Com uma trajetória incrível que começou ainda criança no Maranhão, Marlon Zanotelli venceu disputa individual na sexta
Com Marlon Zanotelli, 31 anos, montando Sirene de la Motte, impecável do início ao fim, o Brasil faturou o primeiro ouro individual na modalidade Salto na história dos Jogos Pan-americanos. A final aconteceu na sexta, 9 de agosto, em Lima, no Peru.
A medalha se soma ao hexacampeonato por equipes e a vaga olímpica conquistada ao lado de Pedro Veniss com Quabri de L Isle, Rodrigo Lambre e Chacciama, Eduardo Menezes com H5 Chaganus, liderados pelo técnico suíço Philippe Guerdat e chefe de equipe Pedro Paulo Lacerda.
Foram 32 os conjuntos habilitados para a grande final disputada sob dois percursos, a 1.60 metro, no Club Hípico Militar, sede do hipismo nos Jogos, com armação do brasileiro Guilherme Jorge. Após a primeira passagem, quatro conjuntos viraram sem faltas, entre eles Marlon, e nove com um derrube, incluindo Pedro.
No segundo e decisivo percurso, Marlon com sua Sirene foi o primeiro dos conjuntos zerados a entrar em pista na corrida pelo pódio. Com mais um percurso impecável viria a ser o único a garantir dois percursos sem faltas. O maranhanense, que há 11 anos mora na Europa, conquistou uma façanha para o Time Brasil.
O argentino José Maria Larocca com Finn Lente foi vice fechando com apenas 1 ponto perdido na segunda volta. Outros quatro conjuntos habilitaram-se para o desempate pelo bronze, três saltaram e ao final valeu a experiência da top norte-americana Elizabeth Madden, campeã olímpica e mundial por equipes, montando Breitling LS que zerou em 42s47.
O brasileiro Pedro com seu Quabri de L Isle zerou a segunda volta, mas perdeu um ponto por excesso, fechando com 5 pontos perdidos em sétimo lugar. “Foi uma semana incrível: a equipe toda está de parabéns, não tenho palavras para explicar o que aconteceu aqui. É o resultado de um trabalho que vem de longe”, contou Marlon emocionado.
Para ele, “a união da equipe brasileira, tratadores, treinador, chefe equipe, minha família e time na Bélgica, minha esposa Angelica Augustsson, unidos com foco único. Agradeço também ao Arnaud Dessain, proprietário da minha égua Sirene de la Motte, por toda a confiança”, destacou ao lado do pai Mario, também bastante emocionado.
Filho mais velho de quatro irmãos, Marlon Zanotelli traz no sangue a paixão por cavalos. A tradição começou com o avô, militar que montava na cavalaria do Rio Grande do Sul, e se perpetuou com o pai, que aprendeu a montar no Regimento, foi cavaleiro de CCE e que acabou se tornando instrutor e dirigente de uma escola de equitação em São Luiz, capital maranhense. Foi onde Marlon começou a montar aos cinco anos. Moraram no Rio de Janeiro e depois em Fortaleza.
Aos 12 anos, o garoto já tinha decidido que queria ser cavaleiro profissional. De início o pai não concordou. O garoto não desistiu onde o pai Mário resolveu investir no sonho do filho. Vendeu a casa, comprou um caminhãozinho e foi desbravar o Brasil em busca de competições. Na boléia, os pais e o tratador do cavalo. Foram milhares de quilômetros percorridos, e a cada competição começou a se moldar um cavaleiro que aliava talento natural dedicado aos treinos, esforçado e muito disciplinado.
“Seguindo o conselho do meu pai terminei o segundo grau, estudei inglês, só ai fui para Europa. Acabei me formando em marketing em curso online”, lembra Marlon. Aos 20 anos, foi estagiar na Bélgica com o cavaleiro olímpico Ludo Philippaerts. Foram dois anos de aprendizado, incluindo acompanhar de perto seus ídolos no esporte como Rodrigo Pessoa, Doda Miranda e Pedro Veniss.
Lá ficou e passou a trabalhar na Ashford Farm, centro de treinamento do empresário irlandês Enda Caroll, na Bélgica. Trabalhava e competia no circuito europeu nos mais importantes concursos internacionais. Na Ashford Farm, Marlon não apenas evoluiu como cavaleiro, mas também foi onde conheceu Angelica Augustsson, amazona sueca com quem casou em 2015. Hoje, os dois têm um centro de treinamento próprio, o Augustsson Zanotelli, em Bree, Bélgica.
“É preciso acreditar e trabalhar para conquistar”, pondera Marlon, que se cerca de uma equipe multidisciplinar que inclui uma psicóloga do esporte suíça, ajudando a fortalecer a mente para as intensas competições. Sem falar o destaque para a participação do pai na carreira. “Desde moleque sempre treinei com meu pai, ele me ajuda bastante junto com minha esposa que compete em alto nível. Mas sempre que tenho algum problema quem resolve é esse cara (meu pai).”
Com as medalhas que ganhou nesse Pan, o Brasil agora soma 15 no total em histórico na competição de hipismo: Seis vezes campeão por equipes (1967, 1991, 1995, 1999, 2007, 2019); duas pratas (1959 e 2011); um bronze (2003); um ouro individual (2019); duas pratas (1967 e 2007); e três bronzes: (1991, 1999, 2011).
Medalhas que também ajudaram o quadro geral de medalhas do país, que terminou em segundo lugar, atrás dos Estados Unidos, fato que não acontecia desde 1963. Foram 55 ouros, 45 pratas e 71 bronzes, recorda do Brasil de subidas ao pódio nessa competição!
Colaboração: Assessoria de Imprensa CBH
Fotos: Luis Ruas/CBH