Nome forte no cavalo Quarto de Milha, o criador conta sua história
O agrônomo e pecuarista Marcello Carlos André Gros é um dos grandes responsáveis pela modalidade de Laço no Brasil. Sua história começou a ser escrita no Quarto de Milha juntamente com a Swift King Ranch. Brasileiro e formado em Agronomia pela Colorado State University, nos Estados Unidos, voltou ao Brasil empregado pela SKR, e foi lá que tudo começou há quase 50 anos!
Natural do Rio de Janeiro sempre teve o gosto por montar e quando jovem, saltava na Hípica do Rio. O gosto pelo Laço começou na Universidade e de lá para cá foram muitas disputas que Marcello participou e escreveu sua história como criador e competidor no meio. Em meados dos anos 90 chegou a assumir a presidência da Associação Brasileira dos Criadores do Rio de Janeiro – RJQM, por dois mandatos.
Um dos precursores do Laço no BrasilE hoje tem um plantel selecionadíssimo, em especial Shinning Beaver, o garanhão de seu Haras, que vem escrevendo uma história de sucesso nas pistas no Brasil. A novidade é que o garanhão está indo para os Estados Unidos disputar o Mundial na sela de JD Yates. Confira a entrevista exclusiva que Marcello Gros concedeu à Editora Passos!
Como começou sua história no meio equestre?
Marcello: Sempre gostei de montar a cavalo e quando jovem saltava na Hípica do Rio. Mesmo quando fui morar nos Estados Unidos para estudar.
Como foi a escolha pelo Laço?
Marcello: Quando fui morar nos Estados Unidos, fui para Arizona, e no meu colégio tinha pista de Laço. Foi no início dos anos 60 que comecei a laçar. Quando fui competir nos rodeios universitários comecei a laçar no Team Roping, que na época estava se espalhando pelo Oeste e não só Califórnia e Arizona. Formei-me em 1969, trabalhei dois anos nos Estados Unidos. Voltei já contratado para trabalhar na Swift-King Ranch, parceiras em cinco fazendas na região de Presidente Prudente.
Conte-nos um pouco sua trajetória junto ao King Ranch.
Marcello: Já tínhamos Caracolito, o número 1 da ABQM, um excelente raçador, mas um tipo bulldog baixo e forte. Foi nesta época que decidimos modernizar com cavalos mais altos e com velocidade. Trouxemos Eduardo e El Zorrero, em 1972/1973. Este último, um animal de Corrida. Ele tinha velocidade e uma docilidade incomum, que passou para seus filhos.
Minha preferência pelo laço foi uma consequência natural do que eu gostava de fazer, já que laçava nos rodeios universitários americanos. Como estávamos em uma região de pecuária de corte (Presidente Prudente), havia uma inclinação e preferência pelo Laço de Bezerro. Nesta época o Rancho Quarto de Milha de Prudente trouxe o laçador americano Bobby Seals, do Texas, para dar um curso de laçar bezerros.
Já para o final do curso, Bobby me perguntou por que estes fazendeiros, alguns mais encorpados e mais velhos, não faziam Team Roping. Expliquei que não conheciam e ele disse então já que você laça cabeça, arruma um gado de chifre e damos uma demonstração. E foi assim as primeiras laçadas de dupla no Brasil. O pessoal adorou, pois já tinham a tradição do laço da solta e como se vê nos dias de hoje pegou! Saí da King Ranch, em 1976 e fui para o norte fluminense.
Depois que saiu da King Ranch quanto tempo depois voltou ao Quarto de Milha?
Marcello: Em meados dos anos 90, Jacinto Caetano. presidente da RJQM na época, me chamou para laçar bezerro e cabeça nos cavalos dele em provas na minha cidade de Quissamã. Foi aí que voltei ao Quarto de Milha. No início só criava mestiços para uso próprio, mas um grande amigo, Roberto Mesquita, da Duas Voltas Agropecuária, me convidou para visitar as fazendas da família, em Teixeira de Freitas, na Bahia. Eles criavam Quarto de Milha e nesta ocasião comprei um garanhão e três éguas.
Anos depois comprei um filho do Little Peppy, Lil Verdad, e comecei a criar cavalos puros. Vendi o Lil Verdad e importei com Odilon Diniz, um filho do Shinning Spark em égua Doc’s Remedy, ganhadora nos Estados Unidos. Ele me deixou um potro baio com uma égua Beaver San Badger, que comprei de Mônica Castro. Foi um dos poucos que deixei para garanhão, Shinning Beaver, para minha felicidade.
O garanhão Shinning Beaver fazparte do seu plantel
No Laço qual foi seu cavalo preferido, parceiro de pista?
Marcello: O meu cavalo de laço preferido, com o qual competi muitos anos e me deu inúmeras alegrias, é o Colonel DP, de criação de Amadeu Duarte Lana. Comprei de Sandra Navarro. Hoje ele está aposentado.
Qual o principal animal do seu plantel hoje?
Marcello: Shinning Beaver MA, de minha criação, hoje é meu garanhão e foi Superhorse 2013. Ganhou Congresso Brasileiro, Campeonato Nacional e Copa dos Campeões ABQM inúmeras vezes, além do título de campeão da AQHA de cabeça 2017. Possui Registro de Mérito Superior Aberta no Laço Pé e Cabeça. Este sucesso não é só devido à habilidade do cavalo, mas também aos irmãos Paoliello, Chifrinho e Diguinho, que fizeram e continuam fazendo a carreira dele em pista.
Como foi receber o convite de um treinador americano renomado para levar Shinning Beaver para os Estados Unidos?
Marcello: JD Yates, de fato, me disse que tem muita vontade de apresentar ele lá e considero a possibilidade de fazer isto. O convite do JD foi uma consequência natural de ele conhecer e já ter montado e ganho Campeonato Nacional no Shinning, além da amizade que temos há muitos anos. Como eu morava no Colorado, competia os mesmos rodeios que o Dick Yates (grande cavaleiro treinador), pai dele, e conheci JD quando pequeno.
Quais os projetos para sua criação?
Marcello: O objetivo da minha criação sempre foi e será criar cavalos que eu gostaria de montar e de preferência para Laço.
O que significa o Laço na sua vida?
Marcello: O Laço me proporcionou incontáveis alegrias e uns poucos títulos, pois comecei a laçar há 55 anos. Fiz muitos amigos no cavalo, neste ambiente maravilhoso do mundo do Quarto de Milha. Portanto o Laço significa uma parte importante da minha formação e vida, me ensinou vários princípios de comportamento que sempre conservei.
Em sua opinião, qual o caminho que a modalidade tem que tomar para que continue sólida e em crescimento?
Marcello: A modalidade do Laço, o cavalo QM tem percorrido o caminho certo daí seu sucesso. Porém, hoje há uma exigência da sociedade do bem-estar dos animais, temos tido muita atenção a isto e não podemos vacilar neste aspecto, com risco perdemos o apoio da sociedade.
Gostaria de fazer algum agradecimento?
Marcello: Agradeço a Isaias Barbosa, que fez a doma do Shinning Beaver, ao Rodriguinho Lima, que iniciou ele no Laço, aos irmãos Paoliello, que estão fazendo seu nome nas pistas, e ao Luciano Beretta, pelo trabalho de divulgação na reprodução.
Por Verônica Formigoni
Fotos: Arquivo Pessoal