Doenças respiratórias dos cavalos

Aprenda aqui a identificar ‘os inimigos pulmonares’ de seu cavalo e como manter sua respiração sempre em bom estado

Preste atenção quando seu cavalo tosse. Muitas vezes um sintoma ocasional pode indicar um problema maior, e até mesmo um começo de obstrução recorrente das vias aéreas, a ORVA – antigamente chamada de DPOC ou ainda conhecida por enfisema.

Existem casos de animais que mesmo com potencial genético para serem vencedores em competições, mal conseguem andar alguns metros sem perder o fôlego. Cavalos atletas, em fase de crescimento, chegam a parecer ter o dobro da idade, pois perdem o ar até para mastigar. E tudo começa com uma simples tosse. Devido ao excesso de esforço os músculos se atrofiam deixando a musculatura que ajuda na respiração em péssimas condições.

A causa de tanta transformação tem nome: ORVA, uma condição pulmonar semelhante à asma que tira literalmente o fôlego de seu cavalo, impedindo-o até de se alimentar.

COMO EVITAR

Muitos problemas respiratórios provêm do manejo adotado. Os erros cometidos ao longo dos anos são acumulados, e vão pouco a pouco agravando a situação. Fique atento caso seu cavalo comece com uma pequena falta de ar, um ligeiro cansaço para aquilo que antigamente fazia sem esforço, e tente detectar o problema antes que ele se transforme em algo grave. Se o médico veterinário de sua confiança for chamado cedo, ele poderá, com a sua ajuda, reverter o quadro, ajudar o animal a respirar melhor, desenvolver e melhorar novamente sua performance.

O OUE ACONTECE POR DENTRO…

A ORVA começa como se fosse uma ‘invasão de domicílio’. Os bronquíolos, (pequenas ramificações do pulmão) são invadidos por minúsculas partículas que são inaladas. Estas partículas podem ser provenientes de pó e/ou mofo, (comuns em cama de cocheira ou feno), fumaça, amônia (proveniente da urina), ou de algum vírus (como o da influenza), etc. É por isso que um bom manejo e essencial para prevenção. Para responder a tal invasão, o sistema imunológico do cavalo contra-ataca numa reação natural para defender-se e assim começam a aparecer todos os outros sintomas.

Se o cavalo estiver se recuperando de uma gripe ou se reestabelecendo de qualquer outro problema, a situação se torna muito pior. Ao ser colocado próximo de alguns ‘invasores’, como a poeira (de mofo, comida, transporte, etc…), os bronquíolos já afetados entrarão num processo inflamatório, agravando a situação. Esta inflamação pode persistir por até oito semanas, mesmo depois do desaparecimento da causa. Ou seja, os bronquíolos inflamados ficam permanentemente sensíveis e irritados, ativando seu mecanismo de contra-ataque ao menor sinal de invasão.

Quando um cavalo assim afetado se alimenta, a simples inspiração do pó proveniente do feno pode provocar espasmos. Nestas condições, será mais difícil expirar do que inspirar pois terá as vias aéreas ficam comprimidas e cheias de muco. O ar fará os alvéolos estirarem podendo vir a romper-se. A elasticidade e habilidade de expulsar o ar ficam reduzidas. Seu cavalo passará a contrair com esforço os músculos abdominais para realizar esta tarefa vital. Por causa deste esforço após algum tempo aparecerá uma linha visível ao longo do abdômen, decorrente do aumento do tônus muscular.

PARE, OLHE, ESCUTE….

Existem várias maneiras de saber se seu cavalo está passando por estes problemas. Leia as questões abaixo, caso tenha UMA resposta afirmativa para alguma, fique atento.

  • O cavalo tosse suave e secamente nos dez minutos de aquecimento iniciais de exercício? A tosse poderá desaparecer com o aquecimento e voltar com o aumento de trabalho.
  • O cavalo parece cansado com pouco exercício e concentra-se em sua respiração? Fica com as narinas abertas e força o abdômen para respirar?
  • O cavalo tosse ao expor-se ao ar frio logo no início?
  • O cavalo tosse seco quando come? Ele joga parte de sua comida parcialmente mastigada durante estes episódios? (a poeira do alimento irrita seu sensível trato respiratório).
  • O cavalo é o único da cocheira a mostrar estes sintomas? Caso seja, isto provavelmente elimina a possibilidade de infecção.
  • A tosse seca torna-se produtiva (produz muco), é as vezes está associada a um grosso líquido saindo das narinas de seu cavalo?
  • Você já viu alguma camada grossa de muco na parede da baia ou no cocho?
  • Seu cavalo parece melhorar quando está solto, só apresentando os sintomas quando retorna à baía?

Os sintomas variam de acordo com o cavalo, o clima, estação do ano etc. Podem desaparecer durante o verão quando o animal permanece mais tempo solto ou piorar em época de treinamento intenso quando fica mais tempo preso.

FASES DA ORVA

Fase 1

O que você vê: o animal tosse durante o início do exercício e/ou quando come. Pode apresentar secreção nasal. Prognóstico: Excelente, existe nesta fase uma possibilidade de recuperar o cavalo com pouca mudança de manejo (troca de cama/ comida/ reduzir poeira, etc).

Fase 2

O que você vê: Tudo da fase 1, mais a queda da capacidade para exercitar-se e ânsia para respirar (narinas abertas e movimento para cada respiração). Prognóstico: Bom. Com uma troca de manejo mais agressiva (molhar a comida/cama para reduzir mofo/pó), há uma boa chance de permanente recuperação, podendo retomar ao trabalho em três meses.

Fase 3

O que você vê: Tudo da fase 1 e 2, além de muco aumentado nas narinas, cocho e parede da baia. Prognóstico: Regular. O cavalo vai precisar de grandes mudanças (cama de borracha, sair mais para evitar a poeira da cocheira, etc.). Precisa de medicamentos para melhorar (obs: alguns têm uso proibido antes de exposições e/ou competições). Poderá retomar ao trabalho leve em quatro meses. Hipersensibilidade no pulmão. Na maioria dos casos, os eventos competitivos estão fora de questão.

Fase 4

O que você vê: Tudo das outras fases mais ânsia para respirar. O cavalo parece ter de concentrar-se no que parece uma ‘tentativa’ de respirar, mesmo quando está descansando.

Prognóstico: Ruim, precisa de medicamentes por toda a vida, e também de manejo muito diferenciado. Só poderá retomar ao trabalho em caso de pequena área de dano. Na maioria dos casos os eventos competitivos estão fora de questão.

TRATAMENTO

90% do êxito do tratamento depende da atenção do proprietário ou responsável dada às mudanças de manejo e demais adaptações solicitadas pelo veterinário. Apenas os 10% restantes são obtidos por meio de medicamentos.

MANEJO

  • eliminar as partículas irritantes (por ex: pó, mofo, etc).
  • manter o cavalo em pasto ou piquete. Sempre que for confinado, mantê-lo em local bem ventilado, longe das pistas de areia, no local mais arejado e menos movimentado da cocheira.
  • Lavar a baia diminuirá a poeira nela.
  • Não guardar feno sobre a baia, ou mesmo sobre as baias de outros cavalos. Este procedimento economiza espaço mas aumenta a poeira no estábulo.
  • Fornecer feno no nível do focinho ou mais abaixo, para dificultar a inspiração pó.
  • Para reduzir a poeira do feno, molhar o mesmo antes de fornecê-lo.
  • Utilizar as rações com menos poeira, tal como aquelas que têm melaço incorporado.
  • Alimentar o cavalo numa espécie de plataforma, (piso baixo e livre de pó da cama). Assim ele assumira uma posição natural, como se estivesse pastando, e terá o benefício da gravidade para ajudar a drenar as vias aéreas enquanto se alimenta.
  • Evite pistas fechadas, cobertas e o trabalho em dias muito secos, pois há mais pó nestas condições.
  • Se o cavalo tiver que ficar encocheirado, utilizar materiais anti-alérgicos para a cama, tais como papel picado, estrado de borracha ou areia. Aumentar a frequência de limpeza da cama para reduzir a presença de amônia.

Por Claudia Leschonski, MV
Fonte: Editora Passos

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