Um dos sistemas orgânicos mais complexos de todo ser vivo é o sistema imunológico, o conjunto de defesas do corpo que nos torna capazes de resistir ao ataque contínuo dos elementos agressores do meio-ambiente.
Um dos sistemas orgânicos mais complexos de todo ser vivo é o sistema imunológico, o conjunto de defesas do corpo que nos torna capazes de resistir ao ataque contínuo dos elementos agressores do meio-ambiente. No ar, na água, na terra – em todo lugar e a todo instante, pessoas e animais estão em contato com micro-organismos potencialmente causadores de doenças – bactérias, vírus e protozoários. Em nosso ambiente, estamos o tempo todo inspirando e ingerindo estes elementos, sem que isto cause doenças em indivíduos normais e saudáveis.
Isto é possível apenas por causa de nosso sistema imunológico, a “linha de defesa” do organismo animal, capaz de reconhecer elementos potencialmente perigosos, tais como vírus e bactérias causadores de doenças, e neutralizá-los mediante respostas celulares específicas. Para entender isso melhor, basta refletir que doenças imunossupressoras, tais como a AIDS no ser humano, não causam por si mesmas os sintomas que podem debilitar o portador até a morte. Elas apenas enfraquecem ou destroem o sistema imunológico, tornando o indivíduo mais sensível aos agentes patogênicos, de modo que doenças normalmente leves, tais como gripes ou infecções de pele, se transformam em problemas muito graves e até fatais.
Vamos conhecer melhor alguns dos elementos integrantes do sistema imunológico (SI) dos mamíferos, também de nossos cavalos:
- Antígeno: é o agente invasor (ex: bactéria) causador de doença, tal como bactérias ou vírus. Em muitos casos, a geração de imunidade se dá através de uma exposição inicial ao antígeno, o que habilita o organismo ao reconhecimento futuro do mesmo. Este é o processo do qual depende o funcionamento das vacinas.
- Anticorpos: são os elementos do SI que reconhecem os antígenos
- Macrófagos: células do sangue que capturam, processam e eliminam os antígenos
- Linfócitos: células de memória, iniciando resposta imune secundária; também mediam a resposta imune celular
- Linfócitos B: imunidade humoral (fluidos corporais); maturam formando células de plasma, produção de imunoglobulinas
- Linfócitos T: dependem do timo, produzem imunidade celular
- Células de plasma: células produtoras de anticorpos (derivadas dos linfócitos)
- Nódulos linfáticos: capturam os antígenos circulantes
E quais são as características específicas do sistema imunológico equino? A principal é que, diferente do que acontece em outras espécies, os potros são desprovidos de anticorpos ao nascer, precisando adquiri-los através do colostro, a secreção especial que é produzida pelas glândulas mamárias da égua apenas nas seis primeiras horas após o nascimento. Os potros que não ingerem colostro durante este período estão praticamente condenados à morte por infecções que adquirirão no meio-ambiente, sem terem defesas orgânicas contra as mesmas.
O SI dos equinos é menos atuante em animais idosos e também em éguas em lactação. Além destes, animais sujeitos a transporte rodoviário prolongado ou frequente podem ter o SI bastante comprometido. A ocorrência da febre do transporte (“shipping fever”) é bastante comum nos cavalos, associada à imunosupressão que se verifica durante 24 horas pós-transporte. Cólica e laminite estão entre as possíveis consequências.
Outro fator importante é que determinadas classes de fármacos reduzem a atividade do SI, dentre eles corticóides e broncodilatadores, especialmente quando forem dados por períodos prolongados, no controle de enfermidades crônicas. Durante estes tratamentos, por exemplo na DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), cuidados especiais precisam ser tomados para evitar o surgimento de infecções secundárias resultantes da depressão imunológica.
Fatos adicionais sobre o sistema imunológico dos equinos
- Todo stress pode enfraquecer o sistema imunológico do organismo. Por “stress”, entendemos toda sobrecarga mais prolongada dos sistemas orgânicos (stress fisiológico), mas também situações onde haja tensão emocional, tais como ambiente pouco natural, mudança brusca de condições de vida, etc.
- Alguns causadores de stress fisiológico, portanto debilitantes do sistema imunológico: fadiga, doenças infecciosas crônicas ou agudas, doenças parasitárias.
- A boa nutrição é essencial para preservar e fortalecer o sistema imunológico. Destaque especial vai para microminerais e outros oligoelementos, que nem sempre se encontram disponíveis em quantidades suficientes nas dietas de nossos cavalos.
- Por todos os fatores acima, fica evidente que os cavalos atletas, ao longo da temporada de suas modalidades, têm o sistema imunológico desafiado de uma série de maneiras, incluindo aí trabalho intenso, viagens constantes, horários por vezes desregrados, alimentação possivelmente desregrada, stress emocional relacionado aos ambientes sempre diversos e falta de manejo natural, entre outros.
- Assegurar aos cavalos “pausas de repouso” para a recuperação de seus sistemas orgânicos, e também lhes assegurando o “direito de serem cavalos”, preservando os hábitos e comportamento naturais da espécie, é uma maneira importante de assegurar a longevidade e o melhor desempenho dos animais. Isto pode significar férias semestrais, o planejamento criterioso da temporada de competições, e também fazer com que a vida dos cavalos “na estrada” e entre uma prova e outra seja tão próxima de uma boa rotina quanto possível.
- A boa alimentação dos cavalos precisa incluir suplementos e nutracêuticos baseados na grande necessidade que eles têm por determinadas substâncias mineraise orgânicas que nem sempre estão disponíveis em quantidade suficiente na dieta habitual de volumoso, concentrado e sal
- Tudo isso se aplica aos cavalos atletas, mas também a outras categorias animais sujeitas a desafios constantes, tais como potros até 12 meses de idade, reprodutoras em final de gestação e lactação, e animais geriátricos.
Uma vacina não “fornece a defesa pronta” contra determinada doenças, porém apenas fornece antígenos atenuados, que estimulam o organismo a produzir anticorpos específicos para aquele agressor. Fica evidente que apenas animais saudáveis, bem alimentados e em equilíbrio orgânico terão condições de responder à administração da vacina com a imunidade desejada. O uso de suplementos específicos, além das boas técnicas de manejo, alimentação e treinamento, ajudará os animais a maximizar os potenciais benefícios da vacina.
Escrito por : Claudia Lechonski, MV
Foto por : Cedida