Que pode leva-lo a claudicação e, posteriormente, a deformação do mesmo
Pode ser traduzida como uma manifestação local de um distúrbio metabólico mais sistêmico que afeta os sistemas cardiovascular, renal e endócrino, além da coagulação sanguínea e do equilíbrio ácido-básico. Acredita-se que os processos vasoativos alterados e a coagulopatia são responsáveis pela perfusão capilar diminuída e pela necrose isquêmica que ocorre nas lâminas do casco.
A fase aguda se inicia com começo da claudicação e se estende por períodos variáveis, dependendo de quando ocorre a rotação da falange distal. Fase crônica começa quando a claudicação é contínua por mais de 48 horas ou quando há evidência da rotação da falange distal. Pode durar por semanas, ou persistir pelo resto da vida do animal. Caracterizada por claudicação intermitente ou contínua e por padrões divergentes de crescimento da parede do casco.
Causas
– Alimentar: excessiva ingestão de grãos, principalmente milho, aveia e trigo. Geralmente ocorre uma associação do quadro da Laminite ao de distúrbios gastroentéricos, onde a histidina formada na digestão de grãos é transformada em histamina, principal droga de ação na rede vascular do pé.
Acredita-se que a sobrecarga de carboidratos resulta na redução do pH do ceco e presença de endotoxina liberada pela lise de bactérias Gram-negativas, responsável pela quebra da barreira da mucosa, possibilitando a absorção de toxina e desencadeamento dos demais fenômenos etiopatogênicos. A degeneração da mucosa do intestino permite que a endotoxina tenha acesso à circulação portal.
– Mecânica: animais com treinamento inadequado e são submetidos a trabalho intenso. Geralmente a conformação e elasticidade dos pés estão relacionadas com esta causa. Cavalos com problemas de apoio em um dos membros acabam adquirindo Laminite no membro contralateral por intensa fadiga de apoio.
O trabalho pesado em piso duro, ou extrema exaustão e desidratação do animal também são fatores que podem desencadear a Laminite.
– Mistas: quando não existem evidências de causas mais comuns, deve-se atentar à possibilidade de desequilíbrios hormonais, alterações tróficas da falange distal, uso prolongado de corticosteróides e derivados da fenilbutazona (que diminuem a síntese protéica e potencializa a vasoconstrição digital) e animais com hipertensão digital.
Patogenia
No pé do cavalo os mecanismos vasoativos e de coagulação (por ação de mediadores como prostaglandina, serotonina, histamina) são responsáveis por alterar o fluxo sanguíneo podal que se processa por vasos através dos forames nutridores da falange distal, para depois formar a rede de microcirculação no sistema de sustentação laminar do casco.
A vasoconstrição causa diminuição do fluxo sanguíneo e edema, falta de nutrientes e conseqüente necroses isquêmica no tecido lamelar gerando o desvio ‘shunts’ arteriovenosos no restante da circulação.
O córion coronário palmar, lâmina dérmica palmar e córion palmar da sola, não são comprometidos pelos fenômenos de isquêmia, por apresentarem intensa rede de vasos colaterais.
A dor gerada no processo é um estímulo que libera catecolaminas que irão agir no interior dos vasos, causando a vasoconstrição e aumentando a isquemia.
Conforme a Laminite passa para a fase crônica, a necrose se estende às estruturas dérmicas, causando uma perda do apoio suspensório entre as lâminas dérmicas e epidérmicas. Uma combinação das forças de tração do tendão flexor digital profundo e as forças rotacionais que têm o seu foco na pinça, separam mecanicamente a falange distal da parede do casco.
A integridade do mecanismo suspensório laminar depende da manutenção de proteínas nas redes citosequeléticas e junções intercelulares das células laminares epidérmicas. A degeneração laminar pode ocorrer devido a fatores citotóxicos ou por distúrbios que aumentam a tensão sobre as lâminas.
Sintomas
Os graus de manifestação locomotora da Laminite podem ser:
Grau 1: o cavalo levanta os membros anteriores incessantemente, alternando o apoio no solo em intervalos de poucos segundos. Manqueira imperceptível e o animal retira rapidamente o membro do solo.
Grau 2: cavalo movimenta-se voluntariamente ao passo, encurtando ainda mais a fase de apoio ao solo. Ainda é possível erguer-se um dos membros anteriores do animal sem muita dificuldade.
Grau 3: cavalo reluta em iniciar locomoção e reage, não permitindo qualquer tentativa de erguer-se um dos membros.
Embora a rotação da terceira falange seja mais comum nos casos crônicos, ela pode ocorrer a partir do segundo dia, em casos mais graves de Laminite aguda.
Depois de mostrar as figuras anteriores com a Laminite aguda, agora vemos a mesma égua depois de um ano e meio (duas últimas fotos). Podemos apreciar como a estrutura do casco está melhor, mas ainda com alguns abcessos.
O processo para a cura da Laminite é muito demorado e exige um cuidado permanente da parte do profissional em ferrageamento e casqueamento para que o formato do casco volte a ser o mais normal possível.
Por Raul Peirano
Ferrador e responsável pela área de ferraduras da empresa Equiboard