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Cavalo é um aliado na luta contra a depressão

Luciano Rodrigues, cavaleiro e pesquisador, e também psicólogo, faz um convite nesse artigo: vamos falar de depressão?

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Utiliza-se, em alguns casos, frases como ‘isso vai passar’, ‘seja forte’, ‘isso é frescura’, ‘se esforce’, a fim de amparar uma pessoa com sintomas depressivos. Nos últimos meses, alguns fatos tornaram notícia no mundo do cavalo envolvendo pessoas com sintomas de depressão.

De acordo com dados do IBGE, a depressão em 2020 aumentou 34% e atinge 16,3 milhões de brasileiros. Estados do Sul e Sudeste têm 15,2% e 11,5%, respectivamente, de adultos com diagnóstico confirmado de depressão, segundo a pesquisa. Em seguida aparecem Centro-Oeste (10,4%), Nordeste (6,9%) e Norte (5%).

Com a pandemia, esses números tendem a aumentar. Mas, afinal, o que é depressão? E, antes de mais nada, o cavalo pode auxiliar no tratamento?

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O que é depressão

Diferente da tristeza, depressão é uma doença. Tristeza passa, depressão não. Conforme o ‘Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5’, os Transtornos Depressivos têm como característica comum a presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas (prejuízo na capacidade de pensar) que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo.

A depressão também pode apresentar uma diminuição do interesse ou prazer em atividades diárias, perda ou ganho de peso sem uma dieta, insônia ou sonolência, cansaço ou perda de energia, sentimentos de inutilidade e culpa excessiva, baixa autoestima, capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, indecisão, ideação suicida entre outros.

Só para ilustrar, Varella (2021) diz que a depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite.

Em nossas vidas, sempre confrontamos com momentos de tristeza: a morte de um familiar, algum trauma, desemprego, problemas econômicos, separações, entre outros. Perante essas tristezas, de alguma forma, superamos. Na depressão, este estado de tristeza persiste, sem nenhuma esperança de melhora.

Por outro lado, o DSM-V também aponta para um grande número de substâncias de abuso (álcool e drogas), alguns medicamentos e diversas outras condições médicas que podem estar associados a fenômenos semelhantes à depressão.

Causa x sintoma

Antes de tudo, vamos falar um pouco de medicina. Algumas práticas médicas, principalmente as antigas, se preocupavam apenas com o sintoma, aquilo que estava errado e precisava ser consertado. A doença era o foco no tratamento. Por isso não interessava o médico olhar no sujeito, ele só precisava saber os sintomas. E buscava através do tratamento resolver os sintomas.

Com o avanço da psiquiatria e da psicologia, percebe-se que os sintomas não são a causa em si, mas o resultado de algum desequilíbrio na vida da pessoa. Não adianta resolver os sintomas se não resolver o que está causando os sintomas. Em uma ressaca, a dor de cabeça é apenas um sintoma, mas a causa dela é a falta de hidratação do corpo. Então a solução é hidratar o corpo e não, apenas, tomar um comprimido para dor de cabeça.

O que causa a depressão

Buscando a causa dos sintomas, o ‘olhar’ médico busca as raízes dos sintomas ou das patologia (conjunto de sintomas). Dessa forma, um olhar para o sujeito e não mais para o sintoma. Assim surgem três fatores que interferem no sujeito: biológico, como uma doença genética ou alterações hormonais; psicológico; podendo ser causada pelas emoções, memórias, afetos etc.; ou social, decorrente das relações com pais, familiares, conjugais, etc, como o bullyng.

A partir desses conceitos, as pessoas são compreendidas de forma biopsicossocial. E a depressão pode vir destes três fatores. Algumas depressões podem ser genéticas, mas isso não é determinante para o surgimento da doença. Colabora com isso os agentes estressores, fatores psicológicos e ambientais como a família, o trabalho, a escola, amigos, entre outros.

Particularmente, minha prática e experiência no atendimento psicológico de depressivos, revela que a maioria das causas são geradas nos conflitos ambientais: história de vida, problemas familiares, condição de vida, situação de miséria, exclusão social. Podendo ser acentuada com uso de álcool e drogas, naquele velho ditado de ‘beber pra esquecer ou afogar as mágoas’. Beber não resolve, só piora.

Tratamento

A depressão pode ser de nível leve, moderado ou grave, dependendo dos sintomas e duração. A leve pode ser tratada com psicoterapia (atendimento psicológico). Enquanto a depressão de moderada a grave é tratada com fármacos (remédios), psicoterapia ou ambos.

Alguns pacientes necessitam de uma combinação de fármacos. A melhora pode não ser aparente de imediato, necessitando um tempo mais longo (acima de 4 semanas).

Importante salientar que a depressão é uma doença crônica. Isso quer dizer que não é possível afirmar que existe uma cura. Entretanto, é possível manter os sintomas sob controle a partir de um tratamento adequado.

Porém, muito importante uma avaliação médica e psicológica, para que se possa realizar o acompanhamento necessário com a medicação correta e com o auxílio de psicoterapias adequadas e reconhecidas, não estou falando de florais, essências de perfumes e qualquer outro método alternativo.

Luciano Rodrigues, cavaleiro e pesquisador, e também psicólogo, faz um convite nesse artigo: vamos falar de depressão? e os cavalos?

Cavalos e a depressão

E o cavalo, é um método alternativo? O cavalo pode curar?

Primeiramente, depressão não tem cura. O que se tem é o controle dela. Assim, o cavalo não pode curar, mas pode ajudar a controlar. Ajuda no humor, motiva, cria vínculos, compromissos, uma atividade física e muitos outros benefícios. Contudo, quando colocamos a cabeça no travesseiro, tudo pode retornar. Os pensamentos estão aí, com os cavalos podemos esquecê-los por um momento, mas os pensamentos ainda continuaram aí.

Pensando no tratamento, a psicoterapia auxiliará a resolver ou entender esses pensamentos que causam a dor e o sofrimento. Mas se realizarmos uma pesquisa na internet veremos inúmeros casos na qual os cavalos auxiliam no tratamento.

Perfeito, isso é Equoterapia! Por trás da prática existe ciência, existem estudos, existem profissionais orientando e auxiliando no processo terapêutico.

Diferente de montar o cavalo e sair andando, laçando, cavalgando e depois aquele churrasco com os amigos, nesta situação não tem nada de tratamento, é apenas um momento agradável, mas não pode dizer que há um processo terapêutico.

O cavalo pode auxiliar, desde que haja uma equipe de profissionais qualificadas para o atendimento (médicos, psicólogos, fisioterapeutas, pedagogos etc.). Existe muita gente charlatã, trazendo uma pomada ou pílula milagrosa, buscando sua conexão com a mãe natureza e com os cavalos, isso é perigoso.

Depressão não é ‘frescura’, é coisa séria. Precisamos conversar mais sobre isso, assim como o suicídio. Não podemos ficar em silêncio e sofrer calados. Sempre deve procurar auxílio médico ou psicológico.

Referências

  • ANDRADE, Juliana. Terapia com cavalos é arma contra a depressão. https://forbes.com.br/escolhas-do-editor/2018/09/terapia-com-cavalos-e-arma-contra-a-depressao/. Acessado em: 23 abr 2021.
  • American PsychiatricAssociation. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
  • PORTER, Robert S.Manual MDS, Transtornos Depressivos. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional. Acessado em 23 abr 2021.
  • VARELLA, Drauzio. Depressão. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/depressao/. Acessado em: 22 abr 2021.

Colaboração: Luciano Ferreira Rodrigues Filho
Cavaleiro e Pesquisador |
Campeira Dom Herculano
Crédito das fotos: Divulgação/Wikimedia Commons e Pixabay

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