O treinador ressalta que o cavalo, para ser um campeão, tem que ser bem treinado, bem alimentado, e usar com bons equipamentos!
Íris de Lima está no meio equestre há 30 anos, iniciou no Laço Individual, passou para Laço em Dupla, Três Tambores e em 2006 conheceu o Team Penning, modalidade a qual o tornou um profissional do cavalo. Sempre muito determinado em tudo o que faz, estuda passo a passo numa competição com olhos de águia.
“Quando escolho uma coisa para fazer tenho que fazer bem feito, quando laçava Bezerro acordava às cinco da manhã para apeia bezerro na mangueira e a tarde treinava. Depois fui para o Team Roping e ganhei um carro e 32 motos na época, só que estava ficando muito longe de casa e não estava vendo minhas filhas, Danniely e Luly crescerem. Foi quando fui para os Três Tambores para elas participarem comigo do cavalo, uma tinha seis anos e há outra cinco anos quando começaram na modalidade. Eu me dedico naquilo que eu faço, tinha animal bom, as meninas estavam ganhando tudo, eu fiz os meus cavalos. Correndo Tambor eu vi o Team Penning. Foi quando decidi que essa modalidade que eu iria fazer e participar diretamente com as minhas filhas em pista”, conta o treinador.
Como Íris não conhecia profundamente a modalidade foi atrás de onde estavam os melhores competidores na época, e observando as passadas e a prova foi pegando o jeito. Chegava em casa, treinava , treinava e foi adquirindo experiência, e buscando um diferencial de tudo que o observava e aprendia.
“Em qualquer modalidade, profissão, se você quer ter sucesso, você tem que ser diferente, e foi procurei fazer, estudando a competição, regras, a todo o momento”, expõe Lima.
Tanto que Íris de Lima se tornou um dos melhores competidores e treinadores da modalidade, ministrando em média 20 cursos por ano, além de ter um extenso currículo de vitórias, em especial na sela de sua égua favorita Dalia Rain VP, com qual conquistou mais de R$ 500 mil em prêmios, motos e carros.
E o seu diferencial de inicio foi percebido por todos, sendo que no primeiro ano competindo Team Penning, ficou em 2º lugar em Barretos.
Doma
Íris nas suas experiências em diversas modalidades acabou achando um diferencial na doma de seus animais de Team Penning. “Nos Três Tambores eu tinha que ter um cavalo bem alinhado, bem quebrado, e tinha facilidade de colocar um cavalo na mão para as minhas filhas competirem e para mim. Eu levei a doma dos Três Tambores para o Team Penning foi onde me sobressai dos outros”, fala o treinador.
E ele explica qual é essa diferença na doma. “Trouxe doma dos Três Tambores para o Team Penning, porque a hora que um cavalo vai cercar um boi, ele se dobra todo no meio, então ele vira indo com o boi, ele não vira reto, se ele fizer isso perde o boi. Ele virando junto você ganha do boi e não ele de você.”
Assim Lima detalha que “‘quebrando’ o cavalo no Tambor, ele fica apoiado no posterior, e de acordo com lado que está, e a frente tem que estar em movimento, dobrando o corpo, e isso faz com que o cavalo tenha mais habilidade na hora de tirar o boi. Na prova o cavalo tem o pé de baixo de apoio, dando o fucinho já no boi, esse passo faço no Tambor. Tenho que preparar o meu cavalo para todas as situações, apoia o pé de dentro para virar e dobrar o corpo e vice e versa.”
Fora isso Íris tinha que ter um cavalo muito ligado no boi. E como ele faz isso?
Ligando cavalo no boi
O primeiro passo para iniciar o treinamento do animal no Team Penning é ensiná-lo a prestar atenção no boi, ou como dizem, ligar o cavalo no boi. Para Íris esse é um dos principais pontos para ter um potro bem iniciado na modalidade.
“Eu pego coloco o cavalo na pista com apenas um boi, e todo o movimento dele eu quero que o meu cavalo faça. E que faça olhando no boi e não prestando atenção em mim. Tem que ensinar o potro ou cavalo antecipar o movimento do boi, ele tem que ligar no boi, ou seja, tem que estar concentrado, o que me indica isso é quando as orelhas do cavalo estão voltadas para frente prestando atenção no boi,” explica Íris.
Esse trabalho é feito até que o animal realmente esteja prestando a atenção no boi e consiga se desligar do competidor. Segundo o treinador às vezes em 15 minutos consegue esse feito, mas às vezes leva horas até conseguir, “quando realmente o cavalo liga no boi, agrado e solto, pois já cumpriu o que se queria dele.”
“Sempre que eu consigo o que eu quero do meu animal, paro, agrado ele, quando o cavalo respira fundo, ele relaxa e isso é sinal que está liberando-o, mostrando que ele fez certo, assim ele terá prazer em fazer o que se pede,” detalha.
Íris salienta a importância de se ter um cavalo ligado ao boi. “Você está correndo atrás de um boi. Se você tem um cavalo que a hora que o boi troca de mão para sair para um lado para ganhar de você, o cavalo antes de você pensar em puxá-lo já foi para cima do boi, irá ter muito mais facilidade para cercar o boi, do que se você tiver um cavalo que é ótimo de rédeas, mas não tem aptidão para fazer sozinho. É isso que chamo de ligar o cavalo no boi.”
Zerinho
Este é outro exercício muito usado pelo treinador, que é uma disputa entre o cavalo e o boi, formando um círculo, virando para os dois lados, o movimento que o boi faz o cavalo tem que fazer também. Isso estimula o cavalo, ou seja, quando o boi sai o cavalo se antecipa e ganha antes do boi.
Curral
“Entra correndo no corredor, não pode avançar, o cavalo tem que ir matando a velocidade sozinho. Esbarrar, afastar e depois entrar no curral. Na ponta da asa tem que entrar pertinho , junto ao curral. Tem que repetir esse movimento no treinamento até o cavalo aprender a fazer sozinho, ir com velocidade, diminuir, esbarrar e entrar no curral. O cavalo tem que estar preparado para esperar o boi e fazer todo esse processo sozinho, se eu esbarrar antes, ele vai perder a velocidade e pode perder a prova.
Competidor
A partir daqui Íris de Lima começa a falar de como o competidor tem que se posicionar numa prova e como tem que ser feito na competição, após ter um animal bem treinado.
“O competidor tem que estar o tempo inteiro equilibrado em cima do cavalo para não atrapalhá-lo. Porque os cavalos que são bem treinados, são moles de costela, de nuca, de garupa, se você apoiar seu equilíbrio de espora na costela dele, você vai atrapalhar ele, pois vai desligar do boi e seguir seus comandos. Então, o competidor tem que estar equilibrado em cima dele, porque o cavalo tem que prestar atenção no boi, fazer o trabalho dele”, explica Lima.
O treinador continuar explicando como tem que se comportar para que o animal faça o trabalho dele em pista. “O cavalo tem fazer o trabalho dele de prestar atenção no boi, mas ao mesmo tempo está sobre os seus comandos. Porque se você quiser largar aquele boi e pegar outro, se você começar equilibrar colocando espora nele ou na polpa, ele vai entender que você está dando comando para ele. Procuro frisar que o cavalo a todo o momento está te testando e o que você ensinar ele vai aprender e está condicionado a fazer aquilo. Se você pegar um cavalo ensinar para ele o que quer com paciência, ele vai apender e não esquece nunca mais.”
Entrada dos competidores no boi
A pergunta para o treinador foi: qual a melhor maneira do competidor entrar no boi? E ela rendeu várias explicações e boas dicas aos competidores.
“A maneira do competidor entrar no boi é relativa, depende de vários fatores: da boiada, tamanho da pista, número de bois. Mas vou te dar um parâmetro básico, eu costumo dizer que para você ganhar uma prova, você tem que chegar no evento ganhando dos outros.”
Mas e como faz isso? “Analisando regras, total de boiada, tamanho da pista, vendo como a boiada vai trabalhar sentido ao curral dando estouro, se é mais lenta, mais velha, mais xucra. Essa analise você tem que ter antes de entrar em pista. E ao mesmo tempo saber com quem vai correr.”
Na competição
No Team Penning o trio forma três posições de entrada diferentes no boi, cada competidor assume uma posição, como explica Íris de Lima.
Posição 01
“Para você trabalhar na posição 01, que é a do lado do curral, tem que chegar no gado rápido, porém quando estiver chegando tem que ter calma , porque o gado passa você vai lendo até achar seu boi, pega ele e leva em sentido ao curral, dá uma olhadinha e vê se acha o outro boi para o parceiro, porque é uma equipe, não adianta levar seu boi e largar seu parceiro.”
Posição 03
“Se você está trabalhando na posição 03, tem que chegar rápido, dar uma paradinha, cercar o seu boi sentido ao curral, ao contrario da 01, porque muitas vezes você vai pegar ele correndo contra o curral e tem que levar sentido ao curral.”
Posição 02 ou meio
“O meio, a posição 02, tem que prestar muita atenção nos ponteiros, porque às vezes o 1 te chama, o 3 te chama. E quando o da 3 acha o boi o meieiro tem que dar uma adiantada, porque o boi tem que cortar por trás do seu cavalo. Se o boi passar na frente, atrapalha a leitura aí fica muito difícil.”
Dinâmica
“Porque os ponteiros tem que chegar rápido, fazendo a leitura do boi e tocar em sentido do curral? Para deixar menos espaço para o meieiro procurar o boi dele. A posição 1 e a 2 trabalha no corredor, o caminho mais curto sempre é o corredor. No Team Penning o boi da 3 você já bate e leva para o corredor que é o caminho mais curto, sem contar que os bois estando no corredor eles já estão fechados, é meio caminho andado. O 2 vai na ponta da asa ( que seria a porteira do curral) e o outro vai pelo corredor para tocar. Aí é o trabalho em equipe, a passada perfeita é que os três chegam juntos. Mas essa chegada pode mudar de acordo com que cada um acha seu boi. ”
Ao fechar os bois no curral a dica é que entrem o trio, para evitar algum boi sair.
Estouro da boiada
É relativo porque tem boiada que dá estouro, tem boiada que não. Por exemplo, se for classificar 10 trios, eles já estão com tempo baixo, porque você vai ficar cercando a boiada perdendo tempo. Se você fizer um tempo alto ou levar um SAT não vai fazer diferença. Então muita gente arrisca a dar um estouro de boiada, para tentar fazer um tempo mais baixo, então é relativo.
Você tem que estudar a prova, o momento dela, para trabalhar conforme a prova está sendo levada. Não só levar o boi que ganha prova. Se ganha prova também estudando a situação da competição.
Linhagem cavalo
Não tem um cavalo hoje específico para o Team penning, nós temos com linhagem de Apartação, Rédeas. O laço e o team penning não tem um cavalo que foi feito para aquilo.
Porque nós precisamos de velocidade e de habilidade, acredito na apartação precisa de muita habilidade, mas não de velocidade. Na Rédeas tem que ter habilidade e um pouco de velocidade , nos Três Tambores mais velocidade do que habilidade. E o laço e o Team penning se você não tiver habilidade que é dos cavalos de apartação e tiver velocidade, você não terá sucesso, o boi vai ganhar de você, onde o Quarto de Milha sobressaiu do Crioulo, por causa da velocidade.
Dicas
“Nunca pense que alguém é seu adversário, dentro e fora da pista é todo mundo amigo, o único adversário é o cronometro. Se você começar querer ganhar de alguém ou torcer para alguém perder. Aquele momento, você mesmo está colocando pressão em você!”
Outro fato importante que o treinador ressalta é que o conjunto tem que chegar preparado na prova. “Tenho na prova preparado para ganhar, ou seja, com animal bem treinado bem alimentado, bem protegido com equipamentos adequados: cloche, caneleira, sela boa, nisso tudo o cavalo tem que estar bem flexionado , obediente ao boi e saber o que está fazendo, aliando tudo isso ao estudo da competição, ou seja, como está a boiada, o tamanho da pista .”
Texto e Fotos: Verônica Formigoni