Steven Rufus é um guia de safári muito conhecido na África. Ele é um cavaleiro versátil e ousado, lecionou em estudos de equinos e competiu em eventos de alto nível na África do Sul.
No início dos anos 2000, ele estabeleceu sua empresa de safáris a cavalo no Vale Limpopo em Botsuana. Em 2013 guiou alguns safáris memoráveis no Delta do Okavango e Songimvelo Game Reserve na África do Sul, depois montou uma empresa de safaris em Zâmbia. O Steven sempre foi reconhecido por seu rigoroso treinamento.
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Limpobo
Em 2008 eu estive no Limpobo e tive oportunidade de conhecer um pouco de seu trabalho com treinamento de cavalos para safaris. Eles tem que lidar com várias situações incomuns para outras atividades equestres como, ter contato próximo com animais predadores, passar a noite em lugares remotos ouvindo os sons desses animais ao redor.
Steven contou que aprendeu com seu pai e seu avô a observar o comportamento dos cavalos e treina-los para safari usando seu corpo, conhecimento e voz. Ao observar o comportamento de cavalos e de zebras ele encontrou muitas semelhanças que utilizou em seus treinamentos.
Ele diz que para ter um ótimo cavalo de safari temos que aproveitar seus instintos para identificar predadores e também saber usar seus atributos físicos, como as orelhas em forma de cone, a boa e grande visão e as narinas sensíveis. Os cavalos vão nos alertar de qualquer sinal de animal muito antes que possamos perceber que ele está por perto. Saber usar esses sinais de alerta são muito uteis num safari.
O cavalo ideal para safari
Com excelente temperamento e resistência, a raça SA Boerperd da África do Sul, é muito usada nos safáris. Muitos foram cruzados com linhagens sangue quente europeus e árabes.
Segundo Rufus, o cavalo ideal para safari é um meio sangue AS Boerperd que já tenha realizado pelo menos uma temporada de trabalho na lida com gado. Tendo realizado esse trabalho ele já está acostumado ao som de estampido provocado pelo chicote, o que é muito importante, pois esse som é usado tanto por chicote usados por muitos guias, como por armas usadas para controlar animais perigosos em situação de risco.
Na lida com gado esse cavalo trabalhou em diversos tipos de terreno, está mais “centrado” e se acostumou ser guiado com a rédea no pescoço, no estilo “neck reining”.
Programa de treinamento de cavalos para safári de Steven Rufus:
- Disciplina de manada
Quando em treinamento eu gosto que meus cavalos vivam e trabalhem em grupo, permitindo que os mais velhos ensinem os mais novos. O cavalo mais velho não vai ver uma manada de zebras, girafas ou antílopes como ameaça e isso é fundamental para que os cavalos aprendam que podem conviver no mesmo “espaço” sem receio. Isso é uma parte muito importante do treinamento e dá muita confiança para a próxima etapa.
- Join up
A primeira etapa é me posicionar como um garanhão dominante ou uma fêmea madrinha fazem na natureza. O cavalo precisa me ouvir e obedecer como faria com outro cavalo indicando para ele cruzar um rio ou entrar num mato, e isso é feito da mesma maneira que um cavalo ou égua dominante. Os cavalos novos devem aprender a me respeitar e me ouvir.
Num redondel eles são ensinados a juntar-se a mim/“join up”. Usando meu corpo, ensino eles a se aproximarem e se afastarem, a se moverem em diferentes sentidos e velocidades. Tudo por sinais e comandos de voz. Durante esse trabalho a confiança é adquirida uma vez que eles entendem que você está lá para ensinar. Regras e limites são importantes, tanto quanto paciência e entendimento. Eles precisam confiar que é seguro estar comigo e me seguir. Em situações de stress, com animais perigosos, eles não estarão 100% confiáveis se estiverem agindo numa base de medo, o que por sua vez pode ter resultados imprevisíveis.
Os cavalos que eu treino voltam ao guia quando chamados, eles reconhecem meu assobio, podem ser até atrevidos as vezes, mas importante é que eles sabem a hora de trabalhar e vão reagir de acordo.
- Cavalo Guia
Como estabelecido, nossos cavalos devem trabalhar como um time. O cavalo líder é o componente mais importante desse time, já que os demais vão segui-lo.
- Estabelecendo contato com predadores
Eu promovo encontros (próximos) dos cavalos com elefantes, rinocerontes e búfalos (observe que não inclui leopardo e leão – nenhum guia de safári a cavalo que se preze o levaria conscientemente para perto de um leão a cavalo – em termos de comportamento, o leão deve aprender a reconhecê-lo como a ameaça e sair de perto).
Cavalos mostram sinais bem particulares quando se aproximam de um elefante pela primeira vez – cabeça mais elevada, narinas dilatadas, boca contraída, coração batendo e deslocamento do corpo para preparar uma rota de fuga.
Todos os cavalos nesse primeiro encontro são conduzidos por mim e eles aprendem a me aceitar como uma figura confiável e segura. Quando eu digo para eles ficarem parados e aceitarem o avistamento, eles são capazes de refrear seu instinto natural e ouvir seu cavaleiro que está dizendo para eles ficarem parados. Tem mais algumas coisas que também são essenciais para esse resultado: tenha certeza que seu arreamento esteja em boas condições. Se você devido a situação está colocando mais pressão no estribo e ele arrebenta, isso causara uma grande alteração na distribuição de seu peso no cavalo e consequentemente vai tirar a “concentração” dele em seus comandos e tudo isso pode resultar num grande problema.
O tipo de embocadura também é importante, deixe o bridão de treinamento e use algo adequado para uma possível situação em que tenha que ter seu cavalo totalmente em suas mãos.
Muito importante também é seguir aquele instinto de manada e sempre levar um cavalo novo, em treinamento, junto com cavalos experientes. Uma vez que os cavalos experientes vão estar relaxados na frente de um elefante e não vão mostrar sinais de medo, o cavalo novo, ainda vai sentir medo porem seu instinto de fugir será subjugado, uma vez que os demais a seu redor estarão parados.
Devemos sempre assegurar que o primeiro encontro com um elefante seja positivo, que todos estejam relaxados e que não ocorram ameaças. Para isso devemos encorajar nosso cavalo a pastar nesse momento para ficar mais relaxado. Observar uma distância de 50 metros para que o elefante não se sinta ameaçado. Como todo treinamento, a repetição é a chave, conforme o cavalo novo ficar mais relaxado, a distância deve ser diminuída gradualmente até que eles sintam que essa “convivência” pode ser normal. Com mais tempo e treino, pode-se chegar a uma distância de 10 metros de elefantes, rinocerontes, búfalos.
Nesses encontros, sempre posicionar o cavalo novo numa posição um pouco atrás do cavalo mais experiente, mas observar para que ele esteja vendo o elefante.
- Conclusão
O cavalo de safari deve ser bem equilibrado, com grande personalidade, que idealmente deve combinar com a personalidade do cavaleiro.
Eu procuro produzir a companhia ideal para um safari e o melhor meio de transporte na natureza africana (to the bush).
Por: Paulo Junqueira Arantes
Cavaleiro profissional e Diretor da agência Cavalgadas Brasil
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