Na semana em que se iniciam as Paraolimpíadas em Paris, a equipe de hipismo desembarca no Brasil após alcançar resultado inédito. Stephan Barcha, montando a égua Primavera, um animal genuinamente brasileiro, conquistou a quinta colocação entre os 30 finalistas que disputavam o pódio individual. O desempenho de Primavera, da raça Brasileiro de Hipismo (BH), destaca a qualidade e a competitividade dos cavalos nacionais no cenário internacional. Este é o melhor resultado do hipismo brasileiro em uma olimpíada desde 2004.
O medalhista relata que começou a montar a Primavera há seis anos, e juntos, subiram degrau por degrau, conquistando o bicampeonato brasileiro na categoria Sênior Top, vencendo os principais GPs no Brasil, além de se tornarem campeões panamericanos e vice-campeões sul-americanos. Eles também alcançaram diversos resultados expressivos na Europa.
“Este resultado nas Olimpíadas é de enorme importância tanto para o hipismo nacional quanto para mim. Ele prova que estamos trilhando o caminho certo. Minha equipe e eu somos imensamente gratos à Primavera, uma égua extraordinária que está conosco há tantos anos e que foi formada em casa. Ela recebe todos os cuidados que merece, e trabalhamos incansavelmente para garantir seu bem-estar. Sendo uma égua jovem, temos plena confiança no seu futuro e estamos determinados a alcançar grandes objetivos juntos”, diz o cavaleiro Stephan Barcha.
Os cavalos que competem em olimpíadas são tratados como verdadeiros atletas de elite, contando com o suporte de médicos veterinários em suas comissões técnicas. Juliana Maria Ramalho de Freitas, integrante da Comissão Veterinária da Federação Equestre Internacional (FEI) nos Jogos Olímpicos Paris 2024, explica que esses animais seguem programas de treinamento específicos, com exercícios voltados para melhorar força, resistência e flexibilidade. Além disso, a alimentação é cuidadosamente ajustada para atender às necessidades energéticas e nutricionais, levando em consideração o tipo físico, a intensidade do treino e a saúde geral de cada animal.
“Esses treinamentos não apenas garantem o bem-estar dos animais durante as competições, mas também são fundamentais para a preparação e manutenção da saúde dos cavalos atletas, contribuindo de forma decisiva para o sucesso e a integridade do esporte” afirma.
Veterinários: profissionais essenciais
O papel dos veterinários no Hipismo é essencial para o futuro sustentável do esporte, garantindo que ele seja praticado com respeito aos animais que o tornam possível. A Comissão Veterinária da FEI é composta por quatro médicos veterinários, que, durante a competição, foram responsáveis por inspecionar todos os cavalos antes do início de cada prova. “Avaliamos se os animais estavam em condições físicas adequadas para competir e capazes de completar as provas, identificando e prevenindo possíveis problemas maiores.”
Segundo Juliana, o principal desafio nos jogos foi assegurar que o bem-estar dos animais permanecesse como a prioridade absoluta, acima de qualquer interesse competitivo. “Manter o foco constante na saúde e segurança dos cavalos foi fundamental para garantir que todos os aspectos da competição respeitassem os mais altos padrões de cuidado e responsabilidade,” afirmou.
Rotina planejada
Médico veterinário oficial do Time Brasil de Salto nas Olimpíadas Paris 2024, Rogério Saito explica que a vida atlética dos animais de alta performance é cuidadosamente planejada de forma individual. Eles seguem uma rotina rigorosa de cuidados, incluindo exames clínicos, laboratoriais e de imagem periódicos. A fisioterapia é utilizada tanto na prevenção quanto no tratamento de lesões. Além disso, é fundamental uma atenção especial ao comportamento e ao manejo do estresse desses equinos.
“Os animais em competição estão constantemente sujeitos a variações, já que mudanças no ambiente, temperatura e aumento do esforço físico, além do transporte, podem impactá-los significativamente. Assim como os atletas humanos, eles podem resfriar-se ou apresentar desconfortos abdominais. Por isso, é essencial que o médico-veterinário clínico conheça o diagnóstico completo de cada animal para elaborar o plano de treinamento e tratamento mais adequado para suas necessidades”, afirma Saito.
Campo em expansão
A visibilidade do Hipismo nas Olimpíadas de Paris foi amplificada pela escolha dos jardins do Palácio de Versalhes como local de competição, enquanto a grande quantidade de espectadores ressaltou a crescente popularidade do esporte.
Essa exposição também destacou a complexidade e a importância do trabalho dos médicos-veterinários que atuaram com os equinos. “Durante os jogos, contamos com cerca de 90 médicos-veterinários no local, vindos de diversos países e com especializações variadas, todos dedicados a garantir o melhor suporte possível aos animais durante sua estadia nos jogos,” relata Juliana Maria Ramalho de Freitas, integrante da Comissão Veterinária da FEI.
Havia veterinários especializados em biossegurança, diagnóstico por imagem, ortopedia, ferrageamento, anestesia, medicina interna, fisioterapia, socorro emergencial e antidopagem. “Tínhamos um laboratório clínico no local, capaz de realizar uma ampla gama de exames com resultados imediatos, disponível 24 horas por dia, a poucos metros das cocheiras onde os cavalos estavam alojados. Ouso dizer que os atletas humanos não tinham um suporte tão próximo e imediato,” afirma Juliana.
Parceria essencial
Os zootecnistas também desempenham um papel fundamental na equideocultura, apesar de não terem participado das equipes em Paris, especialmente no contexto do hipismo de alto rendimento, como nas olimpíadas. Esses profissionais contribuem com a saúde, o bem-estar e o desempenho máximo dos cavalos, aspectos essenciais para o sucesso em competições de nível mundial.
“O zootecnista está à frente do melhoramento genético, manejo sanitário, reprodutivo, e na nutrição. Também atuamos no treinamento funcional destes animais, nas áreas de doma e comportamental”, explica Kátia de Oliveira, docente da disciplina de Equideocultura da Unesp-Dracena, e conselheira efetiva do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).
Cuidado redobrado
Além de uma alimentação ajustada às necessidades energéticas e nutricionais dos cavalos, que inclui uma combinação de forragem, grãos e suplementos adequada ao tipo físico, intensidade do treino e estado de saúde de cada animal, Kátia ressalta a importância de monitorar atentamente a hidratação deles.
“Alguns animais são extremamente sensíveis à qualidade da água, e para evitar que sofram estresse hídrico ou tenham dificuldade em se hidratar adequadamente durante as competições, muitas vezes é necessário levar a água que será consumida por eles ao local do evento”, enfatiza a zootecnista.
Nas grandes competições, a atuação do zootecnista também pode ser crucial para que cada cavalo atinja o seu potencial máximo, refletindo diretamente nos resultados obtidos pelas equipes equestres.
Fonte: Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo
Foto: Divulgação/Luís Ruas
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