Prova da ABCCC incentiva aproximação de portadores de necessidades especiais com o cavalo Crioulo
A emoção entrou em pista no sábado, 28 de setembro, no Parque de Exposições Assis Brasil. Em Esteio/RS, pela primeira vez, o Inclusão de Ouro, modalidade promovida pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos para portadores de necessidades especiais, teve sua final, um ano após a criação da prova.
Os nove ginetes, entre 18 e 69 anos, com as mais diversas necessidades, desenvolveram os movimentos de Andadura (tranco, trote e galope) e Escaramuça Livre (movimentos livres) durante a prova, dividida nas categorias Força A e Força B. No final o título da Força A ficou com Ítano Figueiredo, montando Nicoli do Purunã, 28,900 pontos de média; enquanto na Força B a vitória foi de Josilene Martins, com Caduco Cala Bassa, 23,000 pontos.
Figueiredo, que foi quem fez a apresentação na pista de Esteio há um ano, salientou que a maior conquista foi o reconhecimento da prova na comunidade crioulista e o apoio cada vez maior que os competidores vêm recebendo. “O que importa é ter incentivado as pessoas para estarmos aqui, ter estas pessoas incentivando e correndo foi o maior prêmio de todos. Este primeiro lugar é de todos”.
O militar reformado de 28 anos realizou, na ocasião, uma apresentação de tirar o fôlego dos presentes. Sem possuir nenhuma movimentação nas pernas e mostrando que para montar não há limitações, o ginete abriu portas: deu visibilidade à causa e encorajou aqueles que sempre tiveram vontade de participar de alguma seleção da raça.
Para Josilene, que também foi a criadora da prova e é a coordenadora da subcomissão da modalidade na ABCCC, o resultado final entre os ginetes foi o que menos importou neste dia. “A minha realização maior é que há um ano viemos sozinhos aqui com o Ítano em pista para conseguir uma apresentação e hoje voltamos com nove pessoas com uma modalidade, uma prova linda e uma arquibancada cheia e isso não tem o que pague”.
A importância da representação foi bem recebida pela prefeitura de Tavares/RS, onde mora Gabriel Alfaro, segundo lugar da Força A, com 23,450 pontos. Para se ter ideia, o município disponibilizou um automóvel para transportar o ginete até Esteio, evidenciando que a inclusão é pauta de interesse público e corresponde aos anseios dessa comunidade.
Diversos competidores são praticantes da equoterapia. A profissional da área e psicóloga Claudia Rocha conta que o convívio com os cavalos tem possibilitado aos pacientes diversos benefícios. Entre eles, autonomia, autoestima, responsabilidade, noção de tempo e compromisso, são alguns dos feedbacks levados às sessões pelas famílias.
Matheus Barreto, segundo lugar na Força B, com 18,450, é um dos praticantes da terapia com equinos utilizada como tratamento. Porém, seu contato com o cavalo Crioulo se dava somente nas sessões, já que não possuía nenhum animal para treino diário. A surpresa veio na premiação, quando ele ganhou um cavalo da Cabanha Mapocho.
O Inclusão de Ouro foi oficializado em outubro de 2018 e teve sua primeira prova realizada em novembro do mesmo ano. A grande final contou com o julgamento de Fernando Gonzales e José Francisco Moura. “O que eu presenciei aqui hoje é louvável. Estas pessoas, a superação delas, a gente se arrepia. Esta superação é indescritível”, destaca Moura.
Para a raça Crioula todo fim de ciclo reflete o quanto o ano foi importante para as modalidades. Mas ciclos que conhecem seu fim pela primeira vez causam sensação ainda maior de dever cumprido. Esse é um dos balanços que faz a ABCCC.
Lição de vida
Dona Eva, 69 anos, perdeu a visão há mais de duas décadas. Adora costurar e tricotar, mas agora costuma sair de casa para ser ginete. Ela é mãe do treinador e apresentador de cavalos de Rédeas Antonio Corrêa. Em julho desse ano, Eva de Lourdes participou da última etapa classificatória e, como todos os concorrentes, ganhou vaga na final. Arranca aplausos do público quando entra em pista guiada pelo filho.
Ele, inclusive, conta que após a perda do pai intuiu que a mãe precisava ocupar a mente para não sentir tanto a ausência daquele, que era ‘seus olhos’. A senhora trabalhava no campo auxiliando o marido com a lida, enquanto ainda enxergava. Quando perdeu a visão, mudou-se para a cidade e deixou o cavalo de lado.
“Já sabia que ela podia montar. Só precisei adaptar para que conseguisse coordená-lo e passei a guiá-la com comandos de ‘direita, esquerda, frente, para’. Começamos devagar e hoje ela tem um domínio muito bom”, conta Antonio, Alemão, como é conhecido. Dona Eva ficou em terceiro lugar na Força B e deu orgulho a todos do centro de treinamento, especialmente para o filho.
“Somos muito gratos por estarmos presentes nesse lindo e maravilhoso evento. Parabenizamos a todos os competidores, que nos inspiram a lutar pelos nossos sonhos. Parabéns também a todos os organizadores por oportunizar momentos fantásticos como o de hoje! Felicidade em ver a raça Crioula se comprovando extremamente dócil!” Para ver mais conteúdo como esse clique aqui.
Colaboração: Assessoria de Imprensa, ABCCC e Canal Rural
Fotos: Leandro Vieira e Maurício Vinhas