Top 15 entre os treinadores profissionais no ranking brasileiro, ele é um dos mais técnicos e focados treinadores de Rédeas
Hoje, Eduardo Mazurek Salgado, 38 anos, mora em Gainesville, Texas, onde toca o Eduardo Salgado Performance Horse, seu centro de treinamento de Rédeas nos Estados Unidos. Há cinco anos trocou a segurança de morar, treinar e competir no Brasil, junto da família e amigos, para buscar o sonho de estar entre os melhores do mundo, treinando e competindo nos melhores eventos da Rédeas.
Foto: Arquivo PessoalDe Pindamonhangaba e ele morava em Avaré, ambas no estado de São Paulo, antes de levar a esposa Tatiana e o filho Matheus, que agora está com oito anos, para a ‘terra do Tio Sam’. Lá eles tiveram Lucca, três anos, e a família se adaptou bem ao estilo de vida americano. Nesses cinco anos, muitos foram os caminhos até que chegassem a uma situação mais tranquila. Quer dizer, tranquilo nunca é né, já que Eduardo está sempre mexendo com os cavalos, treinando e indo a provas. A família está sempre junta em tudo.
Com a família. Foto: Arquivo PessoalQuem não lembra da atuação dele com Gunner Boy no NRHA Futurity 2011? De emocionar até hoje! Respeitado por sua carreira, por tudo que já fez na modalidade, ele não pensa em voltar ao Brasil tão cedo. Veja a nossa conversa com ele.
Como tudo começou?
Banga: Sempre moramos em fazenda e meu contato com cavalo é desde que nasci. Andava muito a cavalo na fazenda, em Pindamonhagaba, ajudando meu pai nos serviços da lida, olhando as vacas no pasto, trocando-as de pasto, essas coisas. Meu tio Jango já era treinador, mas morava em Marília e com a distância não acompanhava muito. Achava bonito tudo que ele fazia, não tinha muita ideia das competições, mas gostava de cavalo.
Eduardo e Jango SalgadoQuando eu tinha 13 anos de idade, fiz um teste para jogar futebol no São Paulo Futebol Clube e passei. Em janeiro ia mudar para a capital para jogar e estudar. No Natal, uma tia sofreu um acidente de carro, meu primo e o marido dela tiveram que ficar hospitalizados e meus pais foram ao Rio de Janeiro acompanhar e ajudar.
Eduardo e Jango Salgado apósa prova no PF de 2000
Meu tio Jango estava em casa para o Natal, mas ia a Marília antes do Réveillon e me convidou para ir com ele. Fiquei essa semana montando e achei muito interessante, pois aprendi algumas coisas e gostei muito. Depois do Ano Novo, meu tio perguntou se eu queria ir ajudá-lo em janeiro, antes de começar os treinos no São Paulo, e não tive dúvida. Fui e passei o mês inteiro ajudando e aprendendo como fazer os cavalos, as manobras. Voltei para casa e não fui para São Paulo jogar futebol. Fiquei em Pinda mesmo e em todas as férias e feriados eu ia para Marília.
Muito bem! E depois?
Banga: Meu tio, vendo o empenho que eu tinha em todas as férias, pegar ônibus para estar com ele, me convidou para a fazer minha primeira prova, na categoria Principiante, me emprestando a égua Miss Okie Lena. Ele a apresentava no Aberto, minha tia Renata no Amador e eu comecei no Principiante. Era muito boa e marquei 72 nas duas primeiras etapas, em Bauru. Acabei ganhando do tio Jango e do meu pai a Hobby Dixie Cody, para eu correr na Amador. Encerrei o Nacional na Miss e já comecei os potros do futuro com a Hobby, ganhando o Potro do Futuro Jovem e alguns títulos no Derby e Nacional Amador.
Com Gunners Bar Fly no NRHA Futurity 2017. Foto: WattemberryDepois disso parei por um ano quando vendemos a Hobby e fui morar no Mato Grosso, para trabalhar em fazenda, aí já tinha 18 anos. Fiquei um ano lá e em janeiro de 1999 meu tio me convidou para trabalhar com ele. Foi um passo para virar profissional e eu ainda não tinha certeza que era isso que queria para minha vida, mas fui. Quando cheguei para trabalhar, o veterinário Marcelo Pessoa e o ferrador Vagner Roldan me desafiaram, falaram que eu ia aguentar só uns cinco meses. Mas estavam errados (risos), eu fui cada vez mais me apaixonado em treinar cavalos e também ia bem nas competições. E assim estou aqui até os dias de hoje, amando muito o que faço e cada vez mais tentando aprimorar e melhorar os treinos nos cavalos.
Consegue eleger um cavalo que mais te marcou até agora?
Banga: Tive vários cavalos que marcaram minha vida. As que já falei, no Principiante a Miss Okie Lena, no Amador a Hobby Dixie Cody. Aí vieram os cavalos que mais gostei de treinar e apresentar no Brasil, como Schot Tari WP, Infinito do Itapororó, Farrapo do Infinito, One Taris Melody’s, Rei Chex Melody’s, Sting Melody, Top Chic Melody’s, Red Game Gamay, Legat Question, Smoking Okena Gun, Lady Question.
Com Gunner Boy no NRHA Futurity 2011.Foto: Wattemberry
Quando foi a primeira vez para os Estados Unidos competir?
Banga: Esses foram alguns dos grandes nomes dos cavalos que montei. E comecei a querer vir apresentar nos Estados Unidos, mas sabia que teria que melhorar e modernizar o treinamento. Busquei alguns cursos com Andrea Fappani e comecei a treinar o Gunner Boy. Em 2011 esse sonho se tornou realidade, vim com o Gunner Boy e fomos muito bem. Dai veio a ideia de vir de vez para cá.
E como foi essa decisão?
Banga: Quando resolvi me mudar para cá estava inseguro em como seria no início e comecei com poucos cavalos. Hoje, graças a Deus, estou com 30 cavalos em treinamento, muitos desses são animais para venda. Talvez o que eu teria feito de diferente do começo, de quando me mudei, era ter ido trabalhar para um treinador top aqui antes de abrir meu próprio negócio. Acho que teria me encurtado muito alguns caminhos, mas agora já estamos bem encaixados.
Com grande ajuda do Clemerson Barbalho fizemos um ótimo nome em vender bons animais, entre eles está Spook Whiz, campeão NRHA Futurity Open com Andrea Fappani, Spook Grand Slam, Soookneedsacocktail, Gunners Bar Fly, Gotta Shiney Whiz, Spooks Gotta Lena, The Best Gunner. Todos esses cavalos foram cavalos que vendemos e ganharam nas pistas aqui no Estado Unidos. Quase toda semana tem alguém vindo aqui para olhar os cavalos. Também temos os animais de clientes que competimos hoje e estamos fazendo um time de cavalos para andar bem em todas as competições que entramos, com ajuda de clientes que acreditaram no meu trabalho.
Qual a principal diferença de se viver do cavalo no Brasil e nos Estados Unidos?
Banga: A grande diferença do Brasil para cá é que a mão de obra do treinador é muito mais valorizada. Conseguimos colocar nosso trabalho em potros e valorizar muito os animais.
Com Gotta Shiney Diamond no NRHA Futurity 2017. Foto: PlusoneandahalfPensa em voltar a trabalhar no Brasil?
Banga: Hoje em dia não penso em voltar mais para o Brasil. Estamos muito bem instalados aqui, acabamos de comprar um rancho, meus filhos amam morar aqui, minha esposa está muito bem. O Brasil está passando por uma crise muito grande, com tudo isso não pensamos em voltar. Mas não sabemos o dia de amanhã, pode ser que um dia eu volte.
Banga em Tulsa ano passado quandovenceu a Novice Horse Open
Qual cavalo desejaria ter montado?
Banga: Acho que o cavalo que eu não montei e gostaria de ter montado foi o No Question. Ele fazia tudo com muita leveza, naturalidade, parecia tudo muito fácil para ele. Tive oportunidade de acompanhar ele trabalhando de perto por um período longo, pois alugávamos baia na São Jerônimo e o Paulo Koury também alugava lá, então treinávamos juntos na mesma pista.
Qual a melhor prova da vida?
Banga: Tive muitas provas muito boas, que estão guardadas em minhas lembranças, mais com certeza a inesquecível foi quando ganhei o Potro do Futuro de 2000 com o Infinito do Itapororó marcando 232. Foi uma prova perfeita! Tudo que eu vinha imaginando meses antes em meus sonhos e pensamentos saíram exatamente como planejei, não mudou nada, foi exatamente como planejei. E isso é muito difícil de acontecer. Talvez foi a única prova que fiz até hoje que não mudaria nada desde como preparei o Infinito até a apresentação. Essa prova foi em 2000 e até hoje ninguém chegou perto de bater a nota dela, foi muito perfeita.
Com Infinito do Itapororó no ANCR Potro do Futuro de 2000. Foto: Álvaro MayaPrincipais títulos:
Banga: Que eu tenho certeza são três títulos de Potro do Futuro da ANCR e quatro da ABQM. Os demais não sei quantas vezes, mas ganhei Derby e Super Stakes. Também tenho alguns títulos aqui em provas legais, como Tulsa, Las Vegas e o NRHA Futurity 2011 L1 e L2.
Com The Best Gunner no High Roller Reining Classic em Las VegasQual aquele título que ainda persegue?
Banga: O título que eu mais gostaria de vencer é o NRHA Futurity L4. Acho uma prova muito atraente por tudo que envolve, animais novos, tendo duas passadas para classificar, está na mídia do mundo todo, a maior premiação da modalidade, tudo isso é muito motivante para o competidor.
Com Gunners Bar Fly em TulsaSua família é muito envolvida com essa atividade?
Banga: Minha esposa me ajuda muito com a parte de escritório, tudo que precisa comprar é ela que resolve, tentando deixar para mim somente a parte de montar os cavalos, o resto é quase tudo com ela. O Matheus, meu filho mais velho, gostava muito de cavalo quando pequeno, mas hoje somente quer montar nas provas e se interessa mais por futebol. O Lucca, o mais novo, adora o rancho, monta comigo quase todo dia, ama trator. Acho que mais velhos os dois vão acabar montando, não sei se profissional, mais acho que vão querer competir nas classes principiantes. E aí eles resolvem o que vão querer fazer da vida. Eu só incentivo fazerem o que eles gostam, não forço nada.
Tem algum ídolo na Rédeas?
Banga: Hoje em dia tenho três treinadores que admiro muito o programa de treinamento, que são Andrea Fappani, Craig Schmersal e Duane Latimer. Acho que já estão há algum tempo no meio e o programa deles nunca parece ultrapassado. Mais ídolos mesmo acho que são Shawn Flarida, meu tio Jango Salgado e o Gilson Diniz. Cada um tem um motivo para eu admirá-los. O Shawn por ter ficado no topo muito tempo ganhando várias vezes os títulos mais importantes da modalidade; meu tio foi quem me apresentou a Rédeas, me ensinou a pensar o que o cavalo pensa e do que eles gostam, como entender todos os movimentos da modalidade; e o Gilsão admiro muito pelo talento nato que tem, vive Rédeas 24 horas por dia, tudo que conquistou foi através do cavalo e da Rédeas. Esses três, toda vez que vejo eles, gosto de estar perto, gosto de escutar o que eles têm para falar.
Por Luciana Omena
Fotos: Arquivo Pessoal