Fique por dentro do assunto e saiba todas as nuances desse tratamento
Alguém já lhe perguntou sobre suas articulações? Como está o seu ombro, como está o seu joelho? Imaginei que sim, sabe por quê? Porque em alguns momentos nós as deixamos serem castigadas em excesso.
Imagine seu cavalo, que não pode se poupar ou reclamar do trabalho extenuante e do piso irregular que irá prejudicar suas articulações. O grande problema é que pouca gente está atenta ao cuidado com a cartilagem do animal, colocando pressão demais sobre ela, sem que esteja preparada para tanto.
Basicamente, quando não aquecemos adequadamente o cavalo ou quando colocamos sobrecarga mecânica por períodos prolongados, a articulação do animal sofre danos. Suplementos como Condroitina e Glicosamina são os mais comuns e acessíveis protetores das cartilagens. No entanto, eles demoram de dois a três meses para surtirem efeito.
De uso injetável, temos hoje produzido no Brasil um produto que tem trazido ótimos resultados. Trata-se do Tiludronato, cujo uso tem sido indicado por muitos veterinários, uma vez que os resultados são surpreendentes, apesar do custo elevado.
Já a infiltração intra-articular de visco suplementadores, o que chamamos de viscossuplementação, é algo mais aceito como efetivo. Neste caso, o efeito analgésico pode ser sentido de imediato.
Usado desde a metade do século passado, o antiinflamatório esteróide intra articular ou intra lesional, popularmente conhecido como infiltração, é um dos procedimentos mais conhecidos da Ortopedia, mas que ainda deixa muitas dúvidas para o uso em cavalos. Devido ao grande efeito antiinflamatório, os esteroides são usados em grande número de patologias ortopédicas.
Segundo pesquisas recentes, em humanos, as infiltrações são realizadas por 12% dos membros da Sociedade Britânica de Reumatologia e 90% dos ortopedistas da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos. Assim como os médicos humanos, a linha norte-americana de veterinários de equinos faz uso de infiltrações intra articulares mais que em qualquer outro lugar do mundo.
É sabido que muitos profissionais brasileiros têm insegurança quanto à eficácia, aos efeitos colaterais e às medicações a serem utilizadas. Portanto, devemos considerar os seguintes fatores ao recorrermos a uma infiltração:
– A habilidade técnica do profissional é um ponto importante a ser considerado. Não há espaço para aventureiros, uma vez que há risco de lesão com infiltrações em locais incorretos e, principalmente, risco de infecção, quando se acomete a articulação, ocorrência que acaba por levar o paciente à mesa de cirurgia;
– Qualidade do produto a ser utilizado, lembrando que não vale à pena economizar neste item;
– Avaliar se há a necessidade real da infiltração;
– Examinar o animal para que possamos localizar realmente a articulação afetada, verificando se a mesma está relacionada a uma articulação ou a tecidos adjacentes;
– Assepsia e antisepsia do local a ser infiltrado;
– Manter o animal em estação, se necessário sedá-lo.
Benefícios e riscos da infiltração
Antigamente, usavam-se agulhas maiores e o medicamento era aplicado fazendo um leque no tecido. Hoje em dia é feita a aplicação apenas no ponto inflamado definido previamente no exame físico, radiológico e ultrassonográfico do paciente, o que garante maior segurança.
Lembro ainda que a infiltração de anestésico local também pode ser usada como procedimento de diagnóstico, ajudando o veterinário a identificar onde está a fonte de dor, nos casos em que exista dúvida.
Uma recente pesquisa científica publicada pela Revista Brasileira de Ortopedia avaliou os riscos da infiltração. Os resultados foram esclarecedores. Além de mostrar que o procedimento é seguro, revelou como evitar efeitos colaterais.
Devo enfatizar que a infiltração é contraindicada em caso de suspeita de infecção, doença degenerativa articular avançada, entre outras, pois a mesma pode causar artrite séptica e fístula sinovial.
A infiltração usada concomitante com o reforço muscular, tendo apoio de um bom fisioterapeuta, gera muitos benefícios para o tratamento de diversas doenças ortopédicas.
Infiltrações com Cortisona
Não adianta acabar somente com a dor com infiltrações de Cortisona, como se fazia no passado. A Cortisona diminui a dor, desinflama, ou seja, transforma um problema clínico num problema subclínico, sem sintomas.
Quase invariavelmente, porém, depois de um tempo, ele volta, mais complicado e difícil. Portanto, a utilização de Ácido Hialurônico, associado ao corticóide é extremamente recomendada. Alguns veterinários, principalmente no exterior, utilizam ainda soluções antibióticas nesta associação, como Amicacina.
O uso contínuo de corticóides intra articulares causa degeneração da cápsula articular e provavelmente causará problemas futuros ao animal. Assim, devemos considerar a infiltração como um tratamento de patologia e não como algo preventivo ou que deva ser feito com frequência em um mesmo animal.
Estudos experimentais com ratos mostraram que infiltrações repetidas de Acetato de Metilprednisolona produzem diminuição da resistência tecidual relacionada à necrose focal e tendem a provocar alterações irreversíveis na cartilagem articular.
Existem formas solúveis, de ação mais curta, que teriam indicação para processos agudos; formas insolúveis, de ação prolongada, para processos de longa duração e formas mistas.
Conclusão
As infiltrações são procedimentos terapêuticos utilizados na prática ortopédica para tratamento de diversas patologias do sistema músculo-esquelético. Talvez seu uso indiscriminado, no passado, tenha gerado um efeito oposto, ou seja, uma quase proibição entre os proprietários de cavalos e um receio excessivo por parte dos veterinários.
Creio que, antes de utilizar esse método de tratamento, é necessário um diagnóstico preciso, a fim de minimizar riscos. São contra-indicações absolutas para seu uso: suspeita de infecção, bacteremia, presença de prótese articular, lesão ou fratura recente, ulceração ou celulite periarticular, osteomielite adjacente, instabilidade articular, osteoartrite, entre outras.
Recomendo repouso relativo (diminuição da atividade) por 48 horas para evitar o agravamento da dor e liberação do corticóide da área.
Por Dr. Hélio Itapema