A importância do acompanhamento odontológico nos equinos

As causas das doenças dentárias e como podemos preveni-las!

Hoje em dia esta muito comum você ouvir em uma prova ou durante um treinamento quando um animal nega um lado, que ‘este cavalo deve estar com ponta nos dentes’, e até ‘este cavalo deve ter dente de ‘lobo’’.  Dependendo da idade do animal são várias as alterações dentarias encontradas e o quanto antes diagnosticadas melhor será a performance deste.

A odontologia equina é uma área relativamente nova como especialidade veterinária, no entanto, proprietários, treinadores e veterinários estão cada vez mais valorizando o exame e o tratamento dentário, incluindo-os na sua rotina para que consiga mais qualidade de vida, condição física e desempenho atlético do animal.

Devemos começar a observar a boca dos animais logo que o potro nasce, dando atenção às erupções dos dentes decíduos ‘de leite’, e possíveis deformidades, podendo ser de origens congênitas como o prognatismo, braquignatism, fenda palatina, lábios leporinos, wry nose ‘nariz torto’, que muitas vezes podem ser incompatíveis com a vida do animal.

O braquignatismo tem por definição o encurtamento anormal da mandíbula em relação à pré-maxila, onde os incisivos centrais não estão em oclusão, ou seja, os dentes incisivos superiores encontram-se ‘para frente’ dos dentes incisivos inferiores. No caso do prognatismo acontece o inverso.

Conforme as erupções dos dentes incisivos decíduos ‘de leite’, que acontecem nos potros nas primeiras semanas de vida, podem ferir a teta da égua causando dor e, por esse motivo, ela não deixa o potro mamar prejudicando sua nutrição durante o aleitamento. Após o período da amamentação é indicado exames profiláticos a cada seis meses, porém, qualquer distúrbio alimentar ou nutricional neste período é recomendado fazer um novo exame odontológico.

Os cavalos são animais que viviam livres na natureza e se alimentavam de diversos tipos de forragens o que causava um desgaste mais homogêneo dos dentes. Após a sua domesticação começaram a receber uma alimentação menos abrasiva.

Hoje em dia as rações comerciais e o feno dado em sacolas ou manjedoura não obrigam o animal a fazer esforço na apreensão e mastigação do alimento o que faz que o desgaste dentário seja menor, contribuindo para possibilidade de alguns problemas dentários.

Problemas de oclusão (contato dos dentes superiores com os inferiores) são comuns encontrar na cavidade bucal de potros. Alguns animais nascem normais, apresentando uma desordem após algumas semanas ou alguns meses de vida.
O cavalo possui dois grupos dentários: os dentes decíduos (dentes de leite) e os permanentes. Um cavalo adulto pode ter de 36 a 42 dentes, e os dentes dividem-se (de frente para trás) em incisivos, caninos (nos machos), prémolares e molares.

Os incisivos são 12 (seis no maxilar superior e seis no maxilar inferior), os caninos são quatro (no mesmo esquema que os incisivos), 12 prémolares (6 + 6) e 12 molares (6 + 6). No caso dos potros, antes de mudar a dentição, tem 24 dentes caducos, são os 12 incisivos e os 12 molares.

O modo como o cavalo desenvolve a mastigação, pode promover principalmente nos dentes mais envolvidos na trituração dos alimentos (molares e pré-molares) um desgaste e causar pontas, ganchos e rampas. Estas pontas podem provocar ferimentos na língua e bochechas que causam desconforto e dor, e o animal pode deixar de se alimentar e também desempenhar seu papel como animal atleta brigando com a embocadura.

A perda de alimentos pela boca durante a mastigação; dificuldade de apreensão e mastigação ou salivação excessiva; aumento do tamanho e/ou quantidade de partículas não digeridas nas fezes; perda de condição corporal; dificuldade de engordar; resistência em executar alguns movimentos; incomodo com a embocadura e mascar o freio; movimentar muito a cabeça após alguns comandos com as rédeas; perda de desempenho, relutância em esbarros , spins , roll-backs , recuos , odor desagradável proveniente da boca ou narinas, edema de face, mandíbula ou tecidos da cavidade bucal, podem ser sinais de problemas dentários.

Antes de iniciar a doma é indispensável um bom e detalhado exame odontológico, pois nessa fase da vida estão ocorrendo importantes mudanças na boca do potro. É importante verificar a existência dos dentes de lobo e, se existirem, já devem ser extraídos antes da introdução da embocadura para evitar o incomodo devido ao choque com a mesma durante o inicio da doma.

O dente de lobo é um dente vestigial presente em muitos cavalos, nasce em média aos cinco meses de vida do potro, considerado tecnicamente o primeiro pré-molar não tem função na mastigação, mas pode ferir as bochechas e língua, podendo ser extremamente  desconfortável. Muitos problemas comportamentais e de temperamento em potros eram causados pela dor dos ferimentos na boca ou pelo choque da embocadura com o dente de lobo.

Os problemas mais encontrados nos exames orais são: excesso de pontas de esmalte que pode machucar as bochechas e a língua, causando dificuldade mastigatória e desconforto; má-oclusão que pode machucar as partes moles da boca, problema na articulação têmporo-mandibular, propiciar estresse dental que leva a fraturas e desconforto do animal durante a mastigação e durante o trabalho; retenção de capas dentárias que podem causar distúrbios na erupção dos dentes permanentes, e dor; fraturas dentárias que podem ser bem pequenas ou podem atingir quase toda a coroa clínica (parte da coroa do dente que se encontra na cavidade oral); fraturas com fragmentos deslocados que podem causar dor nas bochechas e na língua, promover exposição e eventual contaminação da polpa dentária, fistula dentaria e formação de abscesso.

É muito importante saber em quais idades ocorrem às erupções e as trocas dos dentes decíduos por dentes permanentes nos cavalos. Nos casos em que esses dentes não são trocados no tempo certo, eles podem causar grandes problemas na oclusão dos incisivos e dos molares (os dentes permanentes podem ficar desalinhados e a mordedura pode ficar torta ) esses problemas podem persistir para o resto da vida do animal causando dificuldade na mastigação.

As principais mudanças na boca dos equinos acontecem do nascimento até em média os cinco anos. Dos dois anos e cinco meses até os cinco anos de idade , todos os dentes decíduos devem ter sido trocados por permanentes, e esse é um período de grande modificação na dentição  dos cavalos, sendo que os últimos acontecimentos importantes são aos quatro anos de idade, quando nasce o último molar, aos quatro anos e cinco meses a troca dos terceiros incisivos e, em média, aos cinco anos, quando nascem os caninos presentes nos machos e em poucas fêmeas.

Deve ser observados as trocas dos segundos, terceiros e quartos pré -molares de leites por permanentes, que ocorrem nas idades: Segundo pré-molar (2 anos e 7meses); Terceiro pré-molar (3 anos);  Quarto pré molar (3 anos 8 meses);

Sem esquecer dos incisivos trocando aos: Primeiro incisivo (2anos e 5 meses); Segundo incisivo (3anos e 5meses);  Terceiro incisivo(4 anos e 5 meses).

Dos dois anos e sete meses até Três anos e oito meses é justamente a idade que os potros vão para serem domados, sendo assim um pré- molar decíduo pode ficar parcialmente preso na gengiva, causando um desconforto enorme na boca desse animal, principalmente quando acontecer o contato com a embocadura. Se isso acontecer, o potro pode se tornar agressivo e desobediente e o domador pode achar que o potro tem problemas de má índole, e na verdade são problemas odontológicos.

Durante toda essa fase de troca dos decíduos os exames também devem ser semestrais, pois as quedas dos dentes de leites, no geral, devem ser sincronizadas. Por exemplo, se cair um primeiro incisivo, é preciso retirar os outros três primeiros incisivos; se cair o segundo pré-molar, é preciso extrair os outros dois segundos pré-molares, e assim por diante. Essa  sincronização deve realizada por médicos veterinários com experiência em odontologia equina, o que previne que os animais venham a desenvolver sérios problemas de oclusão dos dentes no futuro, ou carreguem por toda vida traumas fixados durante a doma e inicio dos treinamentos.

Bit Seat

O Bit Seat é o desgaste que fazemos nos segundos pré-molares superiores e inferiores 106, 206, 306 e 406 a partir da gengiva para a superfície da mesa dentária. Seria um arredondamento destes pré-molares o que vai propiciar um alívio e conforto dos dentes pré-molares no contato com o metal do freio ou bridão, evitando assim, possíveis traumas dentários e dor na boca do cavalo. Muitos cavalos desenvolvem o hábito de mascar a embocadura e este movimento pode fraturar os pré- molares pelo excesso de ponta de esmalte dentário, por essa razão, é que fazemos este arredondamento, o que também vai melhorar o desempenho na hora da equitação.

Por Dr. João Carlos Noronha Jr e Dra. Carla Omura

Dr. João Carlos Noronha Jr – Médico Veterinário e Farmacêutico – www.dentistadecavalo.com.br / www.veterinario10.com

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