Nutrição de cavalos jovens e em crescimento

Hoje em dia, o maior desejo dos grandes criatórios de cavalos no Brasil é criar campeões.

Tarefa essa nada fácil, sabendo que do nascimento até o animal chegar no alto desempenho atlético muitas variáveis podem ocorrer, e muitos desafios o animal terá que passar, especialmente na fase de desenvolvimento.

E para criarmos verdadeiros campeões, não basta uma boa genética e um bom treinamento, mas sim uma criação adequada que se inicia desde a fase gestacional do potro até seu desenvolvimento completo. Desta forma, é possível que este indivíduo esteja fisiologicamente preparado para passar por um programa de treinamento. Grande parte do sucesso da criação, está relacionada à nutrição balanceada do potro, que irá garantir um perfeito desenvolvimento do sistema músculo esquelético, preparando o animal para desempenho de exercícios físicos na fase adulta.

O período que vai do nascimento aos 18 meses de idade é crítico para o crescimento do cavalo jovem, pois nesta fase ele pode atingir 90% de sua altura e aproximadamente 70% de seu peso adulto.  Uma vez que suas exigências nutricionais são altas e que são animais atletas em potencial, deve-se conduzir seu crescimento de maneira adequada, tanto para evitar Doenças Ortopédicas do Desenvolvimento (DOD) como outras enfermidades.

Desta forma, é ideal a implantação de um programa nutricional adequado para cavalos jovens, que atinja as exigências de proteína, energia e minerais específicos para cada categoria.

 POTRO AO PÉ

A nutrição do potro se inicia durante a gestação, principalmente no terço final, fase em que o crescimento fetal é muito grande (o potro chega a ganhar até 500 gramas por dia) e continua durante a amamentação, através do leite materno. Para garantir que o animal esteja recebendo uma nutrição adequada nestes períodos, é fundamental que a égua seja alimentada com ração balanceada com pelo menos 15% de Proteína Bruta e 3.100 Kcal/ Kg de Energia Digestível, além de volumoso de boa qualidade e sal mineralizado para equinos sendo fornecido à vontade.

Mesmo assim, o leite materno garante toda a nutrição do potro somente até o terceiro mês de vida, pois a partir do terceiro mês de lactação a qualidade do leite da égua é diminuída e, ao mesmo tempo, o potro tem suas exigências nutricionais aumentadas, o que significa que uma suplementação com ração balanceada deve ser realizada. O ideal é que a suplementação seja feita com ração comercial específica para potros, de preferência extrusada (100% cozida) contendo em torno de 17 a 20% de Proteína Bruta, 3.400 Kcal/ Kg de Energia Digestível, um balanço de cálcio e fósforo dispostos na proporção de 2:1, e enriquecida com aminoácidos essências (especialmente a Lisina), minerais e vitaminas.

Deve-se iniciar o fornecimento da ração com 30 dias de idade, em quantidade aproximada de 100 gramas por dia, para que o potro aprenda a comer e aceite o produto. Esta quantidade deve ser aumentada de forma gradativa, de modo que aos três meses de idade, quando o leite materno não estiver mais em quantidade e qualidade suficientes, o animal já tenha aprendido a comer a ração. Recomenda-se que chegue aos cinco meses recebendo em torno de 1 Kg da ração balanceada ao dia, dividido em no mínimo dois tratos, que permitirá que ele chegue à fase de desmame com um estado físico ideal para suportar o estresse.

A suplementação torna-se ainda mais importante pelo fato do animal não conseguir digerir eficientemente a fibra, pois não possui o ceco totalmente funcionante. Isto significa que o volumoso consumido não é 100% aproveitado, tornando-se indispensável o fornecimento do concentrado. Por isso, é imprescindível que a pastagem seja de boa qualidade. Além disso, o sal mineral balanceado específico para equinos deve ser fornecido à vontade para o consumo dos potros.

O acesso das éguas à ração dos potros deve ser restrito, para isso, um sistema de creep feeding pode ser introduzido no pasto (local cercado dentro do piquete com comedouro, onde somente os potros têm acesso para o recebimento da ração) ou prender a égua enquanto ela se alimenta e colocar um cocho separado. Há lugares em que o manejo permite que o potro se alimente juntamente com a mãe até o desmame, mas esta prática não é tão eficaz, já que a ração da égua contém menos proteína que a do potro.

 POTRO DESMAMADO

O desmame – que normalmente é realizado no quinto ou sexto mês de vida – é um período de transição muito crítico, pois a separação da mãe é sempre muito estressante para o animal. Este estresse promove um aumento na concentração plasmática do cortisol e diminui a resposta imune do potro por até 40 horas, além de diminuir o consumo alimentar, o que aumenta muito a susceptibilidade a doenças infecciosas (diarréias, pneumonias, etc) e úlceras gástricas. Ou seja, o estresse acaba sendo fisiológico no animal nesta fase, deixando-o muito mais vulnerável às doenças, por isso é fundamental que as mudanças no manejo neste período sejam as menores possíveis para diminuir ainda mais estas tendências.

O desmame mais adequado é aquele em que são retiradas as éguas do lote, uma de cada vez, restando apenas os potros. Desta forma, o estresse é muito menor e o potro acaba sentindo a falta da mãe apenas nos três primeiros dias. Além disso, recomenda-se iniciar o fornecimento da ração desde a fase de amamentação e não prender os potros nesta fase em hipótese alguma. Eles estão acostumados a viver sempre soltos com outros animais, quando se vêem sozinhos – sem a mãe e outros animais – ficam extremamente estressados, apresentando maior tendência a se machucar e desenvolver doenças. O desmame não é recomendado em cocheira mesmo quando feito em lotes, pois o estresse ocasionado sempre é maior que o realizado ao pasto.

É normal neste período que os potros percam peso e/ou estacionem em altura, porque o próprio estresse promove perda de apetite e diminui a taxa de crescimento; mas logo após 20 a 30 dias inicia-se a fase de ganho de peso compensatório, em que o animal retorna seu crescimento normalmente. Um erro neste período que é aumentar a ração para melhorar este estado ou iniciar o fornecimento de ração somente após o desmame – o aumento da ração, juntamente com o ganho de peso compensatório, pode aumentar as chances do aparecimento de Doenças Ortopédicas do Desenvolvimento (Fisite, OCD). Desta forma, é importante a adaptação do animal e o fornecimento gradual da ração desde novo para que atinja a idade do desmame com um peso ideal e não comprometer seu desenvolvimento.

A ração comercial deve continuar contendo em torno de 17 a 20% de Proteína Bruta, 3.400 Kcal/ Kg de Energia Digestível, Lisina, vitaminas e minerais ( Cálcio e Fósforo – 2:1). O fornecimento neste período varia em torno 0,8 a 1% do peso vivo ao dia, devendo ser aumentado gradativamente de forma que aos 12 meses de idade atinja de 1 a 1,2% do peso vivo ao dia de ração. É muito importante enfatizar que neste período de vida os potros não devem apresentar excesso de peso, pois isso prejudica as articulações.

O excesso de energia na dieta destes animais acelera a taxa de crescimento, o que ocasiona Doenças Ortopédicas do Desenvolvimento. Aqueles que apresentarem distúrbios ortopédicos, bem como possuírem uma taxa de crescimento muito acelerada, devem receber metade da recomendação diária de ração ou, em casos graves, não serem suplementados até minimizarem os problemas. O pasto verde e de qualidade é essencial neste período, mas deve-se ter cautela na utilização da alfafa – é recomenda após os 10 meses de idade -, antes disso, favorece o aparecimento das DOD.

O sal mineral é indicado em torno de 30 gramas por animal por dia e é indispensável neste período, para que o cumprimento das exigências minerais especificadas a esta categoria seja alcançado. O uso de probióticos na fase do desmame também é indicado, uma vez que irá auxiliar na digestão e aproveitamento do volumoso.

POTRO SOBREANO

A taxa de crescimento a partir dos 12 meses de idade diminui consideravelmente, o que significa que a concentração dos nutrientes exigidos no programa alimentar destes animais seja menor, por isso, o índice de distúrbios ortopédicos (DOD) são mais baixos. A partir desta idade, os animais conseguem ter maior aproveitamento e absorção dos nutrientes oriundos das fibras do capim, pois o funcionamento da câmara de fermentação (ceco) é maior do que as dos animais desmamados.

Nesta fase a porção volumosa da dieta é maior. Os potros devem ficar em pastagens de boa qualidade e podem também receber feno de alfafa. A ração comercial ainda precisa ser específica para potros até que os animais completem 24 meses, sendo fornecida de 1,2 a 1,5% do peso vivo por dia, dividido em dois ou três tratos. O sal mineral é recomendado na quantidade de 40 gramas por animal por dia.

Por Cláudia Ceola – Médica Veterinária – Supervisora Técnica de Equinos Guabi Nutrição Animal

Foto: Cedida

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