Uma manada de cavalos tem, primordialmente, uma liderança matriarcal. São as fêmeas que lideram. Elas são, sobretudo, os indivíduos mais sábios e mais velhos do bando. Necessariamente, elas precisam ter ainda saúde física.
Portanto, as éguas matriarcas de uma manada de cavalos têm que ser mais velhas, fortes e saudáveis. Historicamente, existem mais de uma fêmea na liderança um grupo de cavalos, várias matriarcas. De tal forma que elas se alternam nas decisões conforme o talento de cada uma.
Essa é a primeira grande lição das manadas de cavalos. Esse sistema matricial, com toda a certeza, perpetuou a espécie por mais 50 milhões de anos. A sagacidade das fêmeas matriarcas e a forma com que elas lideram a manada.
Alternância de posto
Então, em uma manada de cavalos há mais de uma égua matriarca. Como acontece essa alternância de posto? Toma decisão a égua que tem mais talento para determinado momento.
Por exemplo, precisa suprir o fornecimento de água para o grupo, assim tem uma fêmea com sensibilidade maior para encontrar água. Enquanto encontramos outra com sensibilidade para sentir um predador por perto. Assim como existe no bando a égua que sabe o momento de pausa para descanso.
E esse comportamento é muito natural para elas. Todas estão conectadas com a manada. Entendem, acima de tudo, qual é a necessidade do grupo e também momentos de fuga ou de disciplina.
Só para ilustrar, veja o caso de um potro ou um cavalo jovem fazendo muita bagunça, com risco de atrair um predador porque está chamando muita atenção. Entra em ação uma das matriarcas, com o devido corretivo para esse cavalo. Vai impor limite, já que o jeito indisciplinado dele compromete e coloca a manada em perigo.
Elas estão sempre orquestrando isso. Tem sempre uma fêmea que é boa em determinado assunto importante. E elas alternam a liderança justamente porque a tomada de decisão de um bando é algo bastante complexo, muitas decisões a serem tomadas.
Com muita naturalidade elas dividem essas tomadas de decisões de acordo com talento de cada uma. Se a gente pudesse aplicar isso no ambiente corporativo, não teríamos necessidade de ter um ambiente parecido com o modelo militar.
O modelo de hierarquia piramidal não existiria. Quanto mais se sobe de posto, menos líderes tomam decisões. A concentração de poder fica na mão de um só. Com isso, mais responsabilidade e sobrecarrega, impedindo que esse líder tome as melhores decisões.
Por isso, ao adotar o sistema matriarcal, lidamos com alternância de posto e compartilhamento de decisões.
Senso de bem comum em uma manada de cavalos
As matriarcas conquistam esse posto naturalmente dentro do bando. Não há brigas e nem disputas. A manada sabe que elas são as mais sábias e, portanto, as seguem. Acima de tudo, o foco principal delas é o bem comum da manada. Estão sempre pensando no todo, no que é melhor para todo o grupo.
Uma questão muito interessante é que as manadas podem ter algumas diferenças entre umas e outras. O convívio social, sobretudo, é determinado muito pelas matriarcas. Há manadas de 12, 25 e até 30 cavalos. E quanto maior, mais complexa será a gestão. Mais ‘gente’ para acolher e para considerar nas tomadas de decisão.
Em outras palavras, vemos um papel bem sofisticado da alternância de liderança das matriarcas, pois são elas que cuidam do todo. Patriarcado e matriarcado são coisas muito humanas. Para as espécies animais não existe isso. Existe o ser daquele bando que realmente se preocupa com o coletivo e assume a liderança.
Foco no bem comum sempre e cada um no seu devido lugar, com a mesma importância, mas com seu com seu respectivo papel. E tem outra coisa também muito importante que são os ciclos, indo nesse mesmo quesito de bem comum.
Quando um cavalo envelhece e percebe que não consegue mais acompanhar a manada, decide parar de segui-la a fim de não atrasar o bando. Para não prejudicar o coletivo, então ele mesmo se coloca fora. Ninguém é expulso de uma manada, a não ser quando há indisciplina que afete o coletivo.
Liderança matriarcal
Liderança essa que fica com as éguas, porque que são elas que possuem o senso de comunidade. O garanhão, por analogia, representa proteção e procriação. O macho não tem esse senso de coletivo, o foco dele é procriar e proteger.
É, portanto, um papel mais reduzido na organização de uma manada de cavalos. Contudo, não quer dizer que o papel da égua ou das éguas é mais ou menos importante do que o do garanhão. São papeis diferentes apenas, mas igualmente importantes.
Podemos dizer que as matriarcas de uma manada têm um papel holístico, que busca um entendimento integral dos fenômenos. Elas pensam no todo a fim de também contribuir com a perpetuação da espécie dela. Assim, a líder entende que para conseguir tem que manter o bando em harmonia e em equilíbrio.
E não existe uma bando só de éguas, pois para procriar e perpetuar precisam do garanhão. Além disso, eles são os que as protegem e aos potros. Elas entendem que tem que ter equilíbrio. E isso é muito natural para as éguas matriarcais.
Quando a gente fala, por exemplo, de liderança feminina nas palestras e workshops da For Leaders, é a liderança de quem pensa no bem comum, independente do gênero. Quem toma principais decisões o faz pensando no bem-estar do todo.
Acima de tudo, sabe que cada um tem o seu devido papel no grupo, não mais e nem menos importante, apenas um papel diferente. Assim, para que perpetuemos como espécie o líder tem que focar no bem comum, a exemplo das éguas matriarcais.
Por Flavia de Oliveira Ramos – Administradora; Executive Coaching; Life Coaching; Consultora em desenvolvimento de liderança
Crédito das fotos: Arquivo/Pinterest
Veja outras notícias no portal Cavalus