Claudicação em equinos

Médico veterinário Hélio Itapema ressalta neste artigo os prejuízos causados pela claudicação à saúde dos equinos

Independente da modalidade em que o cavalo esteja inserido, a claudicação pode ser considerada a manifestação de desconforto mais comum observada por proprietários, tratadores e veterinários na rotina esportiva.

Tal sintoma, na maior parte dos casos, resulta em queda de performance, interrupção da jornada atlética, despesas financeiras e desconforto ao animal. As causas de claudicação são diversas e comumente estão ligadas ao tipo de movimentação e exercício realizado pelo conjunto, devendo ser corretamente avaliada para a futura resolução e prevenção de novas lesões.

Apesar de eficientemente visualizada por profissionais experientes durante o exame clínico, a especificidade do foco de dor pode ser um fator dificultante no fechamento do diagnóstico e, por tal motivo, faz-se necessário a utilização de estratégias que viabilizem esta análise mais detalhada.

Atualmente, diversos são os métodos de rastreamento da lesão, porém a utilização da insensibilização química de certas regiões permite que o clínico possa, por exclusão, limitar a origem da claudicação. Tal método é chamado de bloqueio anestésico e é sobre ele que falaremos mais ao decorrer desta matéria.

Mancou, mas onde dói? Como dito anteriormente, diversas são as causas da claudicação, assim como os métodos e práticas diagnosticas. A inspeção visual (em estação, passo, trote e galope), palpação de ligamentos e tendões e pinçamento dos cascos, são essenciais em um bom exame clínico principalmente pela sua simplicidade de execução e quantidade de informações que provém ao veterinário, já que, em alguns casos a claudicação se faz evidente ainda nesta fase do exame, revelando o foco de dor de forma mais simples.

Porém, nem todas as manqueiras se manifestam desta forma, sendo necessário, em uma parcela considerável dos casos, a análise loco-regional para que se evidencie, não necessariamente a causa da dor, mas sim o local que deverá ser analisado de forma mais criteriosa para que então a origem seja finalmente descoberta por meio de exames complementares, como a ultrassonografia, radiografia, cintilografia, ressonância magnética etc.

O que é um bloqueio anestésico?

O bloqueio anestésico consiste na anestesia perineural (ao redor do nervo e nele mesmo) e/ou intra-articular (no interior da articulação) utilizando fármacos que promovem a dessensibilização das estruturas alvo por um determinado período. Sua execução é relativamente simples e pouco onerosa, já que utiliza materiais comuns da rotina veterinária, como seringas, agulhas e scalp (um tipo de agulha com um prolongador plástico), além de anestésicos como a lidocaína e bupivacaína, sendo necessário apenas do conhecimento anatômico e farmacológico do profissional que o realizará.

O objetivo da utilização deste método se resume em acabar com a dor transitoriamente para que o animal pare de manifestar a claudicação, porém isto deve ser feito em etapas para que o cerceamento da dor seja realizado da forma mais concisa possível. Para isso, deve-se iniciar a anestesia, obrigatoriamente, no sentido distal para proximal (do ponto mais longe do tronco para o mais perto) pois a analgesia proximal pode influenciar o efeito distal da dessensibilização, mascarando-a.

Além disso, os métodos de assepsia devem ser estritamente seguidos, sendo mais rigorosos na modalidade intra-articular por conta da sensibilidade das estruturas manipuladas.

Bloqueio perineural

Como dito anteriormente, consiste na dessensibilização temporária de uma área específica através da aplicação de anestésico local no nervo propriamente dito, ou ao redor dele mesmo. Tem como finalidade o auxílio diagnóstico de patologias músculo esqueléticas ou fins terapêuticos.

É uma técnica bastante executada, e considerada de fácil acesso às estruturas envolvidas no procedimento. Espera-se que, com o bloqueio, o animal cesse ou diminua o grau de claudicação em que se encontrava antes do procedimento, voltando o apoio ao membro acometido.

O bloqueio diagnóstico é o método mais eficaz na identificação do local da dor, facilitando a investigação na busca do diagnóstico e tratamento corretos através da limitação do espaço para investigação.

Quando bem sucedido, o bloqueio perineural dessensibiliza diversas estruturas extra articulares, como ligamentos, tendões, bainha do tendão, tecido subcutâneo e ossos extra articulares. Se o animal diminuir o nível de claudicação, isto indica que a origem da dor é distal ao local de bloqueio anestésico.

Bloqueio intra-articular

Similar ao bloqueio perineural, o bloqueio intra articular é uma técnica valiosa na localização da dor em animais com claudicação. Este é feito através da artrocentese (acesso ao interior da articulação por pontos específicos), procedimento utilizado tanto para administrar medicamentos quanto para coleta de líquido sinovial.

Auxilia na definição clínica de quão significativas são os achados radiográficos no membro do animal, já que um animal pode ter achados radiográficos em diferentes regiões do mesmo membro, mas apenas um destes achados ser o responsável pela e dor e consequente claudicação. Neste caso, o bloqueio intra articular pode ser preferível ao perineural, já que age sobre diferentes, e mais específicas, estruturas.

Algumas peculiaridades do bloqueio intra articular envolvem: risco de sepse; necessidade de um profundo conhecimento anatômico; requer uma boa assepsia; demanda habilidades em manejo e contenção do animal. Embora o bloqueio intra articular resulte em altas taxas de sucesso, em tecidos que apresentem infecção, inflamação ou isquemia, a anestesia tende a surtir menos efeito, já que o meio mais ácido em tecidos acometidos inibe a dissociação do fármaco.

Conclusão sobre a claudicação

A técnica de bloqueio anestésico pode ser de grande auxílio na identificação correta e precoce de patologias e no auxílio da melhora da claudicação, além do conforto em casos de prognóstico reservado ou pós operatórios.

Torna-se claro a importância da observação de sintomas clínicos pelos proprietários e tratadores, podendo assim evitar perdas financeiras e prejuízos na saúde e no bem-estar do animal. Por isso, se perceber que seu animal apresenta dor ou queda de rendimento, não deixe de consultar o seu médico veterinário.

Por Médico Veterinário Hélio Itapema, Rachel C. Worthington, Lunna Cabó e Vida Martins

Fotos: Pixabay

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