele ganharia uma prova nos Estados Unidos e eu disse que o Munir ganharia em qualquer lugar. Ai botamos esse cavalo no avião em Viracopos e fomos para Scottsdale. Eu, o Munir e o Rinaldo, um companheiro sensacional.
Foi, sem dúvidas, uma viagem maravilhosa. Tanto que fomos para lá e demos um show. De 274 concorrentes, em várias classes, eu consegui ficar como o Reservado Campeão da categoria Open e me tornei, assim, o primeiro brasileiro a ser campeão nos Estados Unidos.
Depois disso, eu viajei por muitos países e sempre com muito sucesso, graças a Deus: Chile, Uruguai, Argentina, Estados Unidos, etc. Eu sou conhecido no mercado e bem querido também”.
O que te atrai no cavalo Árabe?
“Já mexi com várias raças de cavalos, mas o cavalo Árabe é diferente. O cavalo Árabe é apaixonante. Você cria aquele carinho por ele, eu admiro a inteligente dele, é um cavalo diferente de todos.
Há 30 metros de distância você sabe que é um cavalo Árabe. O carregamento de calda, cabeça, como ele olha é diferente. É um cavalo maravilhoso para mim. Eu treino outras raças, gosto de cada uma delas também, mas, para mim, o cavalo Árabe é especial.”
Centro de treinamento Zezé Rodrigues
“Eu trabalhei em dois haras, no Sebastião e do Polé. Depois eu comprei a minha fazenda, no bairro Muniz, em Artur Nogueira. E tenho os meus negócios aqui.
Eu faço questão de todos os dias passar de cocheira por cocheira, quero ver meus animais, se a pelagem está em ordem, se não tem problema de alergia, se o casco está comprido. Eu tenho uma equipe muito boa e administrada, que eles pegam o serviço para fazer direito. A situação está difícil atualmente, mas o meu centro de treinamento está lotado, graças a Deus.
Uma coisa importante que eu quero deixar para os futuros treinadores é que eles tenham garra e amor pela profissão. O cavalo é, sem dúvida, o melhor amigo do homem para mim”.
Para o futuro…
“O que eu gostaria para o futuro é que fosse mais valorizado o cavalo montado. No Halter, se nasce na fazenda 10 potros, deste total três ou dois vão servir para Halter. Enquanto que os outros não são utilizados para montaria, acabam puxando carroça, descartador.
Acima de tudo, o que eu peço para atual diretoria da associação é que valorizem mais a Performance. Afinal, nos Estados Unidos o que toca o mercado são as provas montadas”.
Por Natália de Oliveira
Crédito das fotos: Arquivo pessoal/Zezé Rodrigues