Plasma Rico em plaquetas (PRP) no tratamento de Tendinite em equinos

Dentre as atividades da equideocultura, algumas demandam máxima exigência de performance dos animais, que podem levar a um aumento nas afecções do sistema musculoesquelético.

Dentre as atividades da equideocultura destacam-se diversos esportes, tais como: Tambor e Baliza, Salto, Adestramento (Dressage), Concurso Completo de Equitação (CCE) entre outras modalidades, que demandam máxima exigência de performance dos animais e, consequentemente, pode levar a um aumento nas afecções do sistema musculoesquelético. O tendão flexor digital superficial (TFDS) é mais comumente acometido.

A tendinite é uma afecção caracterizada pela alta morbidade dentre os cavalos atletas, desencadeando prejuízos econômicos que decorrem dos gastos com o tratamento, tempo prolongado de reabilitação, queda de desempenho, lesões recorrentes, podendo evoluir para incapacidade de retorno às atividades físicas, treinamentos e competições e a uma aposentadoria precoce do animal.

A utilização do plasma rico em plaquetas (PRP), designado como um método autólogo (material biológico do próprio organismo) é uma técnica com grande potencial terapêutico que vem sendo utilizado em casos de tendinite equina com o objetivo de acelerar o processo de cicatrização e evitar, entretanto, recidivas.

Entendendo a Tendinite

Um tendão é uma fita densa de tecido conjuntivo fibroso que age como intermediário na inserção do músculo ao osso.

As lesões de tendão são comuns principalmente em equinos submetidos ao esporte, devido a uma única sobrecarga que excede à resistência máxima que as fibras tendíneas suportam, ou a decorrência de micro lesões levando a uma ruptura da estrutura tendínea. Porém, outros fatores também podem favorecer o surgimento desta afecção, tais como: hiperextensão, má conformação genética, aprumos ruins, casqueamento e ferrageamento inadequado, início precoce e intenso de treinamento, qualidade do solo em que o animal foi submetido, obesidade, trauma direto entre outros.

A tendinite é uma inflamação do tendão e suas inserções (tendão-músculo), sendo uma das mais importantes causas de claudicação e diminuição de performance em equinos.

Uso do Plasma Rico em Plaquetas (PRP)

Por definição, o PRP é um volume de uma fração de plasma de sangue autólogo que tem uma concentração de plaquetas acima dos níveis normais (três a cinco vezes mais plaquetas que os níveis fisiológicos), segundo Feldman (2000), nos equinos, as plaquetas podem variar entre 100.000 e 350.000 μl, sendo que no PRP essa concentração pode atingir 1.000.000 μL. Nele contém diversos fatores de crescimento importantes na reparação tecidual, assim como um efeito mitogênico, quimiotático e neovascular, estimulando a proliferação celular, a síntese de colágeno e deposição de matriz extracelular (EVERTS et al., 2006).

O PRP é exclusivamente extraído de sangue não coagulado (pois as plaquetas fazem parte do coágulo). Quando ativado há liberação massiva dos fatores de crescimento, sua composição também possui outros componentes além das plaquetas, tais como: eritrócitos e leucócitos, células mesenquimais e várias proteínas do soro em circulação (trombospondina, fibrinogênio, fibrina, fibronectica) sendo que algumas dessas protéinas também estão envolvidas no processo de cicatrização (OLEZA, 2009).

O uso de PRP em tendinites resulta em diminuição de colágeno tipo III em face de um aumento do tipo I numa fase precoce do processo de reparação, sendo, portanto, benéfico para a reparação do tendão acometido (SCHNABEL et al., 2007; FORTIER, 2009). Além disso, estudos demonstram que o PRP estimula um grande número de genes que codificam moléculas matriciais sem aumentar a expressão gênica de mediadores inflamatórios, como as metaloproteinases (MMPs), contribuindo assim para a produção de um tecido reparado com composição e estrutura mais semelhante à de um tecido normal (SCHNABEL et al., 2007).

Por ser autólogo, não há risco de transmissão de enfermidades infecciosas, sendo sua tolerância excelente. O efeito regenerador do PRP nas lesões tendíneas vai depender do volume e concentração utilizada, extensão, tipo e fase da lesão, assim como a condição geral do animal (PIETRZAK e EPPLEY, 2005).

Segundo Barbosa et al., 2006, a concentração de plaquetas no PRP depende da contagem inicial no sangue total, ou seja, quanto maior o número inicial de plaquetas mais rico será o PRP. Sendo assim, quando há ocorrência de trombocitopenia, por exemplo, pode acabar se tornando um fator limitante para a concentração adequada de plaquetas.

Aplicação do PRP na tendinite equina

As injecções de PRP não devem ser administradas antes do 10°/14° dia posterior a lesão. Até lá deve ser ministrado tratamento de suporte como descanso, terapia com frio, antiinflamatórios não esteróides (AINEs) e ligas de compressão. Este intervalo de tempo permite a organização da lesão, facilitando a determinação da extensão e do local da mesma (SUTTER, 2007).

O animal deverá ser observado posteriormente a primeira aplicação de PRP, caso não haja melhora de pelo menos 50% da dor e o tendão não demonstrar progresso de 50% em relação as secções transversais e longitudinais sobre um exame ultrassonográfico (US) por exemplo, então admite-se a utilização da segunda aplicação intra-lesional de PRP (FORTIER, 2009).

É imprescindível e indispensável um controle rigoroso do equino, assim como a realização de ultrassonografias regulares (SUTTER, 2007). Fortier et al (2009) propõe um programa de treino na fase de reabilitação do animal que consiste em  descanso em boxe/baia após a aplicação da injeção de PRP, com passeio ao passo, e realização de exame ultrassonográfico após 15 dias da administração do PRP. Após o 30º dia de tratamento, ficam liberados o passeio montado com o animal ao passo e dois a três períodos de trote por semana. É importante o exame ultrassonográfico no 60° e 90° dia.

Passados 120 dias, poderão ser adicionados períodos de galope leve todas as semanas por mais 30 dias. O animal seguirá com trabalho controlado e novamente será possível aumentar períodos de galope. Ultrassonografia de revisão deve ser realizada no 180° dia. Considerando-se um resultado satisfatório ao exame ultrassonográfico, o clínico orientará o inicio dos galopes condicionados.

O prognóstico de retorno à função atlética é variável e depende primariamente do grau de lesão, responsividade ao tratamento, adequado repouso e cumprimento das fases de reabilitação.

Conclusão

A técnica intra-lesional de PRP no tratamento de tendinite equina mostrou ser uma opção interessante, seja por sua resposta terapêutica considerável, seja por sua simples formulação e aquisição a baixo custo (quando comparado a outras terapias celulares). Atualmente demonstra ser uma técnica bastante utilizada devido a sua eficiência demasiadamente considerável e segurança, sendo eficiente no tratamento e reparação tecidual necessária para os casos de tendinite em equinos.

Porém, ainda se faz necessários mais estudos para ampliar e aperfeiçoar os conhecimentos sobre a técnica ideal para um tratamento efetivo sobre o uso do PRP em tendinite equina.

Escrito por : Verônica Formigoni

Foto por : Foto cedida

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