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Rodrigo Nieves, do Uruguai para o Brasil

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Ele chegou chegando, como diz a gíria. Em sua primeira prova oficial, colocou seus quatro cavalos na final do PF e ainda ganhou o nível 2

Rodrigo Nieves, 29 anos, é uruguaio de Montevidéu e mora em Portão/RS. Quando veio morar no Brasil, tinha uma certeza: queria viver do cavalo e da Rédeas. Com muita dedicação, se profissionalizou, estruturou seu centro de treinamento e hoje é um treinador conhecido e respeitado. Casado com Verônica e pai da sorridente Julieta, ele é presença constantes em todos os eventos da modalidade. Entre os principais títulos, ele já subiu no pódio em Potro do Futuro ANCR e ABCCC, Snaflle Bit ANCR e ABCCC, campeão Nacional ABQM, Congresso ABQM, campeão Gaúcho, campeão Nacional ANCR.

Seu pai apresentou o cavalo à família quando conheceu a Equoterapia e todos ficaram encantados. Quando começou a ter contato com esse mundo, Rodrigo lembra de pensar que jamais gostaria de ficar longe dos cavalos. Sua brincadeiras de infância, com os amigos, envolviam cavalos. Fez escola técnica agrícola lá no Uruguai, mais como forma de se manter nesse meio do que propriamente trabalhar com isso. Acompanhava as provas de Rédeas nos Estados Unidos e no Brasil, assistia a vídeos de provas de todos os treinadores já consagrados e traçou a meta: “é isso que eu quero para minha vida”.

Com a cara e a coragem, literalmente, mudou de país, vive hoje uma fase plena e colhendo todos os frutos da sua dedicação. Confira nossa entrevista!

Portal Cavalus: Como foi seu primeiro contato com cavalos?

Rodrigo, Verô e Juli. Foto: Clovis Pratis

Rodrigo Nieves: Quando eu tinha nove anos de idade, meu pai trabalhava no interior do Uruguai e conheceu a Equoterapia. Foi dessa forma que os cavalos chegaram para nós. Meu pai é Médico e se interessou muito por essa atividade, pesquisou sobre o assunto e também sobre cavalos. E começamos a querer ter os cavalos, até que compramos nossos primeiro, era um cavalo com uma mancha branca na garupa, lindo. Ele fazia uma competição característica lá do Uruguai chamada Pato, onde o cavaleiro tinha que acertar um aro com uma bola semelhante à bola de futebol. Nós não sabíamos nada sobre cavalos, mas foi paixão à primeira vista. Foi só entrar em contato com eles que virou uma paixão inigualável para minha família.


PC: Conta alguma história bacana dessa época:

RN: Com esse primeiro cavalo, ele era muito esquentado e foi descartado de competir, mas com a gente se dava muito bem. Eu montava nele sempre, galopava muito forte e as pessoas ficavam impressionadas de como eu ia fazer para pará-lo, mas a gente se entedia. Nós morávamos na cidade, mas a proximidade com os cavalos foi aumentando, meu pai comprou mais dois cavalos, e decidamos mudar para uma chácara. Também não sabíamos nada de campo, mas foi maravilhoso conviver com os cavalos o dia todo.
Lembro que nos dias de chuva, com amigos, a gente saía para o pasto, montava no meio da lama. Fazíamos inúmeras brincadeiras, era muito divertido. Nossa brincadeira sempre envolvia os cavalos.
E quanto mais tempo eu passava com os cavalos, mais eu gostava. Lembro que saia da aula e os levava para pastorejar. Montava em um cavalo, juntava toda tropa e levava eles para comer no melhor pasto do campo ou na casa dos vizinhos. Era como um filme, eu curtia muito.


PC: E depois?

RN: Desde que a gente se mudou para essa chácara, eu sempre soube que era o que eu queria fazer, mas não sabia como ia fazer. Se existia uma faculdade do cavalo, no Uruguai não existia, então resolvi que eu mesmo ia fazer a minha. E comecei a ir atrás de informações. Também fui estudar numa escola agrícola, pois era a desculpa para estar perto dos cavalos. Passava a semana toda na escola agrícola e final de semana ia para casa. Sempre achava um jeito de fazer algo que envolvia cavalo, se não montava, ia para as festas campeiras na cidade.
Assim que terminei a escola, conheci um grande mestre, que mudou minha vida. O Ricardo Espalter, horsemanship no Uruguai foi quem me ensinou tudo, sobre tudo, montaria western, doma racional, tudo. Foi uma base perfeita para eu chegar na Rédeas e poder ter uma evolução rápida e firme, com estrutura.


PC: E como surgiu a ideia de vir morar no brasil?

RN: Eu assistia sempre as provas de todo mundo, Franco, Jango, Paulo Koury, Gilsinho, João Felipe, Marcelo Almeida, de todos e queria fazer como eles. Sempre gostei do Brasil, de música brasileira, é um país que me atraiu pela alegria do brasileiro. E essa ideia de vir para cá doeu mais para meus pais, sai de casa com 19 anos. Estava feliz, sabendo tudo que eu ia enfrentar, outra cultura, tudo diferente. Vim sem recurso financeiro nenhum, tive que me virar.
Primeiro, passei três meses em um estágio, troquei trabalho por aprendizado. Quando voltei para casa, sabia que tinha que me fixar no Brasil. É um país maior, com mais informação. Já tinha tido contato com a Rédeas e me apaixonei.
Voltei novamente, para realmente tentar fazer dar certo, em 2009. No início, trocava serviço por aprendizado. Morava em um quarto colado ao galpão na Cabanha do 38 e era o suficiente para eu estar aqui, fazendo o que gostava. Aprendi muito, foi uma experiência única. Só quem vive esse tipo de situação sabe o que significa. Por passar esse tempo no galpão, aprendi também a linguagem do cavalo , sabia pelo barulhos que faziam e pelo jeito como se comportavam,  quando estavam com fome, com cólica, foi muito enriquecedora essa parte. Depois de um tempo, já era funcionário, fiquei lá por três anos, tive que tomar uma decisão: se ia embora para os Estados Unidos ou se ficava no Brasil e alçava vôos mais altos. Nessa fase, já tinha pessoas ao meu lado que me apoiavam e me ajudaram a iniciar meu Centro de Treinamento. E foi isso que fiz e ai começou tudo.


PC: Quando deu aquele start que você poderia ser realmente profissional, que levava jeito?

RN: Ah, foi algo espontâneo. Não sei se percebi que levava jeito, tudo fluiu. A sinergia do trabalho é algo muito bacana e a gente nem percebe que tudo flui bem. Mas também percebi que as pessoas se interessaram em me ensinar, elas tinham visto algo em mim, e eu aprendia fácil. E as pessoas falavam que eu tinha mais jeito do que eu imaginava. Acho que nasceu dentro de mim e aflorou. E  eu tento sempre aprimorar, buscar conhecimento, mas é algo que natural.


PC: E a primeira prova, como foi?

RN: A primeira prova importante que fui logo de cara foi o Potro do Futuro ANCR em 2012. Fui com quatro potros do futuro, na esperança de colocar apenas  um na final, já estaria suficiente. Eu estava sozinho cheguei com os quatro cavalos para a final. No primeiro dia consegui por um dos cavalos, na segunda classificatória só tinham cinco vagas e eu nem imaginava que podia colocar mais outro, e entrei com os outros três, marcando a melhor nota do dia. Todo mundo falava: ‘quem é esse moleque, de onde ele saiu, como ele fez isso’. Também sei responder como fiz. Para mim já estava ótimo, não precisava mais nada, eu nem sabia como tinha conseguido.
Na final, como eu estava sozinho, só com um assistente, que também não tinha muita preparação, sai catando os amigos, entre eles o Marcos Rodrigo Costela e a Verônica Irwin, que se tornaria minha esposa, que estava lá só para assistir a prova e acabou me ajudando a aquecer os cavalos. Fui entrando um a um pela ordem de entrada, cada um aconteceu algo, erros e acertos, e no último cavalo que entrei, Papinto do 38, ganhei o Potro do Futuro aberta nível 2. Foi o céu! Chegar naquele palco e ainda trazer uma fivela de campeão, foi demais, foi uma experiência inominável, ainda mais por ser a primeira e tudo que aconteceu. Esse foi o início da minha carreira. Depois desse evento, muitas pessoas passaram a olhar diferente, com a certeza que eu teria condições de ser um bom treinador e ter futuro.

 

PC: Cavalo que mais te marcou?

RN: Um deles, sem dúvida, Other Daimond, que marquei 221 com ele. Um cavalo Paint, filho do Like a Daimond, do Diego Martinez, um cliente do Uruguai. Com esse cavalo dei minhas primeiras esbarradas bonitas, spins fortes. E foi um cavalo que se eu tivesse mais experiência em pista, poderia ter ganho mais coisas. Ele foi reservado potro do futuro da AGCR, fiz um terceiro no Super Stakes quando marquei o 221, em 2012, uma das primeiras provas. Ele era muito bom, e tudo ainda era coração, não tinha técnica e conhecimento, era na base da coragem.

Wimpy Chex Whiz. Foto: Adilson Silva

Outro cavalo recente, sem duvida, o melhor que já montei na minha vida, Wimpy Chex Whiz. Um cavalo extraordinário nas manobras, nos movimentos, de muita alegria, atitude no trabalhar, ate além do meu conhecimento. Tive oportunidade de ganhar provas grandes, já ganhei muita coisa com ele, até um carro. Sempre senti que poderia ter tirado mais um pouco, pela habilidade que ele tem. Sempre vai ficar na minha memoria, por ter me deixado alegre, me tirado o sono, com muitas histórias pra contar.


PC: Melhor prova da vida?

RN: Sem dúvida, foi o esse Potro do Futuro de 2017. Eu acho que eu nunca estive tão pronto e tão preparado com um animal como agora. Tudo estava perfeito para eu classificar e disputar a final, e foi o que aconteceu. A égua, My Gunner Tinseltown, estava no ponto. Na final, o início da prova foi excelente, tudo vinha desenvolvendo bem até fazer o segundo círculo, quando, infelizmente, soltou a liga do pé e os juízes me mandaram parar. Nesse momento, vieram muitas coisas na minha cabeça, muitos sentimentos juntos, alguns não muito bons, que é até difícil expressar em palavras. Ao mesmo tempo felicidade de poder ter mostrado que a égua é muito boa e que eu estou pronto para quando chegar meu momento, e que vai acontecer. Tenho uma equipe maravilhosa, clientes que são parceiros e torcem por mim e me proporcionam montar animais fantásticos. Então é só uma questão de tempo pra conseguir esse título máximo, que todos almejam, que é o Potro do Futuro. Não é uma prova fácil, mas é a prova que mais me motiva a treinar e a seguir.

 

PC: Porque Rédeas?

RN: Acho que a Rédeas me encanta pelo controle máximo do cavalo. Já experimentei outras modalidades, inclusive em momentos frustrantes na minha carreira na Rédeas eu pensei em trocar. Mas por ser difícil é que tem um grande desafio, é o que me atrai. É a base para outras modalidades, tenho contato com Laço Comprido e Freio de Ouro também, e a Rédeas é a base de tudo, sem ela tu não consegue fazer um cavalo e isso que me atrai.

 

PC: Tem algum ídolo na Rédeas?

RN: Sim, é a lenda viva do esporte, Gilson Diniz. Ele é meu professor, é uma pessoa incrível. Como pessoa, competidor, treinador, como pai, marido, avô. Tenho que me espelhar e seguir os exemplos dele e quem sabe conquistar um dia tudo que ele conquistou. É admirável o que ele fez nesse ultimo potro do futuro. Ele é um exemplo!

Por Luciana Omena

Foto Destaque: Rodrigo e Papapinto do 38/ Foto: Adilson Silva

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