Um erro comum na análise de um cavalo é pensar nele somente estático, parado, portanto é indispensável analisar o cavalo em movimento.
EXISTEM DUAS FORMAS de equilíbrio do casco do cavalo, e devemos levar ambas em consideração: o equilíbrio anterior-posterior (o casco visto de lado) e o medial- lateral (o casco visto de frente para trás, ou vice-versa).
Equilíbrio anterior-posterior
Analisando o equilíbrio anterior / posterior, basicamente temos de deixar a pinça do casco no mesmo ângulo na quartela, que em um cavalo normal seria o mesmo ângulo da espádua. Com isto, teremos um alinhamento perfeito das falanges e, portanto, o máximo de eficiência e movimento do membro. Também teremos o mínimo de stress e tensão sobre os ligamentos e tendões.
O que acontece quando há desequilíbrio?
Primeiro, com o desalinhamento das falanges perdemos parte do movimento das articulações. Exemplo: se deixarmos a pinça comprida e o talão mais curto, a articulação estaria mais fechada na frente e aberta atrás. Assim sendo, o cavalo perde a capacidade de se ajustar em um terreno desnivelado. Funciona mais ou menos como a porta do seu carro: se você abrir a porta ao máximo e depois continuar forçando a, a dobradiça abrirá ainda mais e alguma coisa irá abrir ou entortar.
Ao mesmo tempo em que estamos forçando as articulações, estamos forçando também os ligamentos e tendões. Os tendões, por estarem demasiadamente tensos, prejudicam a circulação sanguínea e, por sua vez, causam o enfraquecimento ou modificações nos ossos, pois é o sangue que os alimenta.
Além de tudo isso, o desequilíbrio anterior / posterior modifica a maneira do casco aterrissar no chão. Nos cavalos normais e bem equilibrados, a aterrissagem, na grande maioria dos casos (em média 75%), é feita pelo talão primeiramente ou pelo casco inteiro, mas nunca com a pinça primeiro.
Nos cascos com a pinça comprida e o talão baixo, há um grande número de casos que aterrissam primeiramente com a pinça. Temos de lembrar a construção interna do casco e o que há na região da pinça para amortecer o impacto: nada! O mecanismo de amortecer está todo na parte de trás do casco (ranilha, coxim plantar, cartilagem alar etc.). Através do desequilíbrio anterior / posterior, criamos inúmeros problemas como dor de canela, síndrome navicular, osteíte pedal, micro-fraturas, calcificações nas articulações, tendinites etc.
Para manter a saúde e aumentar a vida útil de seu cavalo, evite passar mais de 40 dias entre um ferrageamento e outro, pois a maior causa de desequilíbrio anterior / posterior é a negligência, principalmente por deixar o casco crescer demais e, logicamente, procure um profissional competente para efetuar esse serviço.
Equilíbrio medial-lateral
Quando visto de frente, o casco deve estar centralizado em baixo do membro, com 50% do casco para cada lado do centro da canela. O ângulo das laterais do casco deve ser o mesmo em ambos os lados. Sendo assim, temos uma base sólida em que o cavalo pode se apoiar.
Visto de trás, os bulbos devem ser da mesma altura do chão e os talões devem ter o mesmo ângulo em ambos os lados.
Quando o casco está desequilibrado, com um lado mais alto que o outro, o lado alto aterrissa primeiro e recebe um impacto muito mais forte. O excesso de impacto de um lado causa um aumento de pressão na coroa, empurrando-a para cima; ao mesmo tempo em que a coroa sobe, a parte de baixo da parede – na área do talão – dobra em direção ao centro do casco. Com esta pressão, a pinça em diagonal abre, rompendo a linha branca e criando stress sobre a parede. É como fazer pressão de um lado de um copo de isopor: sempre deforma o outro lado também.
Do lado do talão alto, o excesso de pressão sobre a coroa inibe o crescimento. Lembre-se de que pressão causa falta de circulação e, portanto, falta alimento para os tecidos em crescimento. Já na pinça em diagonal, o stress causa uma saliência externa no casco.
Com essa pressão excessiva e desequilibrada, o casco deforma. O casco terá um lado mais estreito que o outro, ao invés de ser simétrico.
Agora, vamos lembrar novamente o interior do casco. Dentro do casco, temos ossos, coxim plantar, cartilagem e complexos sistemas de circulação e nervos.
Quando deformamos a cápsula (a capa protetora das partes sensíveis) criamos pressões onde as mesmas não deveriam existir, podendo causar problemas como desmineralização da terceira falange, calcificação da cartilagem alar, fraturas, calcificação das articulações etc.
O fato de ter um talão recebendo mais impacto causa uma torção nas articulações a cada passo que o cavalo dá. Assim como o desequilíbrio anterior /posterior, esta torção também provoca modificações do osso navicular, podendo resultar em síndrome do navicular.
Por conta do desequilíbrio médio-lateral, o cavalo fica com uma base muito ruim para sustentar o peso. Com um lado do casco estreito e o outro lado largo, o cavalo perde a habilidade de manter o casco plano em cima da terra. Por exemplo: o lado estreito tem de aguentar mais peso por centímetro quadrado e afunda na terra com mais facilidade que o lado largo. Isto também causa torção nas articulações. Para evitar este problema, é necessário manter os dois talões na mesma altura e deixar a ferradura sobrando para fora do casco do lado estreito, equilibrando, assim, a base de apoio.
Um erro comum na análise de um cavalo é pensar nele somente estático, parado. Cavalos, em sua maioria, são utilizados para serem montados, portanto estão em constante movimento. É indispensável analisar o cavalo em movimento. Peça para uma pessoa puxar o cavalo em linha reta, a passo ou a trote lento, para saber se está aterrissando plano. Se um lado do casco toca o piso antes que o outro, você pode ter certeza de que o equilíbrio médio/lateral está errado e trará problemas futuros.
Por Verônica Formigoni
Fonte : Kenny Knowlton
Foto cedida